terça-feira, 2 de setembro de 2014

Reflexões do Pe. Ceolin

Pilares para uma sólida espiritualidade cristã

Os fundamentos ou pilares para a construção de uma sólida espiritualidade cristã me parecem ser cinco: humildade, verdade, perdão, perseverança, liberdade, experiência de amor e missão. Vejamos brevemente cada uma delas.
Humildade (simplicidade, docilidade)
Os bem-aventurados são aqueles que têm um coração de pobre! “Se não se converterem e não se tornarem como as crianças, não entrarão no Reino dos céus” (Mt 18,3). “Aquele que entre todos vocês for o menor, será grande” (Lc 9,46). “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). “José, não temas receber Maria como esposa...” E José fez como o anjo mandara (cf. Mt 1,20).
E aqui poderíamos recordar ainda a humildade de Jesus, celebrada por Paulo no hino da carta aos Filipenses (2,1-11), assim como sua oração densa no Getsêmani: “Faça-se a tua vontade, e não a minha...” E também a verdadeira sabedoria, descrita por São Tiago (cf. Tg 3,13-18). “Escutem o Espírito Santo... Não endureçam o coração como no deserto...” (Hb 3,7-11).
Verdade (sabedoria, autenticidade)
João nos convida a viver na verdade (cf. 3Jo 3-8). “Eu sou a verdade! Quem me segue não anda nas trevas”, diz Jesus (Jo 8,12). “O Espírito da verdade... ensinará a vocês todas as coisas e lembrará a vocês tudo o que eu lhes tenho dito” (Jo 14,17.26). é nele que encontraremos respostas para as perguntas mais importantes: Quem sou eu? Quais são os valores essenciais e o sentido da vida? Qual o caminho que eu devo seguir?
“Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1,18). “A verdade vos libertará!” (Jo 8,32). “Ninguém vos engane!...” (1Jo 3,7; 4,1-3). “Se dizemos que estamos em comunhão com Deus, e no entanto andamos nas trevas, somos mentirosos e não praticamos a verdade... Se dizemos que não temos pecado, nos enganamos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1Jo 1,6.8).
Liberdade (adesão pessoal, não coagida)
“Se queres ser perfeito..., venda tudo o que você tem, distribua aos pobres..., depois venha e me siga” (Lc 18,22). “Quem vem a mim e não deixa em segundo plano seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). “É para a liberdade que Cristo nos libertou!.. Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade!” (Gl 5,1.13), para a vida segundo o Espírito (cf. Gl 6,7-10; Rm 8,1-17; Rm 12,1-2).
Nós somos livres em Cristo (cf. Col 2,16-23; 3,1-4). Fomos libertados para uma vida nova (1Pe 1,13-2,20). E no amor não há temor. A aliança é de amor, nasce dele, mas é livre, sem coação nem ameaças; aderimos por livre e espontânea vontade.
O seguimento de Jesus, o discipulado, é sempre uma opção livre. Abraçamos a vida fraterna e comunitária, o amor fraterno, abraçamos a missão, o projeto de Jesus, sempre por opção pessoal e livre. Deus nos quer filhos, e não escravos! Jesus nos quer amigos, e não uma espécie de soldadinhos! “Vocês são meus amigos!... Eu escolhi vocês!...” (Jo 15,16).
Perdão (reconciliação, misericórdia)
Jesus nos lembra que o perdão é um dinamismo que gera amor (cf. Lc 7,36-49). “Não sejam daqueles que agem baseados no olho por olho e dente por dente; ao contrário...” (cf. Mt 5,38-48). “Portanto, rezem assim...: perdoa-nos as nossas dívidas, como nós perdoamos aos que nos devem... Se vocês perdoarem as faltas das pessoas, também seu Pai celeste perdoará vocês” (Mt 6,12). “Na cruz, Cristo matou o ódio...” (Ef 2,16). “Afastem de vocês toda amargura, ira, cólera, gritaria, difamações e todo tipo de maldade. Sejam bons e misericordiosos uns com os outros, como também Deus perdoou vocês em Cristo” (Ef 4,31-32).
Ressentimentos, ciúmes e invejas endurecem o coração, obnubilam a mente, obstaculizam a ação de Deus, dificultam tremendamente a abertura ao amor de Deus e ao amor dos irmãos.
Persistência (paciência, perseverança, esperança)
Estejam firmes, cingidos com o cinturão da verdade, a couraça da justiça, os pés calçados com o zêlo, mantendo na mão o escudo da fé, para propagar o Evangelho da paz! (cf. Ef 6,14-20). “Combati o bom combate!... Guardei (vivi) a fé...” (2Tm 4,6-8). “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fil 4,13). “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6).
“Confiem a Deus toda a sua preocupação, pois é ele quem cuida de vocês... Depois de vocês terem sofrido um pouco, o Deus de toda graça, que por Cristo os chamou à sua glória eterna, ele os reestabelecerá, firmará, fortalecerá e tornará vocês inabaláveis” (Tg 5,7-11).
“Corramos com perseverança a corrida que nos espera, com os olhos fixos em Jesus, que iniciou e realizou a fé. Jesus, em vez da alegria que lhe foi proposta, sofreu a cruz, desprezou a humilhação, e sentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12,1-2). “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus” (Lc 9,62).
Seguindo a orientação de Jesus, devemos pedir e pedir, sem cansar (cf. Lc 11,5-13). E temos também o exemplo da viúva frente ao juiz indiferente... (cf. Lc 18,1-8)
Experiência do amor de Deus em Jesus
Trata-se da experiência pessoal do amor preferencial, da misericórdia  ou do amor de Deus em Jesus Cristo, um amor primeiro e gratuito. “O que existia desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e nossas mãos têm apalpado: a Palavra da Vida (porque a Vida foi manifestada, nós a temos visto, e estamos dando testemunho e anunciando a vocês a vida eterna, que estava junto do Pai e foi manifestada a nós); isso que temos visto e ouvido, estamos anunciando a vocês, para que vocês estejam em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com seu Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1,1-3).
“Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou seu filho único ao mundo, para podermos viver por meio dele. É nisto que está o amor: não é que nós tenhamos amado a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou seu Filho para expiação de nossos pecados” (1Jo 4,10).
Missão, fruto do amor e da amizade
“Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?... Sim, Senhor, tu sabes que sou teu amigo!... Alimente os meus cordeiros..., minhas ovelhas...” (Jo 21,15). Jesus não perguntou a Pedro se ele sabia falar grego ou latim, se sabia onde ficava Roma, se entendia de filosofia... Jesus perguntou se Pedro sabia amar como ele o amava! E, a partir disso, pediu: “Alimente os meus (não os teus) cordeiros...”
O amor de Deus é fundamentalmente misericórdia. É um amor que nos precede, a iniciativa é dele, ele é o Emmanuel. É um amor gratuito, pois nos ama sem considerar se merecemos ou não, sem impor condições, sem exigir retorno. É um amor que a tudo e a todos perdoa. É este amor que pede, fundamenta e dinamiza a nossa missão.
Pe. Rodolpho Ceolin msf

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