São muitos os cristãos
que, profundamente arraigados numa situação de bem-estar, tendem a considerar o
cristianismo como uma religião que, invariavelmente, deve preocupar-se em
manter a lei e a ordem estabelecida.
Por isso, parece tão
estranho escutar da boca de Jesus expressões que convidam, não ao imobilismo e ao
conservadorismo, mas à transformação profunda e radical da sociedade: «Vim deitar fogo ao mundo e oxalá estivesse já a arder… Pensais
que vim trazer ao mundo paz? Não, mas sim divisão».
Não nos parece normal
ver Jesus como alguém que traz um fogo destinado a destruir tanta mentira,
violência e injustiça. Um Espírito capaz de transformar o mundo, de forma
radical, mesmo à custa de enfrentar e dividir as pessoas.
O crente em Jesus não é
uma pessoa fatalista que se resigna ante a situação, procurando, por cima de
tudo, tranquilidade e falsa paz. Não é um imobilista que justifica a atual
ordem das coisas, sem trabalhar com ânimo criador e solidário por um mundo melhor.
Tampouco é um rebelde que, movido pelo ressentimento, deita abaixo tudo para
assumir ele mesmo o lugar daqueles que derrubou.
Quem de fato entendeu
Jesus, atua movido pela paixão e pela aspiração de colaborar numa mudança
total. O verdadeiro cristão leva a «revolução» no seu coração. Uma revolução
que não é «golpe de estado», mudança qualquer de governo, insurreição ou relevo
político, mas sim busca de uma sociedade mais justa.
Se ainda não conseguimos
dar de comer a todos os esfomeados, nem garantir os seus direitos a todas as
pessoas, nem sequer eliminar as guerras ou destruir as armas nucleares, a ordem
que, com frequência, defendemos, é todavia uma desordem.
Necessitamos de uma
revolução mais profunda que as revoluções econômicas. Uma revolução que
transforme as consciências dos homens e dos povos. Herbert Marcuse dizia, há 50
anos, que necessitamos de um mundo em que a competição, a luta dos indivíduos
uns contra os outros, o engano, a crueldade e o massacre já não tem razão de
ser.
Quem segue Jesus, vive
procurando ardentemente que o fogo acesso por Ele arda cada vez mais neste
mundo. Mas, antes de mais nada, exige-se a si mesmo uma transformação radical.
Emmanuel Mounier dizia que só se pede aos cristãos que sejam autênticos. Esta é
verdadeiramente a revolução.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez
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