quarta-feira, 3 de setembro de 2014

23° DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO A - 07.09.2014)

Faze-nos discípulos missionários que vivam tua Palavra!

Não se diz com todas as letras, mas o sentimento generalizado é que o ‘outro’ é o nosso inferno. Hoje, o ideal parece ser viver, sofrer e vencer sozinho, sem ninguém por perto para perturbar, ou dividir o prêmio. A experiência do inferno parece não estar ligada à consciência de ter errado mas ao terror de ser corrigido. É proibido importar-se com a vida do ‘outro’, pois isso pode trazer incômodos. Cada um decide e age com absoluta autonomia, e ninguém pode contestar sua decisão e sua ação. O inferno parace abrir suas portas somente quando alguém questiona nosso comportamento, atitude ou ação.
Depois de ter dito que o caminho que nos leva ao Reino de Deus é a acolhida aos pequenos e a atitude de criança; que é preciso evitar comportar-se como pedras no caminho dos pequenos; que Deus age como um pastor que, movido pelo amor pastoral, deixa em segundo lugar as noventa e nove ovelhas que estão protegidas e sai à procura daquela que está em siatuação de risco, no evangelho deste domingo Jesus oferece à comunidade dos discípulos uma proposta para enfrentar os erros e defecções internas. “Se o teu irmão pecar, vá e mostre o erro dele...”
Estamos lembrados do que Jesus disse a Pedro: “O que você ligar na terra será ligado no céu...” Sabemos que este ministério é extensivo a todos aqueles que o reconhecem como Messias e seguem seus passos. Trata-se de continuar sua missão de recriar os laços, de aproximar as pessoas entre si e de Deus, de criar e fortalecer alianças, de renovar a face da terra na força do seu Espírito. Por isso, o objetivo da correção não é punir quem erra ou construir a fama de quem denuncia, mas a conversão e a reconciliação das pessoas e dos grupos sociais que experimentam tensões e divisões.
O que Jesus nos propõe não é um procedimento jurídico mas uma pedagogia, um caminho. E o primeiro passo desse caminho é tomar a iniciativa de procurar discretamente aquele que nos atingiu ou prejudicou, fazendo isso com a atitude do pastor que vai ao encontro da ovelha que se perdeu e, quando a encontra, se alegra mais com ela que com as noventa e nove que não cometeram nenhum erro (cf. Mt 16,12-14). “Se ele lhe der ouvidos, você terá ganho seu irmão.” Mas quando essa iniciativa não é bem sucedida, não há razão para desistir. Jesus propõe um segundo passo...
O segundo passo é voltar ao irmão que pecou com uma ou duas pessoas que ajudarão a convencê-lo do erro e servirão de testemunhas. Se, mesmo assim, ele não aceitar este segundo passo da correção fraterna, há uma terceira possibilidade: comunicar à comunidade eclesial, pois ela recebeu a responsabilidade ligar e desligar (cf. Mt 16,13-20). Se a ruptura se mantiver, há um último recurso: “Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou um cobrador de impostos.” E isso não quer dizer lavar as mãos e, muito menos ainda, discriminar ou condenar!
Para os discípulos de Jesus Cristo, pagãos e pecadores são terreno de missão, e tanto a conversão como o perdão supõem um dinamismo ou uma base de sustentação. E este dinamismo se chama oração. A conversão – a nossa e a dos outros! – deve ser cultivada no coração e buscada na oração. Acima de qualquer poder de ligar e desligar, ou de qualquer vontade de punir aqueles que erram, deve estar sempre o desejo concórdia, o amor fraterno. Nada está acima disso: nem a doutrina das Igrejas, nem seus interesses. “Quem ama o próximo cumpriu plenamente a lei”, diz São Paulo.
Sabemos por experiência que algumas mudanças, aquelas que tocam a vida mais profundamente, são muito exigentes e demoradas. Mas não são impossíveis. Por isso, Jesus conclui sua proposta pedagógica de correção fraterna sublinhando a importância da convergência de interesses e projetos na oração. “Se dois de vocês na terra estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está no céu.” Daí a necessidade de percorrer todos os passos indicados. Uma comunidade baseada na concórdia descobre sua força de reconciliação.
Deus pai e mãe, tu inclinas o ouvido para ouvir nossos clamores e orientar nossos passos. Somos membros do teu povo, ovelhas do teu rebanho. Tua Palavra é luz que dá cor às nossas buscas e lâmpada no nosso caminhar. Por ela tu nos confias o dinamismo da reconciliação e nos ensinas que o amor à nossa ‘pátria amada’ não pode ser colocado acima da sede de justiça e da concórdia, que estão acima das fronteiras nacionais e políticas. Abre nossos ouvidos a esta Palavra e faz da tua Igreja uma comunidade completamente empenhada na reconciliação da humanidade tão dividida. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Profeta Ezequiel 33,7-9 * Salmo 94 (95) * Carta aos Romanos 13,8-10 * Mateus 18,15-20)

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