quinta-feira, 27 de julho de 2017

ANO A – DÉCIMO-SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 30.07.2017

Onde está o nosso tesouro, aí está também nosso coração!
Todos já fizemos a experiência de correr riscos. Dando por descontado que viver é em si mesmo um perigo, sabemos o risco que significa escolher uma vocação, iniciar um curso superior, investir numa atividade nova, apostar todas as cartas num determinado relacionamento afetivo... Quanto mais precioso nos parece o objeto, maior é a disposição para o sacrifício e menores são ponderações e receios. Para Jesus de Nazaré, a alegria contagiante de um ser humano que recupera a autonomia e a cidadania representa um tesouro precioso e impagável, diante do qual tudo o resto parece lixo.
Na liturgia dos últimos domingos, Jesus vem nos falando do mistério do Reino de Deus através de diversas parábolas. O sonho de Deus é semelhante a um semeador que, mesmo sabendo que parte da semente se perderá, não deixa de semear. É comparável também a um plantador que, apesar de ter usado boa semente, é surpreendido pelo o capim que cresce junto com o trigo. E pode também ser comparado à semente de mostarda: apesar de sua pequenez, está na origem de um apreciável arbusto. Seu dinamismo é comparável enfim ao fermento que desaparece na farinha e faz crescer a massa...
Neste domingo, Jesus nos apresenta a imagem do trabalhador rural que encontra um precioso tesouro no campo do seu patrão. Ao encontrar o tesouro, o homem é tomado pela surpresa, pois não estava procurando nada. Então ele mantém o tesouro escondido e, sem dizer nada a ninguém e cheio de alegria, se desfaz de tudo o que tem e compra o campo que escondia o tesouro. Para um simples empregado diarista, este é um negócio ousado e arriscado, que só se justifica pelo valor que o tesouro tem ao seus olhos. Ele vende, arrisca ou perde tudo para ficar com o único bem que vale a pena.
Um segundo personagem que Jesus nos apresenta como modelo é um comerciante de pérolas preciosas. Este sim está empenhado na procura de uma pérola de grande valor e, quando a encontra, vende todos os seus bens e compra a tal pérola. Este parece ser um negócio um pouco mais seguro, mas é comparável ao anterior no que diz respeito à necessidade de vender tudo para realizá-lo. Em ambos os casos, a experiência de encontrar algo precioso desestabiliza o equilíbrio dos negócios, relativiza as propriedades e chama a arriscar. E tanto o peão como o comerciante tomam a decisão certa.
Eis o desafio para os discípulos e discípulas de Jesus: tendo descoberto a preciosidade do Reino de Deus – o valor irredutível e impagável da liberdade e da vida digna de cada pessoa em sua singularidade, o horizonte deslumbrante de um mundo de irmãos e irmãs de fato – quem segue Jesus de Nazaré é impulsionado a hipotecar ou subordinar tudo o mais – reputação, carreira, bem-estar individual e até família e religião – em função desse bem maior. Deus não tem tempo para tratar de pequenos negócios conosco. Seu projeto é vida abundante, para todos, e isso urge. É tudo ou nada. E já!
Nosso batismo pressupõe esta opção de risco. Parece que poucas pessoas têm clara consciência disso, pois se não for assim, como explicar o descompromisso com que muitas o celebram? Dá vontade de aumentar as exigências de preparação ou até interditar o batismo a quem não acorda para o compromisso que ele implica, ou transformar a igreja numa alfandega, repleta de taxas... Mas o próprio Jesus ensina que o Reino de Deus é também semelhante a uma rede lançada ao mar, que recolhe peixes bons e peixes de qualidade questionável... E nós precisamos prestar atenção à sabedoria dos pescadores!
Um pescador experiente sabe que não é sensato esperar que a rede recolha apenas peixes bons e apropriados para o consumo e o comércio. E o trabalho árduo e criterioso de separar peixes bons e peixes ruins não pode ser feito durante a pesca e em alto mar, vem depois. Mas não tiremos conclusões apressadas e superficiais... Estre trabalho de caráter judicial não é de nossa responsabilidade, nem mesmo das nossas Igrejas! Mais que pescadores, somos peixes, e não estamos seguros da nossa própria qualidade! Deixemos ao fim dos tempos e aos anjos de Deus essa difícil tarefa de separar.
Deus Pai e Mãe, amante das criaturas e condutor da história: teu projeto de comunhão solidária de todas as criaturas é o tesouro mais precioso e a herança mais comprometedora que poderias nos entregar. Teu filho é o verdadeiro doutor da lei, aquele que aprendeu e ensinou o mistério do teu Reino: ele sabe vasculhar o baú da história e tirar dele coisas novas e velhas, e nos convida a fazer o mesmo. Dá-nos, Senhor, Sabedoria para distinguir o bem do mal e praticar a justiça, convictos de que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus e o próximo. Dá-nos, enfim, a alegre ousadia de investir com imensa generosamente tudo o que somos e temos no teu sonho de igualdade e libertação. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
                (1° Livro dos Reis 3,5-12 * Salmo 118 (119) * Carta de Paulo aos Romanos 8,28-30 * Evangelho de São Mateus 13,44-52)

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