segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Reflexões do Pe. Ceolin

Diferentes projetos de Vida

Ao que parece, este texto é a última meditação de um retiro orientado pelo Pe. Ceolin, provavelmente no finalzinho da década de 1990 ou início da década 2000. Tenho a satisfação de disponibilizá-lo no aniversário de ordenação do nosso saudoso coirmão (25.11.1956).
Nestes dias de graça aqui vividos, cada um de nós certamente ouviu apelos interiores, sentiu moções do Espírito, escutou a voz do Mestre. Meditando, refletindo, orando e contemplando, fomos elaborando em nosso íntimo alguns compromissos vitais de cunho pessoal, dispondo-nos a segui-los a qualquer custo durante a vida.
Antes de registrá-los em definitivo no nosso Diário de Crescimento, busquemos luzes na carta aos Gálatas, a quem o Apóstolo Paulo exorta e aconselha – mas ele pensa também em nós! – que vivam segundo o Espírito (cf. Gal 5,13-6,10), contrapondo este modo de viver à vida segundo a carne. Para entender esta questão, valemo-nos do livro Vida segundo o Espírito, de Leonardo Boff.
A vida segundo a Carne
O projeto de vida segundo a carne e seus imperativos consiste, em primeiro lugar, em pautar e organizar a vida segundo os cânones do mundo. E isso significa ganância de acumular, usando os talentos e o saber em vista de ter; e usando ambos em vista do poder, da fama, do prestígio da auto-idolatração. Em decorrência natural de tal modo de viver advêm os ódios, as discórdias, os ciúmes, as invejas, as divisões, as guerras, o roubo, as trapaças, a corrupção, a exploração, etc. (cf. Gal 5,16-21).
Em segundo lugar, este projeto de vida significa uma vida planejada em função de si mesmo: gozo egoístico dos bens; fazer-se senhor das coisas e do mundo; relações de desfrute egoísta e subserviência quase cega às paixões frente às pessoas. É disso que decorrem as impurezas, as orgias, a devassidão, toda sorte de intemperanças, a libertinagem, que é a apropriação e a instrumentalização do semelhante. Este modo de viver revela uma pessoa fechada sobre si mesma, entrópica. Sua vida é in-vertida (vive para si). Nem vida é, é morte!
A vida segundo o Espírito
A vida segundo o Espírito consiste em centrar a vida em Deus; em viver Jesus Cristo, particularmente o Evangelho, as bem-aventuranças; em buscar e viver a vontade de Deus. Consiste no humilde e gratuito servir, vivendo para o outro e para o Reino.
Esta forma de viver caracteriza-se pela vivência do amor, da alegria, da paz, da paciência, da bondade, da benevolência, da fé, da mansidão, do domínio de si (cf. Gal 5,22). É disso que nascem a solidariedade, a partilha, a gratuidade, a doação de si, a fraternidade, a disponibilidade, a justiça, o diálogo, etc.
Passando da idéia à prática
Seria importante e mesmo necessário desdobrar tudo isso, aplicando-o à vida consagrada, à vivência dos votos, à vida comunitária, à vida missionária, ao carisma congregacional, à nossa espiritualidade, à formação inicial e permanente em todas as suas dimensões, etc.
Perguntemo-nos: Quando não se vive segundo o Espírito é possível salvar-se? Implantar o Reino de Deus e a nova sociedade? Chamar de ação pastoral nossas atividades apostólicas? Optar pelos pobres e excluídos? Realizar uma verdadeira inserção? Viver fraternalmente, partilhando solidariamente vida e bens?
Sem viver segundo o Espírito é possível ser família, consolidando o amor matrimonial? Ser amigo de verdade, ter amizades vitalizadoras e libertadoras? Construir autênticas comunidades eclesiais de base e trabalhar em equipe? Exercer a liderança democraticamente? Viver a “política da boa vizinhança” entre paróquias próximas, entre movimentos e grupos, entre pastoralistas e formadores, entre formandos e orientadores? É possível suportar avaliações, acolher bem o sucessor? Enfim, é possível ser discípulo de Jesus?

Pe. Rodolpho Ceolin msf

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