terça-feira, 11 de julho de 2017

ANO A – DÉCIMO-QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 16.07.2017

Não deixemos de lançar as sementes de um mundo solidário!
Aquele havia sido um dia cheio, intenso e tenso: Jesus discutira a respeito da primazia da pessoa humana sobre os sistemas legais; curara um doente e marginalizado em dia proibido; devolvera a liberdade a uma pessoa possuída pelo demônio; fora acusado de agir em nome do diabo; alargara os laços da sua própria família. Então, saindo de casa, ganhou o espaço público e procurou descanso nas margens do mar da Galileia. Mas não teve sucesso: uma multidão se reuniu ao seu redor, e ele começou a falar do mistério do Reino de Deus, das forças que se lhe opõem e da sua garantida eficácia.
A ideia do Reino de Deus, ou Reino dos céus como Mateus prefere denominar para distingui-lo dos reinos comumente conhecidos, ocupa um lugar central na vida e no anúncio de Jesus de Nazaré. Colocar em ação o governo de Deus, libertar as mulheres e homens de todas as formas de dominação, este era o valor absoluto e precioso que iluminava sua pregação e sua ação. Jesus iniciara sua missão pública com este anúncio: “O Reino de Deus está próximo. Acreditem nesta boa notícia e se convertam”. E agora começa seu ensino sobre o Reino de Deus evocando a figura dos diaristas que trabalham no campo.
A missão de construir um mundo justo e fraterno é ainda hoje uma tarefa quase que artesanal, uma tarefa de semeador, ou um trabalho de parto. A força do Evangelho não lhe vem do poder de impor, da constrição da lei, do poder do dinheiro ou do exército. A força da Palavra do Reino vem unicamente de Deus e do testemunho de solidariedade e da perseverança daqueles que a proclamam. E como esse testemunho nem sempre encontra bons terrenos para germinar, muita gente engajada, de ontem e de hoje, se pergunta: não é ingrato e inócuo esse trabalho de anunciar e construir o Reino de Deus?
É frequente a sensação de que a empreitada é muito grande e de que os trabalhadores são poucos. É dura a percepção de que os inúmeros ensaios e iniciativas que desejam pôr em movimento uma nova humanidade e uma nova sociedade são gestações abortadas, gemidos inócuos, esforços perdidos, sementes que caem à beira da estrada e logo desaparecem. A falha parece não estar nos semeadores e a qualidade da semente parece boa. O que acontece é que a construção do reinado de Deus é uma luta sem tréguas contra outros regimes ou reinados. O Reino de Deus não vem sem luta, sem oposição.
A semeadura é sempre um risco, mas ouvimos de Jesus Cristo que o mundo não é naturalmente mau, pois o mal entrou no mundo depois de ele ter sido criado. É possível o aperfeiçoamento e a transformação da sociedade na perspectiva do Reino de Deus. E, apesar das sementes que se perdem, continuamos a semeadura e a luta, certos de que colheita haverá. É verdade que três quartos da semente se perde ou não chega e produzir frutos, mas uma quarta parte produz sozinha o que se esperava de toda a semente! O bom semeador sabe contar com isso, quem se apaixona pelo Reino acredita nisso.
E tem mais: precisamos contar com o ciclo próprio de algumas sementes que, plantadas hoje, só vão germinar no tempo propício. Há sementes que permanecem anos e anos escondidas no ventre da terra, e quando o ambiente se apresenta favorável, rompem a casca e as plantas emergem com força e vitalidade. Feliz quem compreende este mistério e nunca deixa de apostar na força da semente plantada na terra, na vida da gente! Feliz quem não se rende às oposições e perseguições! Que este Evangelho, bom e belo, não passe por nós sem deixar um sinal, sem tocar uma corda da nossa vida...
Acreditemos: a semente do Reino de Deus tem futuro! O que não tem futuro é este velho e mórbido hábito de querer salvar-se a si mesmo, de cuidar apenas de si e não se importar com ninguém, de poder mais para chorar menos, de cortar direitos dos pobres para locupletar os ricos... Este sistema só produz exclusão e sofrimento, e o faz em nome do combate à corrupção para esconder suas garras e mentiras. Mas, por isso mesmo, tem os dias contados. A dor existe sim, e faz gemer nossa carne, mas Paulo ensina que a dor de quem se engaja na semeadura não é uma dor de morte: é uma dor de parto. A dor da morte é a dor do vazio, do nada, do fim. A dor do parto é a dor da plenitude, da vida, do começo.
Deus do Reino, Semente de vida, Esperança dos sonhadores inconformados: visita nossas mentes, casas e Igrejas e repete de novo tua lição essencial de que semear é preciso, mas a colheita não nos cabe; de que sem o risco da semeadura não haverá colheita, nem futuro. Faz com que a Semente do Teu Reino deixe os catecismos, doutrinas e Igrejas e seja lançada na terra, em todas as terras, sem nenhum receio de que se perca, para que corra o risco de frutificar. E vem em nosso auxilio para que, à nossa passagem e com nosso trabalho, tudo e todos ao nosso redor cantem e gritem de alegria. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
  (Profecia de Isaias 55,10-11 * Salmo 64 (65) * Carta de Paulo aos Romanos 8,18-23 * Evangelho de São Mateus 13,1-23)

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