quinta-feira, 23 de outubro de 2014

30° DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO A – 26.10.2014)

O amor a Deus e ao próximo são duas faces da mesma moeda.

Quem não gosta de celebrações criativas, belas, envolventes? E quem não se encanta com a aventura de mergulhar cada vez mais profundamente no antigo e sempre novo, fascinante e terrível Mistério de Deus? Quem não se sente chamado irresistivelmente a amá-lo como é amado?... Mas essa experiência sedutora de um Deus que nos ama incondicionalmente não pode fazer-nos indeferentes à sorte dos nossos irmãos e irmãs. Jesus unifica o amor a Deus e o amor ao próximo.
No Evangelho de hoje, Mateus nos relata o esforço quase desesperado dos fariseus para fazer que Jesus tropece em algum ponto da correta doutrina do judaísmo. Eles já o haviam provocado com a questão dos impostos devidos ao império romano. Tinham notícia também de como Jesus havia enfrentado a armadilha preparada pelos saduceus, em torno da questão da ressurreição dos mortos. E agora voltam com uma questão de doutrina religiosa e de espiritualidade.
É claro que os fariseus não querem aprofundar seu conhecimento sobre Deus e seu Reino. O que eles procuram insistentemente é um motivo para rejeitar o ensino de Jesus e tirá-lo de circulação. E quando perguntam qual é o maior mandamento da lei querem dar a entender que os mandamentos são muitos, e a definição do mais importante é uma operação teológica complicada e arriscada. Os mandamentos seriam vários e não teriam um eixo que os move e em torno do qual giram.
Jesus não se intmida, e responde à pergunta provocadora com serenidade e clareza. “Ame o Senhor seu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com todo tua inteligência. Este é o primeiro e grande mandamento.” Com isso parece que Jesus se conforma à expectativa de todos seus interlocutores e opositores, não deixando margem para qualquer crítica ou desconfiança. Mas, mais que uma resposta estratégica, esta é uma afirmação que vai ao centro da questão religiosa.
Trata-se de amar a Deus, mas não de qualquer maneira. Jesus não propõe um amor sentimental ou voluntarista. Ele sublinha um amor lúcido, racionalmente orientado (com toda tua mente); um amor encarnado na vida e nos gestos cotidianos (com toda tua alma); e um amor decidido, sensível e humano (com todo teu coração). Este amor está a quilômetros de distância de um mero sentimento que se desfaz em lágrimas diante das catástrofes mas mergulha na indiferença diante da opressão.
O que Jesus nos propõe com este mandamento ‘primeiro e central’ é uma vida integralmente centrada em Deus e na sua vontade. E isso é mais que amar a Deus como um entre os muitos objetos ou sujeitos que podem realizar nossos desejos. Significa ter Deus e o seu Reino como a referência absolutamente central das nossas opções, práticas e projetos. Deus não pode ser simplesmente mais uma pedra na construção, mas a arquitetura que a define e o alicerce que a sustenta.
Mas Jesus não se detém na resposta aprovada pela ortodoxia e esperada pelos líderes religiosos. Ele surprende a todos dizendo que há um segundo mandamento, com o mesmo valor e inseparável do mandamento primeiro e central: “Ame o seu próximo como a si mesmo.” Esse mandamento era conhecido pelos fariseus e doutrores da lei, mas eles – como muitos de nós – jamais o colocariam no mesmo nível de importância do amor a Deus. Isso soaria como uma heresia horizontalista...
Para não deixar dúvidas, Jesus afirma lapidarmente que todas as escrituras se resumem e realizam nesses dois princípios. A vontade de Deus, aquela vontade que em cada oração do Pai-Nosso pedimos que seja realizada, se concretiza num amor terno, lúcido e firme dirigido ao mesmo tempo a Deus e aos nossos semelhantes, especialmente àqueles que se encontram socialmente e humanamente mais fragilizados. E é daqui que parte também toda profecia, missão hoje tão urgente quanto complexa.
Deus pai e mãe, amor que envia e sustenta missionários que dedicam a própria vida para recordar que o amor a ti e ao próximo vão sempre de mãos dadas: te agradecemos porque, em todos os tempos, suscitas pessoas que, reconciliadas e sustentadas por teu amor, dão o melhor de si mesmos para que teu nome seja engrandecido e os mais pobres possam viver dignamente. Que teu santo Espírito ajude a Igreja a recriar e anunciar teu Evangelho como boa notícia que aproxima e anima todos os seres humanos. E que ela não transforme este dom precioso em lei que obriga ou em doutrina que divide. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Livro do Êxodo 22,20.26 * Salmo 17 (18) * 1ª Carta aos Tessalonicenses 1,5-10 * Mateus 22,34-40)

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