segunda-feira, 3 de março de 2014

Desafios atuais à Vida Religiosa (7)


Desafio 7: Rever e simplificar as estruturas
Um jantar convencional de religiosos no interior de Kalimantan (Indonésia)

Estruturas são, antes de tudo, esquemas de pensamento, modos de ver e de organizar a vida. Quando um grupo social chega a um acordo e afirma “isso deve ser assim”, está criando uma estrutura. As estruturas têm a função de dar continuidade e organicidade às intuições, construir abrigos que ajudem o espírito a continuar no tempo. São construções feitas com o material que a história e as culturas nos oferecem e, por isso, trazem suas marcas, emprestam suas possibilidades e, evidentemente, entregam também seus limites.

Não há como negar ou fazer vistas grossas a este fato: a Vida Religiosa que conhecemos hoje concebeu para si mesma estruturas apropriadas a um corpo numeroso, socialmente separado, politicamente influente, eclesialmente e culturalmente relevante. Para manter este status e se reproduzir socialmente, regrou minuciosamente a vida dos membros, multiplicou e complexificou suas instituições. Não é por nada que muitos religiosos e religiosas experimentam a sensação de que as demandas das obras são superiores às suas forças, que funcionam bem mas lhes falta um sentido para viver. Se isso é verdade, soou o tempo de repensar as estruturas!

É claro que não se trata simplesmente de assumir formas organizativas e gerenciais mais soft's e flexíveis, tanto a gosto da nova tecnocracia empresarial e do mercado globalizado (que não tocam no “núcleo duro” do sistema, que é a competição predatória e violenta). O que precisamos é desmontar as estruturas jurídicas e organizacionais que, mesmo tendo sido úteis e importantes numa certa época, hoje mais escondem que anunciam o Evangelho, mais sufocam que encarnam o carisma dos institutos, quebram as asas dos sonhadores e algemam os pés sedentos de novos caminhos. E isso começa pelas Constituições e chega aos projetos comunitários e institucionais, demasiadamente pesados e complexos.

Com isso não estou convocando a Vida Religiosa a uma espécie de cruzada da ingenuidade ou a uma celebração de louvor à inocência original. Assim como a vivência do Evangelho não pode prescindir dos recursos e percursos de vinte séculos de história nas diferentes culturas, a Vida Religiosa não pode imaginar um renascimento que não tenha nada a ver com sua experiência multissecular e multicultural. O desafio é desentulhar a Vida Religiosa daquelas estruturas e meios que, tendo sido úteis e necessários num tempo e numa etapa ou situação concreta, agora mais atrapalham que facilitam a encarnação e o testemunho do Evangelho, mais sufocam que acalentam os sonhos e intuições originais.

Mas é preciso também ter presente que essa não é uma tarefa que podemos encomendar a apenas alguns exemplares isolados do Hércules da mitologia grega, nem trabalho para um tempo breve. Repensar as estruturas da Vida Religiosa é missão de muitos e extensa no tempo. É claro, entretanto, que não podemos esperar para começar quando todos os membros do instituto estiverem convencidos da urgência e da necessidade dessas mudanças. É preciso, desde já e sempre, estimular os membros sonhadores e inquietos, poetas, profetas e místicos a ousar os primeiros passos dessa dança.

Itacir Brassiani msf

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