sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O evangelho dominical

ESCUTAR SOMENTE A JESUS

A cena é considerada tradicionalmente como «a transfiguração de Jesus». Não é possível reconstruir com certeza a experiência que deu origem a este surpreendente relato. Sabemos apenas que os evangelistas lhe dão uma grande importância pois, segundo o seu relato, é uma experiência que deixa entrever algo da verdadeira identidade de Jesus.
Num primeiro momento, o relato destaca a transformação do Seu rosto e, apesar de estar a conversar com Ele, Moisés e Elias, talvez como representantes da lei e dos profetas respetivamente, apenas o rosto de Jesus permanece transfigurado e resplandecente no centro da cena.
Ao que parece, os discípulos não captam o conteúdo profundo do que estão a viver, pois Pedro diz a Jesus: «Mestre, que bem que se está aqui. Faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias». Coloca Jesus no mesmo plano e ao mesmo nível que aos dois grandes personagens bíblicos. A cada um a Sua tenda. Jesus não ocupa todavia um lugar central e absoluto nos seus corações.
A voz de Deus vai corrigi-los, revelando a verdadeira identidade de Jesus: «Este é o Meu Filho, o escolhido», o que tem o rosto transfigurado. Não tem de ser confundido com os de Moisés ou Elias, que estão apagados. «Escutai-o». A ninguém mais. A Sua Palavra é a única decisiva. As outras apenas nos levam até Ele.
É urgente recuperar na Igreja atual a importância decisiva que teve nos seus começos a experiência de escutar no seio das comunidades cristãs o relato de Jesus recolhido nos evangelhos. Estes quatro escritos constituem para os cristãos uma obra única que não devemos equiparar ao resto dos livros bíblicos.
Há algo, que só neles podemos encontrar: o impacto causado por Jesus nos primeiros que se sentiram atraídos por Ele e o seguiram. Os evangelhos não são livros didáticos que expõem doutrina acadêmica sobre Jesus. Tampouco são biografias escritas para informar com detalhe sobre a Sua trajetória histórica. São «relatos de conversão» que convidam à mudança, a seguir Jesus e a identificar-se com o Seu projeto.
Por isso pedem para ser escutados numa atitude de conversão. E nessa atitude têm de ser lidos, pregados, meditados e guardados no coração de cada crente e de cada comunidade. Uma comunidade cristã que sabe escutar cada domingo o relato evangélico de Jesus numa atitude de conversão, começa a transformar-se. Não tem a Igreja um potencial mais vigoroso de renovação que o que se encerra nesses quatro pequenos livros.

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