Nova evangelização e primeiro anúncio do Evangelho.
Entre as diversas questões que o Instrumentum
Laboris pede que o Sínodo dos Bispos sobre a Nova
Evangelização e a transmissão da fé discuta está aquela do primeiro
anúncio, característico da missão ad gentes. Na sua
contribuição ao processo sinodal, as Dioceses e Conferências
Episcopais chamam a atenção para uma série de iniciativas em curso na
linha de um “estilo mais missionário da própria presença no tecido social”. Mas
o desafio que continua neste processo de anúncio e encarnação do Evangelho, é
que as comunidades eclesiais “saibam suscitar a atenção dos adultos de
hoje, interpretando as suas perguntas e a sua sede de felicidade”
(IL, § 138).
Entendido como proclamação do conteúdo fundamental da
nossa fé, o primeiro anúncio dirige-se sobretudo às pessoas e
setores que ainda não conhecem Jesus Cristo (diversamente crentes, não-crentes,
indiferentes e pós-crentes). Ora, segundo o Instrumentum Laboris,
vivemos uma sociedade “que expulsou muitas formas de discurso sobre Deus”, de
onde a necessidade urgente de que as nossas instituições “assumam, sem medo,
também uma atitude apologética” e que “vivam com serenidade
formas de afirmação pública da própria fé” (idem).
O chamado primeiro anúncio deve
ajudar as comunidades cristãs a “darem espaço à fé das pessoas,
seja daquelas dentro da comunidade como daquelas que estão fora”, reavivando
eou re-suscitando a fé, “de modo a manter a comunidade e os batizados numa
tensão constante e fiel ao anúncio e testemunho público da fé que professam”
(IL, § 140). Esta forma de evangelização é um chamado à conversão e deve ser
integrada a outras formas de anúncio e de iniciação à fé. “O primeiro
anúncio tem como objetivo específico a conversão, que depois permanece
como uma constante na vida cristã”, a ser amadurecida pelas diversas
iniciativas catequéticas (idem).
Segundo o Instrumentum Laboris, o primeiro
anúncio tem necessidade de “formas, lugares, iniciativas, eventos que
permitam levar o anúncio da fé cristã à sociedade” (cf. IL § 141) . Entre estas
iniciativas e lugares ocupariam um lugar importante os eventos massivos
nacionais, as jornadas mundiais da juventude e da família, assim como as
viagens apostólicas do Papa e as celebrações de beatificação. Mas o primeiro
anúncio pode começar pelas práticas pastorais presentes na vida ordinária das
comunidades cristãs: a pregação, os diversos percursos de preparação aos
sacramentos, o acompanhamento pastoral dos fiéis no sofrimento e na doença, a
piedade popular. Completam estas ações ordinárias a estratégia das missões
populares (cf. IL § 146).
De fato, é importante que os padre sinodais retomem e
aprofundem de forma lúcida e crítica estas questões. E o ponto de partida
é escutar e interpretar as perguntas dos homens e mulheres de hoje,
que não podem ser pressupostas simplesmente como se fossem sede de felicidade
ou desejo de Deus. Os povos do mundo dos pobres também clamam pelo simples
direito de viver dignamente, e os povos do mundo rico reclamam serem tratados
como adultos e respeitáveis. O recurso a novas formas de apologética e a
expressões públicas e massivas da fé cristã católica não esconde um viéis
autoritário e o pressuposto de que outras crenças ou filosofias de vida são
inferiores ou desviantes.
O Sínodo precisa se dar conta de que
as questões do primeiro mundo não são necessariamente as
questões de todo mundo, e não pode tomar as
preocupações da Igreja de Roma como se fossem os desafios que
interpelam toda a Igreja. Num tempo em que o mundo descobre e promove o
multicurturalismo e no qual se afirmam movimentos que postulam um mundo
pluricêntrico, não podemos recair na uniformidade autoritária e no centralismo
castrador.
E, o mais importante: é tempo de afirmar com todas as
letras que o Evangelho é a Boa Notícia de que Deus avaliza a caminhada da
humanidade em busca de condições de vida abundante para todos os seus membros e
do respeito à originalidade de cada pessoa e cada povo. E que essa busca não
está fadada ao fracasso, pois é Deus mesmo que o suscita, sustenta e guia. Que
o Sínodo tire as consequências dessa fé.
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário