quarta-feira, 2 de outubro de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-SEXTO DOMINGO | 06.10.2019


A fé nos leva a ver e agir no mundo do jeito de Deus.
Depois da parábola do rico e de Lazaro, os apóstolos pedem que Jesus os faça crescer na fé. Por trás desse pedido e da resposta de Jesus estão alguns problemas bem concretos: o abismo que separa os ricos e indiferentes dos pobres e carentes; o escândalo que isso provoca nas comunidades cristãs; a orientação exigente e concreta da Palavra de Deus; a recusa, por parte de Jesus, em mudar o mundo mediante milagres; o imperativo do perdão incondicionado aos irmãos e irmãs (cf. Lc 16,19-17,4). É diante disso que os apóstolos reagem assustados e preocupados, e suplicam a Jesus: “Aumenta a nossa fé!”
Qual é o problema dos apóstolos, daqueles escolhidos por Jesus e de todos os que vieram depois? Sentimo-nos incapazes de romper com alguns valores profundamente arraigados e tidos como essenciais pela cultura religiosa: a necessidade de punir as pessoas consideradas pecadoras ou impuras; a sedução por uma religião que prioriza ações espetaculares; a valorização absoluta da riqueza e do próprio bem-estar, como se fosse sinal inequívoco da benção de Deus, mesmo quando conseguida às custas da indiferença; e assim por diante.
Os apóstolos percebem vivamente que necessitam da luz e da força da fé para superar esta floresta de amoreiras que impedem a vida e a compaixão. Eles sabem que a fé não é estéril, mas parecem ignorar que seus frutos não são necessariamente espetaculares. Trata-se da irresistível atração pelas coisas grandiosas e que ainda hoje leva tantos irmãos e irmãs a lerem a metáfora usada por Jesus de forma literal. É triste assistir à multiplicação de pretensos milagres em templos, estádios e praças, com transmissão ao vivo...
O que chama a atenção na resposta de Jesus não é o apelo a uma fé prodigiosa e espetacular, mas a necessidade de uma fé mínima. “Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda...” O próprio Jesus sempre evitou recorrer a ações miraculosas para ser fazer ouvido e aceito. Ele tinha consciência de que a fé não procede do milagre, mas o precede. É a fé que nos leva a ver maravilhas, e não as ações maravilhosas que despertam a fé. As ações de Jesus que chamamos de milagres são respostas compassivas do socorro de Deus em favor de quem não tem com quem contar.
O fruto da fé se mostra substancialmente na descoberta da própria dignidade socialmente negada e no olhar que reconhece os seres humanos e todas criaturas como parceiras e irmãs. O Vaticano II diz que a fé tem força crítica e dinamismo libertador, pois “ilumina com sua luz tudo que existe e manifesta o propósito divino a respeito da plena vocação humana, orientando assim o espírito para as verdadeiras soluções” (GS 11). Ou, como diz o Papa Francisco, “a fé nos dá a justa dimensão de todas as coisas, fazendo-nos ver o mundo com os olhos e o coração de Deus”. Mesmo parecendo pequena, desprezível e frágil como semente de mostarda, ela tem força para jogar no fundo do mar as estruturas poderosas e opressoras simbolizadas pela amoreira.
Mas para que isso aconteça, é preciso ser capaz de romper com a lógica do poder. Nesta perspectiva, Paulo lembra a Timóteo a fé sincera que recebeu da sua avó Loide e da sua mãe Eunice, e pede-lhe que conserve esse dom sempre vivo e ativo. A fé gosta de vir acompanhada pela fortaleza, pelo amor e pela sobriedade. Como Paulo e Timóteo, os verdadeiros missionários não conhecem a vergonha, nem diante de Jesus Cristo, nem diante da perseguição ou do escárnio que sofrem aqueles que levam adiante seu projeto. Como o caso daqueles que, desavergonhadamente, se opõem ao Sínodo da Amazônia.
A ação missionária da Igreja é sempre frutuosa, mas ao modo do grão de mostarda. O trabalho generoso dos missionários, quando brota do ventre da compaixão e da misericórdia, jamais será estéril. Aqueles que agem como filhos de Deus. Talvez seja exatamente isso o que os missionários têm a oferecer ao mundo em nome dos cristãos: uma fé capaz de romper com todos os dinamismos de isolamento e de dominação; um amor capaz de reestabelecer a dignidade de quem a tem negada; uma ação que articula a fé com a defesa da integridade da criação, que considera que tudo está interligado.
É a ti que nos dirigimos, Deus Pai e Mãe, neste primeiro domingo do Mês Missionário Extraordinário. Dá-nos uma fé capaz de construir pontes com os demais homens e mulheres e de impedir a tentação do isolamento. Faz com que o encontro com o teu Filho e nosso Irmão nos torne autênticos discípulos, destemidos apóstolos e eloquentes testemunhas no serviço solidário e gratuito aos mais pobres. Vem em nosso auxilio para que nossa fé, mesmo sendo pequena como semente de mostarda, seja ativa, remova as amoreiras da injustiça social e da depredação das natureza, e dinamize a presença dos cristãos no mundo. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Habacuc 1,2-3.2,2-4 | Salmo 94 (95)
2ª Carta de Paulo A Timóteo 1,6-8 | Evangelho de São Lucas 17,5-10

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