quarta-feira, 8 de maio de 2019

ANO C | TEMPO PASCAL | QUARTO DOMINGO | 12.05.2019


Do Amor de Deus nos vem a coragem de responder ao chamado.
A fé se mostra mais nas ações que nos ritos, orações e palavras.  É isso que Jesus afirmara na discussão com as autoridades religiosas em plena festa da dedicação do Templo, em Jerusalém. Por isso, os chefes do Templo o procuram e questionam: “Até quando nos deixarás em suspenso? Se tu és o Messias, o Cristo, dize-nos abertamente!” E Jesus retruca: “Eu já vos disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim” (Jo 10, 24-25). Respostas descritivas, discursos e argumentos dizem sempre menos do que a eloquência das ações e relações.
Mas Jesus não deixa de apresentar suas credenciais de Messias, de missionário e enviado do Pai: as ações que realiza em favor da humanidade, especialmente em favor dos últimos da escala social. No debate com as autoridades do judaísmo, ele nega a legitimidade de uma fé que não tenha apoio nas ações. Para Jesus, quem é profundamente solidário e compassivo está ao lado do ser humano e também está com Deus. E quem está de alguma maneira contra o ser humano, mesmo que invoque o nome de Deus e participe de ritos religiosos, está, de fato, contra ele. Este é o critério que confere a autenticidade à nossa fé!
É neste mesmo contexto que Jesus diz que dá a vida eterna ao seu rebanho, que ninguém o toma da sua mão. Mas ser ovelha do rebanho de Jesus Cristo, implica em escutar sua Palavra, aderir a ela e seguir seus passos; exige assumir sua pró-existência como dinamismo fundamental da vida. Crer nas obras que defendem e resgatam a dignidade humana e multiplica-las é mais importante que crer na sua Palavra (cf. Jo 10,38). Crer em Jesus significa segui-lo, dar continuidade à sua ação, entregar-se sem reservas à luta pelo bem da humanidade, especialmente das pessoas humilhadas. “Eu as conheço e elas me seguem...”
A autenticidade e a fecundidade da nossa fé em Jesus não está na multiplicação de atividades desconexas e sem alma. O denominador comum das múltiplas ações que expressam nossa fé é o amor, o dinamismo básico e permanente que nos move no reconhecimento do outro como outro, na defesa da sua dignidade inviolável e na priorização das suas necessidades humanas fundamentais, inclusive em detrimento das nossas. É o amor que faz da vida de Jesus e da nossa uma existência descentrada, uma vida empenhada em favor dos outros, dos pobres e necessitados.  É o amor que nos faz humanos, que nos dá à luz como pessoas.
O amor autêntico também não reconhece nenhum tipo de fronteira: ele rompe com os muros levantados em nome da religião, da raça, da classe, do sangue, dos interesses individuais. Porque parte do outro, o amor é o único dinamismo capaz de globalizar verdadeiramente o mundo, sem excluir ninguém. É isso que testemunham Paulo e Barnabé quando abrem as fronteiras rígidas do judaísmo aos povos não-judeus. E, experimentando esta acolhida e respeito, os cristãos de origem não-judaica vivem uma grande alegria, que nem a violenta perseguição movida por mentes medrosas e violentas conseguem fazê-los voltar atrás.
Mas aqui precisamos lembrar de novo que o amor não se resume a um princípio formal ou um sentimento interior. Sem deixar de ser uma opção fundamental e um horizonte iluminador e crítico, o amor não existe fora das infinitas e pequenas ações que o encarnam na realidade. Poderíamos dizer que o amor não existe em si mesmo, que ele não é isso ou aquilo, mas ‘vai sendo’ na imensa constelação de ações que afirmam, confirmam e potencializam a vida e a dignidade das pessoas, começando pelas que nos são próximas e chegando àquelas que deslocamos para longe. O amor não é substantivo, é verbo, é ação!
Na sua mensagem para este dia mundial de oração pelas vocações, jornada que vem sendo realizada há 56 anos, o Papa Francisco sublinha que o chamado do Senhor “não é uma ingerência de Deus na nossa liberdade, é uma jaula ou um peso que nos é colocado às costas”, mas “a iniciativa amorosa com que Deus vem ao nosso encontro e nos convida a entrar num grande projeto, do qual nos quer tornar participantes, apresentando-nos o horizonte de um mar mais amplo e de uma pesca superabundante”.
Jesus de Nazaré, Cordeiro de Deus e Bom Pastor! Através dos homens e mulheres que vivem a vocação como serviço e compaixão fazes teu amor libertador chegar a todas as gerações. Faz com que nossa palavra e nosso testemunho ajude a Boa Notícia do teu Reino a chegar a todos os rincões da terra. Tu nos fizeste, nos chamaste e somos teus. Possamos então realizar com desvelo e criatividade a missão que nos confiaste, membros diferentes de um único corpo no qual bate um único coração. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Atos dos Apóstolos 13,43-52 | Salmo 99 (100)
Livro do Apocalipse de São João 7,14-17 | Evangelho de São João 10,27-30

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