sexta-feira, 14 de novembro de 2014

33° DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO A – 16.11.2014)

é preciso conjugar vigilância, criatividade e compromisso.

A festa de Cristo Rei fará a passagem entre o Tempo Comum e o Tempo do Advento, com o qual iniciamos o Novo Ano e preparamos a festa do Natal de Jesus. É uma passagem marcada pela serenidade que brota da confiança. Mas o tempo dos homens nem sempre segue este ritmo e este clima. Por mais que os povos pobres trabalhem, poupem e reformem suas instituições, conseguem muito pouco em termos de desenvolvimento econômico, humano e social. Esperando a vinda do Cristo Salvador, os cristãos são chamados a aproveitar as possibilidades de cada momento.
Mesmo que algumas vozes se levantem e gritem diversamente, Deus confia plenamente na pessoa humana. E o testemunho mais claro e indiscutível dessa confiança é a encarnação do próprio Filho de Deus, a assunção plena da nossa condição humana, com todas as suas tensões e possibilidades. Deus confia a nós não apenas uma doutrina a ser defendida e ensinada ou uma mensagem a ser transmitida. Ele coloca em nossas mãos a tarefa de dirigir o curso da história e nela realizar seu Projeto. Jesus ilustra isso com a parábola dos talentos (ou tarefas), que nos é oferecida neste domingo.
É o próprio Deus que chama seus adoradores, entrega a eles seus bens e espera que cada um corresponda a esta confiança de acordo com suas próprias possibilidades. “A um ele deu cinco talentos, a outro deu dois, e ao terceiro, um.” A cada qual de acordo com a sua capacidade. A confiança do patrão é tão absoluta que ele viaja sem nenhuma preocupação. Deus sabe em quem coloca sua confiança! O que ele espera daqueles que nele acreditam? Seria a simples multiplicação de horas de adoração, de doutrinas abstratas, de leis pesadas e morais estreitas?
Não! Eis o que ele pede e espera: “Vão e façam discípulos meus em todos os povos! Assim como o Pai enviou a mim, eu envio vocês!...” Trata-se de anunciar e dinamizar o Reino de Deus acolhendo os pobres, consolidando a justiça, amando sem distinção. Deus espera que a confiança depositada em nós dê frutos! É por isso que Jesus coloca nos lábios do homem anônimo o elogio que o próprio Deus pronuncia diante dos fiéis que agem responsavelmente: “Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais! Venha participar da minha alegria!”
Confiança com confiança se paga! Mas a confiança responsável, se mostra na capacidade de correr riscos, de sujar as mãos e encarnar-se na história, pois é nela que se esconde e se expande o Reino de Deus. O que Deus nos confia é um fermento, e o fermento cumpre seu destino somente quando se mistura à farinha e a faz a massa crescer. O que Deus nos confia é o dinamismo do seu amor, e o amor morre quando não é transformado em ação. É uma responsabilidade serena e sóbria, mas não passiva!
Infelizmente, alguns mal-entendidos levam muitos cristãos a atitudes irresponsáveis. Em nome da defesa da fé, concebem, dão à luz e fazem crescer uma Igreja separada do mundo, centrada nas doutrinas e leis, seduzida por uma vaga idéia de alma, enamorada dos poderes elitistas e excludentes. E mais: gastam todas as suas limitadas forças no resgate de ritos e línguas de um tempo que não existe mais. Esta atitude é bem representada pelo sujeito que, mesmo tendo recebido sua parte de responsabilidade, age guiado pelo medo e enterra seus talentos.
Por quê faz isso? “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo escondi o meu talento no chão.” Não passa de medo e preguiça aquilo que ele pensa ser fidelidade ou responsabilidade diante das coisas sagradas! “Servo mau e preguiçoso”, sentencia Jesus... Como cristãos temos que enfrentar hoje estes desafios: a encarnação da fé e da esperança no coração do mundo, nas ações e movimentos culturais, sociais, políticos e econômicos; e fazer isso sem soberba, como quem deseja dialogar e colaborar com outros.
Rezemos com Dom Helder: “Ajuda a Igreja de Cristo a reencontrar os perdidos caminhos da Pobreza. Ajuda-a na abertura de portas: que nenhuma seja fechada por ela, mas se abram todos os diálogos e irrompa hora nova e única para os teólogos, encarregados não só de aprofundar o Vaticano II, mas de preparar o Vaticano III... Ajuda-nos no esforço de levar à prática as decisões conciliares, sopro renovador da face da terra. Ajuda-nos a ajudar a humanidade no acerto do desencontro que a muitos pode parecer mania: o diálogo entre o mundo desenvolvido e o mundo subdesenvolvido...” Amém! Assim seja!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Provérvios 31,10-13.19-20.30-31 * Salmo 127/128 * 1ª Carta aos Tessalonicenses 5,1-6 * Mateus 25,14-30)

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