quinta-feira, 11 de abril de 2019

ANO C | SEMANA SANTA | DOMINGO DOS RAMOS | 14.04.2019


Jesus não está acima de todos, mas a serviço da humanidade!
Com ramos e flores, faixas e bandeiras e cânticos reunimo-nos nas ruas e templos para aclamar nosso líder manso e humilde, nem mito, nem capitão. “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” Só alguém infinitamente grande é capaz de fazer-se tão pequeno e próximo. Na celebração que abre a Semana Santa somos convidados acompanhar Jesus no seu caminho de fidelidade, de oferta generosa de si mesmo e realização plena da vontade do Pai. Deus se recusa a dar uma esmola à humanidade: ele se dá inteiramente e sem reservas em Jesus de Nazaré e, no seu corpo e sangue, assina uma parceria com prazo indeterminado.
Para entender o relato da entrada de Jesus em Jerusalém precisamos abandonar todas as fantasias de poder e de sucesso que nos seduzem e cegam. Não há nada de triunfal. Jesus vem da Galileia e entra na capital do seu país, econômica e politicamente dominado por Roma, montado num jumento. Nada de cortejos de honra, nem de generais e cavalos vistosos ou de gestos de cortesia a grandes senhores. Como diz o hino de Paulo, Jesus chega a Jerusalém como sempre foi: um servidor, um simples homem, esvaziado de ambições e grandezas, radicalmente obediente às necessidades dos outros.
Depois de uma longa caminhada, o profeta galileu chega à capital do país caminhando à frente de um numeroso, entusiasmado e, às vezes, desconcertado grupo de seguidores e admiradores. O povo do campo e da zona periférica da capital o aclama como filho e herdeiro de Davi. “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!” Era um coro de pessoas que, como o velho Simeão, sabiam reconhecer num indignado e revolucionário Aquele que vem em nome de Deus para atualizar sua ação libertadora. Mas isso contrasta com a fria acolhida por parte do povo de Jerusalém e com o medo indisfarçável dos próprios discípulos.
O grupo que acolhe e acompanha Jesus na entrada nada triunfal em Jerusalém saúda o despontar do reino messiânico inspirado em Davi e a chegada do líder enviado por Deus. Ele, porém, não realiza as ações impressionantes que muitos esperavam. Chegando perto da capital, amada e cantada em prosa e verso, Jesus a contempla de longe e chora, lamentando seu fechamento à profecia e seu apego às leis e demais instituições. Ele é o servo paciente e o ouvinte atento da Palavra do qual fala Isaías. E é dessa escuta que brota uma palavra que desperta as pessoas adormecidas e encoraja as pessoas acorrentadas pelo medo.
Entrando em Jerusalém montado num jumento, Jesus faz uma poderosa sátira aos libertadores militares, conhecidos no passado, temidos no presente ou esperados para o futuro. O entusiasmo suscitado num pequeno grupo de gente que morava no entorno da capital não durará muito tempo. Os gritos de ‘hosana’ logo serão substituídos pelo insolente ‘crucifica-o’, fruto da frustração do povo e da manipulação das autoridades. O grupo mais exaltado dos discípulos solta a voz e o proclama o Messias esperado, mas Jesus faz questão de demonstrar seu messianismo radicalmente diferente, pobre e manso.
A divisão entre os discípulos e a possibilidade de traição não fazem Jesus mudar seu plano. É verdade que ele se sente abatido e chega a se perguntar qual direção deveria tomar. No momento crucial, depois da festa de acolhida e da ceia de despedida, enfrenta um discernimento difícil e pede aos discípulos que fiquem com ele e vigiem.  É um exercício de confronto profundo com a vontade do Pai, com a missão escrita em caracteres confusos e exigentes. Para os discípulos de todos os tempos, a oração continua sendo um espaço para discernir com retidão e coerência os caminhos que levam à vida em abundância.
Aclamemos com jovial alegria e convincente esperança o mestre e profeta Jesus de Nazaré. Acompanhemos de perto seus passos, acolhamos seus gestos, escutemos suas palavras. Superemos a tentação de segui-lo de longe e de evitar riscos, como fizeram Pedro e os outros. Não esqueçamos que tantos outros discípulos, pelos séculos a fora, permaneceram com ele, comungaram seu destino e se tornaram semente. Não se trata simplesmente de participar das celebrações, mas de converter-se ao Evangelho de Jesus de Nazaré.
Jesus de Nazaré, filho e herdeiro de Davi, messias servidor e humilde: diante de ti dobramos os joelhos e estendemos nossas vestes e ramos. Abrimos as portas para que entres hoje em nossas praças e cidades, para anunciar com timbre de sino políticas públicas em favor dos cidadãos mais pobres. Ensina-nos de novo a sagrada lição da Ceia e da Paixão: não existe maior prova de amor que lutar pela dignidade das vítimas e doar a vida por quem amamos. E dai-nos a graça da vigilância e da perseverança. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 50,4-7 | Salmo 21 (22)| Carta de Paulo aos Filipenses 2,6-11 | Evangelho de São Lucas 19,28-40

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