sexta-feira, 14 de março de 2014

A formaçao dos padres

“Podes dizer-me se ele é digno e capaz?”

Segundo uma longa tradição, é a Igreja que apresenta um dos seus membros ao bispo para que ele, em nome da Igreja, o assuma como presbítero. Foram conservados no atual rito de ordenação alguns resquícios do escrutínio no qual se verificava a idoneidade do candidato apresentado, que, em alguns casos, até resistia a esta indicação por parte da comunidade local. Na forma atual do diálogo de apresentação, o formador (ou o Superior ou Pároco) apresenta o diácono e o bispo pergunta: “Podes dizer-me se ele é digno (apto e idôneo) para este ministério?” Obviamente, ninguém esperaria este momento para dar uma resposta negativa, até porque o longo processo de formação seminarística existe para que estas condições essenciais sejam cumpridas.
Pronunciando-se em nome da Igreja, o Papa João Paulo II afirmou que “a formação dos futuros sacerdotes é considerada pela Igreja como uma das tarefas de maior delicadeza e importância para o futuro da evangelização da humanidade” (Pastores Dabo Vobis [PDV], 2). Mesmo que hajam aspectos da fisionomia do padre que não mudam no tempo e no espaço, é igualmente certo que a vida e o ministério do sacerdote se deve adaptar a cada época e a cada ambiente de vida, de modo que é necessário que nos abramos ao Espírito para “descobrir as orientações da sociedade contemporânea, reconhecer as necessidades espirituais mais profundas, determinar as tarefas concretas mais importantes, os métodos pastorais a adotar, e, assim, responder de modo adequado às expectativas humanas” (PDV, 5).
Mas quais seriam os elementos realmente fundamentais que denotam a idoneidade de um candidato ao ministério presbiteral e que devem orientar seu processo formativo? Pessoalmente, considero essenciais três atitudes de fundo: a) maturidade e equilíbrio humano, ou seja: uma serena consciência dos seus limites, capacidades e desejos e a capacidade de se relacionar de forma personalizada com as diversas pessoas e grupos; b) sadia e madura relação com com Deus, ou seja: o alegre reconhecimento da condição de discípulo e aprendiz, peregrino em busca de Deus e do seu reino; c) uma clara postura pastoral, ou seja: um relacionamento com o povo na perspectiva de companhia e de serviço, de irmão que serve outros irmãos.
Por isso, uma das dimensões básicas e irrenunciáveis da formação do presbítero nos tempos atuais é a dimensão humana. “Sem uma oportuna formação humana, toda a formação sacerdotal ficaria privada do seu necessário fundamento", disseram com ênfase os padres sinodais. “Portanto, não só para uma justa e indispensável maturação e realização de si mesmo, mas também em vista do ministério, os futuros presbíteros devem cultivar uma série de qualidades humanas necessárias à construção de personalidades equilibradas, fortes e livres, capazes de comportar o peso das responsabilidades pastorais. É necessária, pois, a educação para o amor à verdade, a lealdade, o respeito por cada pessoa, o sentido da justiça, a fidelidade à palavra dada, a verdadeira compaixão, a coerência, e, particularmente, para o equilíbrio de juízos e comportamentos.” (PDV, 43).
Mas esta ênfase não pode nos levar a esquecer que  “sem a formação espiritual, a formação pastoral desenrolar-se-ia privada de qualquer fundamento e que a formação espiritual constitui “o elemento de maior importância na formação sacerdotal”.  A vida espiritual de quem se prepara para o sacerdócio precisa ser dominada pela procura e pelo encontro Mestre, para o seguir e permanecer em comunhão com Ele. “Também no ministério e na vida sacerdotal, esta procura deverá continuar, tão inesgotável é o mistério da imitação e da participação na vida de Cristo. Assim como deverá continuar este encontrar o Mestre, para transmiti-lo aos outros, melhor ainda, para despertar nos outros o desejo de procurar o Mestre” (PDV 45-46).
Por fim, a formação deve preparar o pastor. “Toda a formação dos candidatos ao sacerdócio é destinada a dispô-los de modo particular para comungar da caridade de Cristo, Bom Pastor. Portanto, nos seus diversos aspectos, esta formação deve ter um carácter essencialmente pastoral” (PDV 57). O foco ou horizonte pastoral “assegura à formação humana, espiritual e intelectual dos futuros presbíteros determinados conteúdos e características específicas, da mesma forma que unifica e caracteriza a inteira formação dos futuros sacerdotes.” Esta formação está ordenada à comunhão cada vez mais profunda com a caridade pastoral de Jesus, princípio e a força do ministério do presbítero. Isso pede não apenas que seja assegurada uma competência pastoral científica e uma habilitação operativa, mas, sobretudo, que seja garantido o crescimento de um modo de ser em comunhão com os mesmos sentimentos e comportamentos de Cristo, Bom Pastor (cf. idem).

Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: