quinta-feira, 20 de julho de 2017

ANO A – DÉCIMO-SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 23.07.2017

A luta pela justiça é o que resgata a nossa humanidade!
Como a história do semeador, as parábolas do trigo e do joio, da semente de mostrada e do fermento estão situadas na parte do evangelho de Mateus que trata do dinamismo do Reino de Deus. É o momento em que os discípulos se perguntam se o Reino proposto por Jesus Cristo é realmente uma boa semente, se tem força e futuro. A experiência deles e nossa é de que, apesar de todos os esforços e bons propósitos, o resultado do nosso empenho é sempre ambivalente, insuficiente e preocupante. Tudo parece marcado pela ambiguidade e pela contradição. As coisas começam bem, mas depois se desviam do rumo...
A ambivalência tem suas raízes nas dimensões inconscientes do ser humano, e a oposição faz parte da condição humana e coexiste com as boas iniciativas. Sempre existiram forças que se opõem ao processo de humanização, embora sejam incapazes de impedir seu florescimento. Mas Jesus não se preocupa em pesquisar e debater a origem desse mal que contamina todas as iniciativas, projetos e instituições humanas e sociais.  Ele simplesmente diz que numa noite, “quando todos dormiam”, um adversário semeou joio no meio do trigo. Ele é lucido ao constatar que o mal faz parte da condição humana.
É interessante perceber que, segundo a parábola, é apenas quando a boa semente do Reino se desenvolve que a ambivalência se faz notar. O mal que se opõe à justiça do Reino não é uma força absoluta, congênita, comparável ou superior ao bem. É uma força sempre relativa, identificável no confronto com os valores e práticas de Jesus Cristo e seus discípulos. Ela provoca confusão e nos rouba forças que poderiam ser empenhadas noutras coisas, mas não é original e nem tem futuro.
O zelo pela projeto de Deus às vezes provoca em nós uma santa ira, e nosso desejo é pegar foices e facões e extirpar da sociedade a injustiça e da Igreja a ambiguidade, cortando o mal pela raiz. Esta seria uma solução relativamente fácil se o joio estivesse apenas fora de nós, nas estruturas sociais, e se fôssemos pessoas incorruptíveis, sem ambivalências e sem contradições. Mas o integrismo costuma se mostrar burro, irracional e violento. É preciso ter paciência e esperar que as coisas fiquem mais claras...
Jesus propõe duas outras parábolas, nas quais contrapõe a notável pequenez da semente de mostarda e do fermento ao arbusto frondoso e à massa levedada que produzem. Estas parábolas são uma resposta às perguntas que frequentemente nos fazemos: será que o amor, a ternura, a bondade e a compaixão não são ações insignificantes, pequenas e demasiadamente frágeis frente à injustiça e à opressão? Teremos que nos contentar em sermos sempre uma minoria que age apenas para reparar danos?
Para os grandes Roma, de Jerusalém e de todos os centros de poder, inclusive Brasília, a semente ou o fermento do Reino de Deus é insignificante e sem futuro. Não faltam pessoas e grupos que, em nome da eficácia histórica, propõem uma Igreja mais forte e potente, capaz de medir forças ou negociar com os impérios de plantão. Mas a proposta de Jesus é outra: crer e confiar na força dos fracos, na fecundidade invencível do amor solidário, no dinamismo revolucionário da profecia e do testemunho.
A pergunta, porém, ressurge insistente: isso não foi sempre um romantismo inconsequente, um sonho adolescente? Jesus responde a este questionamento chamando nossa atenção para o mundo doméstico e feminino. Precisamos aprender da ação silenciosa, escondida e demorada do fermento que a cozinheira mistura à farinha. Ninguém ousaria afirmar que a ação do fermento é ineficaz! Mas, para ser eficaz, o fermento do Reino de Deus precisa entrar em contato com a farinha e perder-se na massa...
Esta parábola do Reino completa o que naturalmente falta às anteriores. Cada parábola quer evidenciar um aspecto do dinamismo do Reino de Deus. Aquela do trigo e do joio e a outra da rede nos chamam à paciência e ao discernimento. A história da semente de mostarda nos ensina a confiança nos meios aparentemente pequenos e frágeis. E a parábola do fermento nos interpela ao engajamento lúcido e transformador, a gastar-se na ação de solapar as bases de impérios que excluem e matam.
Jesus de Nazaré, incansável pregador do Reino de Deus, teimoso construtor de um Novo Mundo! Concede aos teus filhos e às Igrejas que anunciam teu Reino um zelo sábio e respeitoso. Ensina-nos a atuar como o fermento, a “corromper” o tecido social que mantém o reino dos mais fortes, a criar micro-organismos portadores de uma nova ordem social, geradores de novos homens e novas mulheres. Dá-nos a coragem de perdermo-nos na luta, com a força do teu Espírito e da tua Palavra, sem medos e sem integrismos. E ajuda-nos a descobrir o infinito e fecundo valor da pequenez, da minoridade.  Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
     (Livro da Sabedoria 12,13-19 * Salmo 85 (86) * Carta aos Romanos 8,26-27 * Evangelho de São Mateus 13,24-33)

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