Os caminhos do Senhor
são igualdade e fraternidade!
No primeiro
domingo de preparação para o Natal de Jesus fomos chamados à esperança ativa e
crítica, que nasce da identificação dos frágeis sinais da presença de Deus e do
seu reinado. Neste segundo domingo, somos chamados à conversão, à mudar nosso
modo de ver e avaliar as coisas, pessoas e acontecimentos, a considerar tudo
com o olhar de Deus. Pedimos ao Deus misericordioso que nos guie, a fim de que
nenhum compromisso nos impeça de caminhar ao encontro do seu Filho e participar
plenamente da sua vida.
Chamando-nos à
conversão, Jesus não pede uma vida austera e sem alegria, muito ao contrário. A
mudança no modo de pensar, de sentir e de agir são indispensáveis para que se
nos abram as portas da verdadeira alegria, para a participação plena no
pensamento, no projeto e na ação libertadora de Jesus Cristo. Não é possível ver
os sinais do reinado de Deus e alegrar-se com ele sem uma mudança radical nos
interesses, olhares e projetos que costumam seduzir e consumir os “homens de
bem”. Sem uma conversão radical é impossível avaliar com sabedoria os bens
passageiros e colocar nossa esperança nos bens duradouros.
Os caminhos do
Senhor nos conduzem à verdadeira alegria, à realização plena da vocação humana.
Num tempo de exílio e dor, o profeta Baruc e pede que seu povo troque as vestes
de luto por roupas de festa, por adornos com brilho e beleza incomparáveis. A
alegria que o profeta anuncia a um povo desanimado e oprimido se fundamenta na
fidelidade libertadora de Deus: movido pela justiça que se alimenta da
misericórdia, Deus não esquece um só dos seus filhos e filhas, reúne todos numa
só família, transforma os escravos em príncipes, abre seu coração e faz brilhar
seu rosto “a todos os que estão debaixo do céu”.
Por isso, o
Deus de Israel e Pai de Jesus se compraz em abaixar os “altos montes e as
colinas eternas”, em soterrar os vales e aplainar a terra, para que seus amados
vivam e caminhem com segurança, guiados por sua mão e protegidos pela sombra de
arvores odoríferas. É obvio que o profeta não fala em terraplanagem! Ele
afirma, como o faz também o profeta Isaías, retomado pelo evangelista, que a
vontade de Deus é a igualdade de todos os seres humanos. Tibério, Pilatos,
Herodes, Filipe, Lisânias, Anás e Caifás simbolizam os que fazem de tudo para
permanecer no alto das colinas e torcer os caminhos dos pobres.
A vontade e a
promessa de Deus é que todas as pessoas experimentem a salvação. Nessa
totalidade estão incluídos, sim, os povos indígenas, desprezados e ameaçados
pelo presidente eleito país e pelos que o sustentam. Da categoria de seres
humanos também fazem parte os “comunistas” e outros grupos que alimentam sonhos
de igualdade, rotulados e tratados como infra-humanos e indignos pelos
sectários de plantão. É vontade de Deus que os direitos humanos sejam
assegurados e todos recebam o nome “paz da justiça” e “glória da piedade”. É
este o batismo de conversão que nos torna amigos de Deus!
Infelizmente,
não estamos livres – nem como indivíduos e nem como Igreja – da tentação de
bajular os poderosos, fechando os olhos ao mal que fazem ou prometem fazer aos
pobres e marginalizados, aos preferidos de Deus. A acolhida e o apoio – ingênuo
ou interesseiro? – que vários setores religiosos emprestam ao grupo que
dirigirá a nação brasileira nos próximos anos esquece que os “grandes” citados
por Lucas no evangelho de hoje passaram à história como exemplares de pessoas
que oprimiram e feriram os amados de Deus, enquanto que João Batista, Jesus e
uma multidão de mártires brilham como sinais de humanidade.
Não fechemos
nossos olhos e nossos ouvidos à voz do profeta que grita no deserto. Abramos
nossos ouvidos e nossos olhos à voz de Jesus de Nazaré e seu Evangelho de
solidariedade e igualdade. O caminho que nos leva ao encontro com Deus e à
plena realização da humanidade à qual somos chamados é a igualdade e a
fraternidade. A oração e a liturgia estão a serviço disso! Sem compromisso com
a causa de Jesus, a oração pode ser fuga, e a piedade pode decair em alienação.
Mais do que nunca, Evangelho e defesa dos direitos de todos os humanos vão de
mãos dadas, práxis da justiça e festa litúrgica caminham abraçadas.
Deus pai e mãe, envia-nos teu Espírito, a
fim de ressoe em nosso coração tua voz majestosa e emancipadora. Que o amor que
derramaste nos nossos corações a partir da Manjedoura e da Cruz do teu amado
filho cresça sempre mais em perspicácia e delicadeza. Que sejamos renomeados
como “paz da justiça” e nossa piedade brilhe pela lucidez. Ajuda-nos a acolher
com boa disposição o caminho da fraternidade e da igualdade que os profetas
Baruc e João Batista, como também o apóstolo Paulo, nos propõem como preparação
ao Natal e como expressão de uma vida evangélica pura e justa, sem
ambiguidades. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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