“Queremos mais asfalto!”
O jornal Correio do Povo (21.10.1999, p. 4)
estampou um artigo com o seguinte título: “Queremos mais professores!” Este foi
o grito de cem mil estudantes mobilizados em cento e quarenta cidades da
França. Este acontecimento me fez lembrar de outro: no corrente ano, cidadãs e cidadãos gaúchos, aos
milhares, debateram democraticamente acerca das prioridades locais e regionais;
nas assembléias populares, por votação, a esmagadora maioria decidiu: “Nós
queremos saúde, educação e agricultura!”
Transcorridos
poucos meses, eis que surgem certos personagens que se dizem paladinos da
democracia. Foram entrando em cena e passaram a desfilar pelo Rio Grande
afora... Certamente nem todos eles assumiram tal postura unicamente para salvar
a soberania de sua instituição, nem tampouco por solidariedade ao povo soberano
que os brindou com o poder para que agissem a seu favor e jamais contra ele.
Foi para bem servir ao povo, segundo as necessidades por ele sentidas e
entendidas como prioritárias, que nós os elegemos...
Infelizmente,
poucos deles se misturaram conosco, naquelas noites frias, para nos ouvir e
dialogar conosco a respeito do que vemos como prioridades no contexto em que
vivemos. Tivessem eles tomado assento em nossas assembléias, estariam hoje
melhor aparelhados para definir o orçamento estadual.
Mas não é
propriamente esta questão que desejo abordar. Quero externar meu assombro
diante de vozes desafinadas com a voz do povo. Ouvem-se vozes que insistem:
“Nós queremos é mais asfalto!”
Diante
desse fato, veio-me à lembrança que, após o regime militar, o extinto PDS
sofreu nas urnas estrondosa derrota em todo o País, enquanto que o PMDB saiu
vitorioso de Sul a Norte. Na ocasião, certo militar, deputado estadual, cujo
nome é Pedro, foi entrevistado por uma emissora de Porto Alegre. Ressentido e
estupefato diante da derrota estonteante, o referido militar declarou:
“Não
consigo entender o nosso povo!... Não entendo!... Como entender que o povo
tenha votado em massa contra o nosso governo, que tanto fez pelo país?... Pois
nós espalhamos a telefonia por todos os recantos; construímos Itaupu, orgulho
nacional, e a ponte Rio-Niterói, uma das maiores do mundo; cortamos o Brasil
inteiro, semeando estradas asfaltadas em todas as direções... E o povo brasileiro
não soube reconhecer o gigantesco progresso que promovemos!”
Findo o
desabafo do parlamentar, o entrevistador arguiu: “Mas, Senhor Coronel, o que
aconteceu é fácil de entender!... Senhor Coronel, é que o nosso povo está com
fome!... Asfalto e concreto não enchem o estômago!... Nosso povo está com fome!”
Dizem por
aí que a história se repete. Sendo assim, o que o futuro ainda irá trazer de
surpresas?... É uma incógnita. O triste, porém, é que a fome continua e aumenta
sempre mais. O que sei, biblicamente falando, é que todos aqueles que oprimiram
e infernizaram a vida dos pobres sempre se deram mal! Por amor e respeito a
estes, eu quisera ouvir ecoar pelo Rio Grande afora: “O que nos queremos é educação
para todos e de boa qualidade! É saúde ao alcance de todos! É mais pão
em nossas mesas! Porque gaúcho não vive de asfalto!...” E fim de papo!
Pe. Rodolpho Ceolin msf
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