quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 09.02.2020


A LUZ DAS BOAS OBRAS

Os seres humanos tendemos a aparecer diante dos outros como mais inteligentes, melhores, mais nobres do que realmente somos. Passamos a vida a tentar aparentar diante dos outros e diante de nós mesmos uma perfeição que não possuímos.
Os psicólogos dizem que essa tendência se deve, sobretudo, ao desejo de afirmar-nos perante nós mesmos e os outros, para assim defendermo-nos da sua possível superioridade.
Falta-nos a verdade das «boas obras», e enchemos a nossa vida de conversa e de todo o tipo de divagações. Não somos capazes de dar ao filho um exemplo de vida digna, e passamos os dias exigindo o que nós não vivemos.
Não somos coerentes com nossa fé cristã, e tentamos justificar-nos criticando aqueles que abandonaram a prática religiosa. Não somos testemunhas do evangelho, e queremos pregá-lo a outros.
Talvez tenhamos que começar por reconhecer pacientemente as nossas incoerências, para apresentar aos outros apenas a verdade de nossa vida. Se tivermos a coragem de aceitar a nossa mediocridade, iremos abrir-nos mais facilmente à ação desse Deus que ainda pode transformar a nossa vida.
Jesus fala do perigo de que «o sal se torne insonso». São João da Cruz diz de outra maneira: «Deus nos livre que se comece a envaidecer o sal, que, embora pareça que faz algo por fora, em substância nada será, quando é verdade que as boas obras não podem ser feitas senão por virtude de Deus».
Para ser «sal da terra», o importante não é o ativismo, a agitação, o protagonismo superficial, mas "as boas obras" que nascem do amor e da ação do Espírito em nós.
Com que atenção deveríamos escutar hoje na Igreja estas palavras de São João da Cruz: «Advirtam, pois, aqui os que são muito ativos e pensam rodear o mundo com as suas pregações e obras exteriores, que muito mais proveito teriam à Igreja e muito mais agradariam a Deus se passassem metade desse tempo em estar com Deus em oração».
Caso contrário, de acordo com o místico doutor, «tudo é martelar e fazer pouco mais que nada, e às vezes nada, e às vezes até prejudicar».
No meio de tanta atividade e agitação, onde estão as nossas boas obras? Jesus dizia aos Seus discípulos: «Ilumine a vossa luz os homens, para que vejam as vossas boas obras e deem glória ao Pai».
José Antônio Pagola
(Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez)

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