quinta-feira, 13 de agosto de 2015

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA (ANO B –16.08.2015)

Bem-aventurados os homens e mulheres que acreditam!
A Assunção é uma festa mariana que fez história e lançou profundas raízes na religiosidade popular. Mas é importante destacar que aquilo que cremos sobre Maria se refere, de alguma forma, à comunidade eclesial, ao povo de Deus, a todos os homens e mulheres. A glorificação de Nossa Senhora, ou seja, sua acolhida e realização plena em Deus, é uma vocação e uma promessa de Deus extensiva a toda a humanidade. Como Maria, todos nascemos para a glória, para brilhar. Em Maria, a pessoa humana em sua integridade – em corpo e alma! – é assumida e realizada em Deus. Eis uma belíssima realização da nossa esperança e uma proclamação clara e inequívoca da dignidade do corpo.
No Magnificat, Maria aparece como uma pessoa humilde e humilhada. No seu evangelho, Lucas no-la a apresenta como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus e está sempre pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história. Da boca de Isabel ficamos sabendo que Maria é alguém que ousou acreditar na força da Palavra e na fidelidade do Deus misericordioso que a pronuncia. Por isso, no vulto cristão de Maria o que se destaca é a humildade, a escuta e a fé, marcas fundamentais da sua personalidade, intrinsecamente relacionadas.
Deus pôde realizar grandes coisas em Maria e através de Maria porque encontrou nela a indispensável base humana já preparada. Para fazer-se humano, o Filho de Deus precisou de uma pessoa profundamente humana, e não de criaturas angélicas! Humildade, escuta e fé na ação libertadora de Deus é também o que possibilita uma vida feliz. O segredo da felicidade que todos buscamos não está na posse ou no consumo desmedido de bens, nem na fama, no sucesso ou no poder de atração que exercemos sobre os outros, mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus.
Depois do diálogo engajado com Deus através do anjo, Maria vai apressadamente à casa de Isabel. Busca um sinal que confirme a parceria de Deus com os humildes e sua aliança com os pobres. Ela havia dado sua palavra Àquele que é capaz de fazer grandes coisas em favor do seu povo, mas nem tudo estava claro. Então, a discípula se faz serva, a serva se torna peregrina e a peregrina procura e encontra hospitalidade na casa de Isabel. Juntas, na intimidade aberta de uma casa, Isabel e Maria louvam a Deus e profetizam. E a discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza destemida...
Contemplando sua própria história e a epopéia do seu povo, Maria percebe e proclama a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos, derruba os poderosos, exalta os humildes e oprimidos, socorre seu povo e estende sua misericórdia a todas as gerações. Então, esta mulher, assumida por Deus no céu, não é apenas uma humilde trabalhadora do lar, uma discreta pessoa que acredita, a doce e recatada esposa de José. Deus assume em corpo e alma e eleva à glória do céu aquela que rompe com a cultura que menospreza a mulher, aquela que diz uma palavra profética na arena pública.
Na assunção de Nossa Senhora e no encontro entre Maria e Isabel o corpo festeja e é festejado. É bendito o corpo feminino de Maria, assim como bendito é Aquele que ela nutre e carrega no ventre. Bendito é o corpo de Isabel, capaz de perceber a incontida alegria daquele que preparará a estrada para a chegada do Messias, e bendito é o corpo dos mártires de todos os tempos. Bendito é também o corpo dos humilhados e dos famintos, destinados por Deus desde sempre ao brilho. Em Maria o corpo humano não necessita de malhação, retoque e maquiagem para ser apreciado e valorizado...
Finalmente, Maria é discípula de Jesus, membro da Igreja, sinal e símbolo do povo de Deus. Sua assunção por Deus é um sinal da ressurreição que todos esperamos. Como aquela mulher radiante do Apocalipse, a humanidade está em trabalho de parto e, mesmo ameaçada por todos os lados, vai dando à luz um Homem Novo e construindo um Mundo Novo. Maria simboliza a humanidade e a Igreja em seus traços femininos. Nela, a Igreja é chamada a construir-se como corpo que acolhe, aquece, alimenta, ensina, respeita e favorece o crescimento e o amadurecimento dos filhos e filhas.
Ave Maria, cheia de graça! O senhor está contigo! És bendita entre todas as mulheres, e é bendito o fruto do teu ventre!  Maria santa, mãe de Deus e dos filhos e filhas de Deus, intercede por nós neste complexo tempo que vivemos. Ajuda tua Igreja a ser uma comunidade de iguais. Ensina as pessoas consagradas a anunciar com a vida e com a palavra que nada pode ser colocado acima do amor a Jesus e aos pobres nos quais ele vive. E conduz a vida consagrada aos desertos (onde o nada parece tudo), às periferias (onde a impotência se impõe) e às fronteiras (onde a criatividade não pode conhecer limites). Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Apocalipse de S. João 12,1-10 * Salmo 44 (45) * 1ª Carta aos Coríntios 15,20-27 * Ev. de São Lucas 1,39-56)

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