quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Por uma nova evangelizaçao (10)


Nova evangelização e primeiro anúncio do Evangelho.


Entre as diversas questões que o Instrumentum Laboris pede que o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização e a transmissão da fé discuta está aquela do primeiro anúncio, característico da missão ad gentes. Na sua contribuição ao processo sinodal, as Dioceses e Conferências Episcopais chamam a atenção para uma série de iniciativas em curso na linha de um “estilo mais missionário da própria presença no tecido social”. Mas o desafio que continua neste processo de anúncio e encarnação do Evangelho, é que as comunidades eclesiais “saibam suscitar a atenção dos adultos de hoje, interpretando as suas perguntas e a sua sede de felicidade” (IL, § 138).

Entendido como proclamação do conteúdo fundamental da nossa fé, o primeiro anúncio dirige-se sobretudo às pessoas e setores que ainda não conhecem Jesus Cristo (diversamente crentes, não-crentes, indiferentes e pós-crentes). Ora, segundo o Instrumentum Laboris, vivemos uma sociedade “que expulsou muitas formas de discurso sobre Deus”, de onde a necessidade urgente de que as nossas instituições “assumam, sem medo, também uma atitude apologética” e  que “vivam com serenidade formas de afirmação pública da própria fé” (idem).

O chamado primeiro anúncio deve ajudar as comunidades cristãs a “darem espaço à fé das pessoas, seja daquelas dentro da comunidade como daquelas que estão fora”, reavivando eou re-suscitando a fé, “de modo a manter a comunidade e os batizados numa tensão constante e fiel ao anúncio e testemunho público da fé que professam” (IL, § 140). Esta forma de evangelização é um chamado à conversão e deve ser integrada a outras formas de anúncio e de iniciação à fé. “O primeiro anúncio tem como objetivo específico a conversão, que depois permanece como uma constante na vida cristã”, a ser amadurecida pelas diversas iniciativas catequéticas (idem).
Segundo o Instrumentum Laboris, o primeiro anúncio tem necessidade de “formas, lugares, iniciativas, eventos que permitam levar o anúncio da fé cristã à sociedade” (cf. IL § 141) . Entre estas iniciativas e lugares ocupariam um lugar importante os eventos massivos nacionais, as jornadas mundiais da juventude e da família, assim como as viagens apostólicas do Papa e as celebrações de beatificação. Mas o primeiro anúncio pode começar pelas práticas pastorais presentes na vida ordinária das comunidades cristãs: a pregação, os diversos percursos de preparação aos sacramentos, o acompanhamento pastoral dos fiéis no sofrimento e na doença, a piedade popular. Completam estas ações ordinárias a estratégia das missões populares (cf. IL § 146).

De fato, é importante que os padre sinodais retomem e aprofundem de forma lúcida e crítica estas questões. E o ponto de partida é escutar e interpretar as perguntas dos homens e mulheres de hoje, que não podem ser pressupostas simplesmente como se fossem sede de felicidade ou desejo de Deus. Os povos do mundo dos pobres também clamam pelo simples direito de viver dignamente, e os povos do mundo rico reclamam serem tratados como adultos e respeitáveis. O recurso a novas formas de apologética e a expressões públicas e massivas da fé cristã católica não esconde um viéis autoritário e o pressuposto de que outras crenças ou filosofias de vida são inferiores ou desviantes.

Sínodo precisa se dar conta de que as questões do primeiro mundo não são necessariamente as questões de todo mundo, e não pode tomar as preocupações da Igreja de Roma como se fossem os desafios que interpelam toda a Igreja. Num tempo em que o mundo descobre e promove o multicurturalismo e no qual se afirmam movimentos que postulam um mundo pluricêntrico, não podemos recair na uniformidade autoritária e no centralismo castrador.

E, o mais importante: é tempo de afirmar com todas as letras que o Evangelho é a Boa Notícia de que Deus avaliza a caminhada da humanidade em busca de condições de vida abundante para todos os seus membros e do respeito à originalidade de cada pessoa e cada povo. E que essa busca não está fadada ao fracasso, pois é Deus mesmo que o suscita, sustenta e guia. Que o Sínodo tire as consequências dessa fé.

Itacir Brassiani msf

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