quinta-feira, 11 de abril de 2019

O Evangelho dominical - 14.04.2019 - Domingo dos Ramos


DIANTE O CRUCIFICADO

Preso pelas forças de segurança do Templo, Jesus não tem mais dúvidas; o Pai não escutou seus desejos de continuar a viver; os seus discípulos fogem procurando a sua própria segurança. Está sozinho. Os Seus projetos desaparecem. Espera-O a execução.
O silêncio de Jesus durante as Suas últimas horas é esmagador. Contudo, os evangelistas recolheram algumas das Suas palavras na cruz. São muito breves, mas às primeiras gerações cristãs ajudava-as a recordar com amor e gratidão o Jesus crucificado.
Lucas recolheu as que diz enquanto está a ser crucificado. Entre estremecimentos e gritos de dor, ele consegue pronunciar umas palavras que descobrem o que está no Seu coração: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Assim é Jesus. Pediu aos seus que amassem seus inimigos e rezassem pelos que os perseguissem. Agora é ele quem morre perdoando. Converte a Sua crucificação em perdão.
Esta petição ao Pai por aqueles que o crucificam deve ser ouvida como o gesto sublime que revela a misericórdia e o perdão insondável de Deus. Esta é a grande herança de Jesus à Humanidade: Nunca desconfieis de Deus. A Sua misericórdia não tem fim.
Marcos recolhe um grito dramático do crucificado: Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?” Estas palavras pronunciadas no meio da solidão e o mais total abandono são de uma sinceridade esmagadora. Jesus sente que o Seu amado Pai O está a abandonar. Por quê? Jesus queixa-se do Seu silêncio. Onde está? Por que se cala?
Este grito de Jesus, identificado com todas as vítimas da história, pedindo a Deus alguma explicação de tanta injustiça, abandono e sofrimento, permanece nos lábios do Crucificado, reivindicando uma resposta de Deus para além da morte: Deus nosso, por que nós abandonas? Nunca irás responder aos gritos e gemidos dos inocentes?
Lucas recolhe uma última palavra de Jesus. Apesar da Sua angústia mortal, Jesus mantém até o fim a Sua confiança no Pai. As Suas palavras são agora quase um sussurro: “Pai, nas tuas mãos entrego o Meu espírito”. Nada nem ninguém foi capaz de O separar Dele. O Pai tem animado com o Seu Espírito toda a Sua vida. Terminada a Sua missão, Jesus deixa tudo nas Suas mãos. O Pai quebrará o Seu silêncio e O ressuscitará.
Esta semana santa, vamos celebrar nas nossas comunidades cristãs a paixão e a morte do Senhor. Podemos também meditar em silêncio ante Jesus crucificado, mergulhando nas palavras que ele mesmo pronunciou durante a Sua agonia.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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