quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

ANO C | TEMPO DE ADVENTO | 2° DOMINGO – 09.12.2018


Os caminhos do Senhor são igualdade e fraternidade!
No primeiro domingo de preparação para o Natal de Jesus fomos chamados à esperança ativa e crítica, que nasce da identificação dos frágeis sinais da presença de Deus e do seu reinado. Neste segundo domingo, somos chamados à conversão, à mudar nosso modo de ver e avaliar as coisas, pessoas e acontecimentos, a considerar tudo com o olhar de Deus. Pedimos ao Deus misericordioso que nos guie, a fim de que nenhum compromisso nos impeça de caminhar ao encontro do seu Filho e participar plenamente da sua vida.
Chamando-nos à conversão, Jesus não pede uma vida austera e sem alegria, muito ao contrário. A mudança no modo de pensar, de sentir e de agir são indispensáveis para que se nos abram as portas da verdadeira alegria, para a participação plena no pensamento, no projeto e na ação libertadora de Jesus Cristo. Não é possível ver os sinais do reinado de Deus e alegrar-se com ele sem uma mudança radical nos interesses, olhares e projetos que costumam seduzir e consumir os “homens de bem”. Sem uma conversão radical é impossível avaliar com sabedoria os bens passageiros e colocar nossa esperança nos bens duradouros.
Os caminhos do Senhor nos conduzem à verdadeira alegria, à realização plena da vocação humana. Num tempo de exílio e dor, o profeta Baruc e pede que seu povo troque as vestes de luto por roupas de festa, por adornos com brilho e beleza incomparáveis. A alegria que o profeta anuncia a um povo desanimado e oprimido se fundamenta na fidelidade libertadora de Deus: movido pela justiça que se alimenta da misericórdia, Deus não esquece um só dos seus filhos e filhas, reúne todos numa só família, transforma os escravos em príncipes, abre seu coração e faz brilhar seu rosto “a todos os que estão debaixo do céu”.
Por isso, o Deus de Israel e Pai de Jesus se compraz em abaixar os “altos montes e as colinas eternas”, em soterrar os vales e aplainar a terra, para que seus amados vivam e caminhem com segurança, guiados por sua mão e protegidos pela sombra de arvores odoríferas. É obvio que o profeta não fala em terraplanagem! Ele afirma, como o faz também o profeta Isaías, retomado pelo evangelista, que a vontade de Deus é a igualdade de todos os seres humanos. Tibério, Pilatos, Herodes, Filipe, Lisânias, Anás e Caifás simbolizam os que fazem de tudo para permanecer no alto das colinas e torcer os caminhos dos pobres.
A vontade e a promessa de Deus é que todas as pessoas experimentem a salvação. Nessa totalidade estão incluídos, sim, os povos indígenas, desprezados e ameaçados pelo presidente eleito país e pelos que o sustentam. Da categoria de seres humanos também fazem parte os “comunistas” e outros grupos que alimentam sonhos de igualdade, rotulados e tratados como infra-humanos e indignos pelos sectários de plantão. É vontade de Deus que os direitos humanos sejam assegurados e todos recebam o nome “paz da justiça” e “glória da piedade”. É este o batismo de conversão que nos torna amigos de Deus!
Infelizmente, não estamos livres – nem como indivíduos e nem como Igreja – da tentação de bajular os poderosos, fechando os olhos ao mal que fazem ou prometem fazer aos pobres e marginalizados, aos preferidos de Deus. A acolhida e o apoio – ingênuo ou interesseiro? – que vários setores religiosos emprestam ao grupo que dirigirá a nação brasileira nos próximos anos esquece que os “grandes” citados por Lucas no evangelho de hoje passaram à história como exemplares de pessoas que oprimiram e feriram os amados de Deus, enquanto que João Batista, Jesus e uma multidão de mártires brilham como sinais de humanidade.
Não fechemos nossos olhos e nossos ouvidos à voz do profeta que grita no deserto. Abramos nossos ouvidos e nossos olhos à voz de Jesus de Nazaré e seu Evangelho de solidariedade e igualdade. O caminho que nos leva ao encontro com Deus e à plena realização da humanidade à qual somos chamados é a igualdade e a fraternidade. A oração e a liturgia estão a serviço disso! Sem compromisso com a causa de Jesus, a oração pode ser fuga, e a piedade pode decair em alienação. Mais do que nunca, Evangelho e defesa dos direitos de todos os humanos vão de mãos dadas, práxis da justiça e festa litúrgica caminham abraçadas.
Deus pai e mãe, envia-nos teu Espírito, a fim de ressoe em nosso coração tua voz majestosa e emancipadora. Que o amor que derramaste nos nossos corações a partir da Manjedoura e da Cruz do teu amado filho cresça sempre mais em perspicácia e delicadeza. Que sejamos renomeados como “paz da justiça” e nossa piedade brilhe pela lucidez. Ajuda-nos a acolher com boa disposição o caminho da fraternidade e da igualdade que os profetas Baruc e João Batista, como também o apóstolo Paulo, nos propõem como preparação ao Natal e como expressão de uma vida evangélica pura e justa, sem ambiguidades. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Baruc 5,1-9 | Salmo 125 (126) | Carta de São Paulo aos Filipenses 4,6-11 | Evangelho de São Lucas 3,1-6

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