sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – 18.01.2015)

Crer é assmilar a visão de Jesus participar da sua missão.
Depois de ter sido batizado no rio Jordão, Jesus não foi festejar ou  fazer férias!.. O batismo marca o amadurecimento da sua consciência messiânica e seu debut na missão de libertar as pessoas dependentes e oprimidas. Somos hoje convidados a acompanhá-lo nos primeiros passos da missão, deixando-nos interpelar pelo seu olhar, suas ações e suas palavras. Ele dirige a nós seu olhar acolhedor e questionador, e pergunta: “O que você está procurando?” Mas também dirige a cada um de nós seu convite: “Vem comigo, participa da minha intimidade e experimenta  meu amor sem fronteiras...”
João Batista diz que não conhecia direito Jesus antes de tê-lo batizado (cf. 1,33). Vendo-o no rio, misturado àquela multidão de gente marginalizada, humilde e bem intencionada, João vislumbrou em Jesus a Sabedoria de Deus na carne humana, o amor de Deus acampado no meio de nós, uma espécie de ‘bode expiatório’ (cordeiro de Deus) que carrega no seu corpo as dores e pecados da humanidade. João fala abertamente disso aos discípulos que o seguem. Parece que a passagem da experiência que Jesus fez por ocasião do batismo à sua atividade libertadora não foi rápida, nem automática...
Um dia desses, vendo Jesus caminhando solitário e meditativo nos arredores de Betânia, perto do rio Jordão, João chamou a atenção dos próprios discípulos: “É dele que eu falei... Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo...” João não apresenta Jesus como Messias, o líder ungido pelo Espírito para resgatar o povo, nem como Rei de Israel, como Filho de Deus ou como Senhor. O Batista busca na tradição ritual do povo de Israel a figura do Cordeiro, que era sacrificado para desculpar os pecados da comunidade. A figura do Cordeiro sublinha a mansidão, a inocência, a vítima solidária.
Apresentando Jesus desse modo, João acrescenta que ele é aquele “que tira ou carrega o pecado do mundo”. Ou seja: João nos diz que Jesus não está aí para, em nome de Deus, acusar aos homens e mulheres sua insuperável condição de pecadores, mas para atrair sobre si mesmo a violência que tende a explodir sobre os semelhantes e para abrir um caminho de liberdade e de comunhão. Nas palavras de João Batista transparece a intuição de que o Messias esperado age mais como amigo que como juiz, mais como irmão que como acusador ou chefe.
Ouvindo as breves palavras com as quais João apresenta aquele jovem galileu até então incógnito, dois discípulos de João deixam-no e se põem a caminho, seguindo Jesus. Aproximaram-se dele sem dizer nada, um pouco curiosos, um pouco tímidos. Um se chama André e é irmão de Simão, que conhecemos como Pedro. Eles entram no caminho de Jesus por sugestão de João Batista. Não terá sido fácil deixar o mestre já conhecido e sua pregação clara e interpeladora para seguir um jovem até então desconhecido... E Jesus nem os havia chamado, como costumavam fazer os demais mestres...
Num dado momento, percebendo que aqueles dois o seguiam já há algum tempo, Jesus se volta e lhes pergunta: “Que procurais?” Não pede o que pensam dele, mas os interroga sobre os interesses e expectativas que os movem. A resposta deles é curta e objetiva: “Mestre, onde moras?” Desejam passar ao seu campo de influência, aprender a partir da convivência e da experiência, participar da sua intimidade e da sua missão. E Jesus os convida a ir e ver, a descobrir como nele a Palavra de Deus se torna carne. E eles foram, começaram a viver com Jesus, e nunca mais voltaram atrás.
Profundamente impressionados com aquilo que viram e experimentaram, os novos discípulos espalham a notícia. André vai buscar seu irmão Pedro, que como ele, tinha vindo de Betsaida para escutar e seguir João Batista, e anuncia-lhe a boa notícia: “Encontramos o Cristo!” E leva-o a Jesus, que dirige um olhar amoroso e profundo a um Pedro que permenece rígido como uma pedra... Pedro havia rompido com o status quo e esperava o Messias, mas terá que fazer a passagem da idéia de um Messias guerreiro para  um Messias Cordeiro. Será um processo difícil e exigente, que levará mais de três anos...
Amado e querido Jesus, filho de José e Cordeiro de Deus: Como André, queremos entrar na tenda que armaste  entre os pobres e te conhecer. Livra-nos da  passividade e do silêncio resistentes de Pedro. Salva tua Igreja da rigidez, do fechamento e da autosuficiência, verdadeira pedra de tropeço para aqueles que te buscam com coração sincero. Acorda-nos da ilsusão de sermos maioria, do repouso tranquilo sobre as glórias do passado, da falta de atenção à tua Palavra viva e eficaz. E acolhe-nos na tua intimidade para que, caminhando contigo e sendo membros do teu corpo, vejamos e acreditemos! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(1° Livro de Samuel 3,3-10 * Salmo 39 (40) * 1ª Carta aos Coríntios 6,13-20 * Evangelho de João 1,35-42)

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