Um discípulo inquieto, um
homem a caminho.

Sei que,
por causa do grande apreço que tenho por ele, corro estes e outros riscos ao
fazer memória do Pe. Rodolpho Ceolin msf. E admito até que o muito que tenho
escrito e recordado sobre ele possa revelar uma certa fixação, ou uma relação
imatura, infantil. Mas não sei o que seria mais desumanizador: a idealização, a
projeção e a dependência ou a indiferença, a frieza e o simples esquecimento.
Já tive a
oportunidade de sublinhar que as conhecidas manifestações de nervosismo, de intolerância,
de desânimo e até de raiva do Pe. Rodolpho chamavam a atenção porque rompiam
com seu modo normal, característico e predominante de ser, que era a bondade, a
serenidade e a generosidade. E ele mesmo não escondia o desconforto que
experimentava quando perdia o controle e machucava as pessoas.
Neste
momento em que completamos um ano da sua partida – ele tinha 83 anos bem
vividos mas partiu cedo demais! – quero prestar uma homenagem à sua vigorosa e
atribulada biografia destacando duas
características do seu modo de ser: ele conseguiu conjugar de um modo muito
interessante humildade com iniciativa, e também auto-implicação com engajamento
social.
As
pessoas humildes são propensas à passividade, até porque a humildade pode vir
frequentemente associada à baixa auto-estima e à timidez. O fato de ter ocupado
diversas e duradouras responsabilidades à frente da Província não roubaram ao
Pe. Ceolin seu jeitão simples e amigo. E esta simplicidade, mais que convidar à
acomodação, funcionava como estímulo à criatividade e iniciativas em vista de
melhorar o ambiente, a comunidade, a Igreja, a sociedade. Esta capacidade de inciativa
era nele tão forte que chegava a parecer inquietação...
A
humildade se dá muito bem com a introspecção e o apreço pelo cultivo interior,
com a auto-implicação nos processos de reflexão e de mudança. Mas não é muito
comum que a implicação do próprio ser vá de mãos dadas com o engajamento
intrépido nos processos de transformação social. E nisso o Pe. Ceolin também
demonstrou uma certa originalidade. Ele é lembrado por todos como uma pessoa
que sempre puxava as reflexões e debates para a dimensão pessoal, mas ninguém
esquece também sua forte e profética ênfase na dimensão social da fé.
O Pe. Ceolin
não foi um santo – ao menos um santo segundo o modelo mais difundido por certos
setores sociais e eclesiais – mas merece ser lembrado por aquilo que foi: um
homem sempre a caminho, um discípulo visceralmente inquieto, uma pessoa que
buscou incansavelmente a integridade e a serenidade. Louvado seja Deus por ter
nos dado este presente!
Itacir Brassiani msf