quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ANO A – VIGÉSIMO-SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 08.10.2017

Não deixemos que nos roubem a alegria da missão!
A Igreja católica tomou consciência de que a missão faz parte do seu código genético, e proclama que esta não é apenas mais uma entre as suas múltiplas tarefas, nem uma responsabilidade de apenas algumas pessoas. Em 2007, na Conferência de Aparecida, os bispos da América Latina e do Caribe colocaram a questão da missão no centro das preocupações da Igreja na América Latina e convocaram todos os seus membros a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo. Na mensagem para a jornada mundial das missões do ano em curso, o papa Francisco insiste: a missão está no coração da nossa fé!
Na perspectiva do evangelho do 27° domingo, a missão não consiste propriamente em semear a mensagem do Reino de Deus onde o cristianismo ainda não lançou raízes, mas em ir aos “arrendatários da vinha do Senhor” para recolher os frutos esperados. Como missionários, somos enviados àqueles que foram investidos de autoridade ou ocupam posições de liderança política, social e religiosa para verificar se realmente se dedicam ao povo e defendem sua dignidade. A missão é ir àqueles que se apropriaram indevidamente da vinha do Senhor. Uma missão com uma clara dimensão crítica e profética!
Esta missão é tão urgente quanto difícil e conflituosa. A parábola de Jesus menciona as agressões e espancamentos sofridos pelas pessoas enviadas. Quando os missionários não se limitam a propor doutrinas e celebrar ritos, correm o risco de serem pessoas indesejáveis e sofrerem violências nas mãos dos ‘malvadamente maus’ ou dos ‘canalhas’, como diz o evangelista. A história remota e recente também registra as calúnias e torturas, as prisões e o martírio sofridos pelos profetas e testemunhas. Em alguns países da África e do Oriente Médio, mas não só, isso continua terrivelmente atual...
Digamos uma vez mais, para que fique claro: a missão, como a entendemos hoje, não consiste em colher frutos para a instituição eclesial ou multiplicar suas agências, mas em cobrar o estabelecimento do direito de Deus no mundo: a implantação da justiça para os pobres, o reconhecimento da dignidade dos desprezados, a primazia dos últimos, o cuidado e a bondade gratuita para com todas as criaturas. Se estes frutos não forem encontrados, o Reino de Deus deve ser subtraído às elites e autoridades constituídas e entregue a pessoas, grupos e movimentos que produzam esses frutos.
Jesus é o missionário enviado pelo Pai, modelo e o caminho de todos os missionários e missionarias. Ele não se negou a pagar o preço que a missão lhe exigiu: foi caluniado, desprezado, descartado e crucificado. Foi tratado como uma pedra que os pedreiros descartam porque consideram sem valor, inadequada e problemática no seu projeto de dominação e exclusão. Mas, para ele, isso não se configurou numa tragédia. Pelo contrário, a rejeição acabou revelando sua opção pessoal e o princípio norteador da sua vida. Ou seja: “a missão da Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede de verdade e justiça.”
O princípio cardeal da missão de Jesus e dos seus discípulos é sair solidariamente ao encontro dos rejeitados e excluídos para estabelecer, em nome do Pai que os envia, uma primazia e uma dignidade que jamais prescreve: os grupos humanos e sociais aparentemente problemáticos e disfuncionais são a pedra-de-toque do Reino de Deus. Sem o anúncio de uma Boa Notícia aos pobres e sem a reversão social que coloca os últimos em primeiro lugar, não há Igreja nem missão fiel a Jesus. É daqui que brota a alegria cristã, alegria inerente ao Evangelho, como vem sublinhando insistentemente o papa Francisco.
E esta é a perspectiva de todo trabalho autenticamente missionário: subverter os esquemas, inverter as prioridades, afirmar os excluídos como indispensáveis no projeto de um mundo que deseje ser humano. É nisso que a Igreja precisa empenhar de forma contínua todos os seus membros, todos os seus esforços e os melhores meios de que dispõe. A missão segue seu caminho de baixo para cima, da periferia para o centro, dos últimos para os primeiros. A parábola da pedra rejeitada pelos grandes e recolocada por Deus no centro, é a parábola da missão. Não deixemos que nos roubem essa genuína alegria!
Deus pai e mãe, cuidador e amante apaixonado da tua vinha: continua a suscitar homens e mulheres conscientes da própria fragilidade e da força do teu amor e envia-os para cuidar do teu povo. Que eles não desanimem quando forem tratados como pedras inúteis na construção dos muros. Que eles sintam a companhia inspiradora de Teresinha, André, Ambrósio, Mateus, Francisco e tantos outros. E que esta comunidade que nasce do lado aberto do teu filho empenhe seus melhores membros e meios na missão de testemunhar a comunhão fraterna e de anunciar a boa notícia aos pobres. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaias 5,1-7 * Salmo 79 (80) * Carta de Paulo aos Filipenses 4,6-9 * Evangelho de São Mateus 21,33-43) 

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