Leigos,
como Maria, engajados de corpo e alma na missão de fazer esse mundo melhor!
A missão dos cristãos é fazer com que a bênção de Deus chegue a todas as
pessoas, a todas as dimensões da sociedade e a todos os cantos da terra. Nossa
missão primeira é acolher o mistério precioso da vida que se revela na
estrebaria de Belém e na Cruz do Calvário, compreendê-lo cada vez mais
profundamente, vivê-lo com empenho e anunciá-lo com liberdade e respeito.
Nessa perspectiva, é importante sublinhar que a bênção de Deus se mostra na
convivência pacífica, na colaboração solidária, nas colheitas abundantes, na
saúde resistente, na partilha generosa, no engajamento nas lutas, na esperança
indestrutível, na vida em abundância.
Para entendermos corretamente a missão dos leigos e leigas na Igreja e no
mundo precisamos superar dois mal entendidos.
O primeiro mal-entendido é pensar que, quando falamos em Igreja e em
missão, o que conta é unicamente a autoridade e a ação dos religiosos,
diáconos, padres e bispos. Isso é errado! Escutemos o que dizem os bispos do
Brasil!
"Não é
evangélico pensar que os ministros ordenados sejam mais importantes e mais
dignos, sejam ‘mais igreja’ que os leigos e leigas. A dignidade não vem dos
serviços e ministérios que cada um exerce, mas da iniciativa de Deus, da incorporação a
Cristo pelo batismo!" (CNBB, Doc. 105, nº 109)
O segundo mal-entendido é pensar que missão da Igreja, e, dentro
dela, a missão dos leigos e leigas, é apenas falar de assuntos religiosos, de
catequese, de sacramentos, da Bíblia, da moral familiar. Em relação a isso, o
Papa Francisco proclama, e os Bispos do Brasil repetem:
"Nenhuma
família sem teto! Nenhum agricultor sem terra! Nenhum trabalhador sem direitos!
Nenhum povo sem soberania! Nenhuma pessoa sem dignidade! "(Doc. 105, nº
181)
Este é o
horizonte maior que enquadra a missão dos cristãos, o objetivo e meta à qual
toda a vida eclesial deve tender.
Eu penso que,
em La Salette, Maria antecipa o que o Concílio Vaticano II diria 100 anos
depois e estabelece a dignidade e a responsabilidade missionária dos leigos e
leigas.
Havia muitos
padres, religiosos e bispos na Igreja da França daquela época, mas Maria chama
a si os leigos Maximino e Melânia, revela a eles sua misericórdia de Deus e
confia-lhes uma missão universal: “Vão e anunciem isso a todo o meu povo!”
Mas Maximino e
Melânia não representam apenas os leigos e leigas! Eles são crianças, são
analfabetos, não tem instrução religiosa e trabalham como bóa-frias! Neles,
através de Maria, Deus escolhe os pequenos e marginalizados e lhes confia a
continuidade da sua própria missão no mundo! A pobreza e as limitações
culturais e religiosas não dispensam nem impedem a responsabilidade e a
dignidade missionária de ninguém, não dispensam ninguém do engajamento na ação
libertadora de Deus!
E aquelas
pobres crianças não se calam nem se cansam! Começam sua missão em casa, com
seus familiares, anunciando-lhes com firmeza a libertadora mensagem da aparição.
Prosseguem dando testemunho na vila onde moram e interpelando os padres e
bispos. E terminam por enfrentar, com serenidade e coragem a desconfiança e o
desprezo das autoridades e das pessoas que se julgavam culturamente superiores.
Mas precisamos
perguntar: o que anunciaram Maximino e Melânia em sua espinhosa missão e em
seus tortuosos intinerários de vida? Testemunharam aquilo que receberam e
descobriram a partir do encontro com Maria e, por ela, com Jesus e seu
Evangelho!
Em primeiro
lugar, anunciaram que pertencemos a Deus, que somos seus filhos e filhas,
que assim ele nos ama e nos quer. Não somos criados para a escravidão, em
nenhuma de suas formas, nem para o medo que a ela conduz. Somos filhos, filhas
e herdeiros do sonho de Deus, do Reino de Deus, de um mundo de irmãos!
Em segundo
lugar, Maximino e Melânia anunciaram que não somos fragmentos ou indivíduos
perdidos e isolados, errantes pelo mundo. É verdade que Deus se dirige a cada
pessoa com amor, mas ele não se contenta em falar ao nosso coração, em salvar a
nossa alma: ele quer nos reunir como um povo, quer que sejamos comunidade,
deseja que vivamos como “família das criaturas”. Por isso, Maria pede que
Maximino e Melânia se dirijam a um povo, e não a indivíduos isolados!
Em terceiro
lugar, estes jovens missionários anunciam que as carências, sofrimentos e
dificuldades que enfrentamos não são castigo der Deus mas fruto da
irrsponsabilidade humana, tanto dos indivíduos e das decisões políticas, como
essa maldita emenda Constitucioonal que congelou por 20 anos os gastos públicos
com saúde e educação. Com Maria, Maximino e Melânia aprenderam que as colheitas
frustradas, o adoecimento da terra e das crianças são produtos das escolhas que
nós mesmos fazemos e das políticas feitas de costas para o povo pobre.
Em quarto
lugar, em sua missão incansável Maximino e Melânia descobrem e anunciam que
Deus permanece fiel, que ele chora nas lágrimas da nossa Mãe, que as portas da
reconciliação estão sempre abertas, que o presente e o futuro da humanidade
depende de nós. “Se vocês mudarem seu modo de pensar e viver, a produção de
alimentos será maior que as montanhas...” Com suas lágrimas, Maria nos revela
que Deus permanece fiel e espera por nossa conversão profunda e consequente.
Por fim, Maximino e
Melânia, leigos e missionários, nos ensinam que Deus conta conosco na missão de
abençoar e transformar o mundo. Não basta celebrar os sacramentos e ler a
bíblia. Precisamos ser uma Igreja em saída, que caminha em ritmo de missão. “Vão
e anunciem isso a todo o meu povo!” Eles o fizeram, com tencidade e em meio a
muitas dificuldades. Não foram santos, erraram, mas foram fiéis na revelação e
na missão a eles confiadas.
Antes de concluir,
quero sublinhar o que nos diz o Papa Francisco. Ele lembra a todos –
religiosos, padres, e leigos, jovens e idosos – que "a missão não pode ser apenas uma
parte da nossa vida, um ornamento que podemos dispensar, um simples apêndice ou
um momento entre tantos outros. A missão é algo que se for esquecido ou
minimizado, diminui e limita o que somos. Somos marcados a ferro e fogo por
esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar.”
(EG 273).
E é o mesmo Papa Francisco que nos exorta: "Se a Igreja quiser ser fiel a
Jesus, ela deve sair de si mesma e anunciar o Evangelho a todos, em todos os
lugares e em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para
todo o povo, e não se pode excluir ninguém... "(EG 23)
E quero terminar com as belas palavras dos Bispos do Brasil sobre a
grandeza da missão e da dignidade dos leigos e leigas: "Os cristãos leigos e leigas que
vivem sua fé na vida cotidiana, nos trabalhos de cada dia, nas tarefas mais
humildes, são o perfume de Cristo, o fermento do Reino, a glória do Evangelho! "(CNBB,
Doc. 105, nº 35).
Itacir Brassiani msf
(09 de setembro de 2018)