quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR | 02.02.2020


Jesus assume a condição humana e se faz nosso irmão.
A passagem do Evangelho sugerida para a Festa da Apresentação do Senhor reúne uma série de episódios interligados: a apresentação de Jesus no templo, o encontro com Simeão e sua profecia sobre o Menino, o encontro com a profetiza Ana, o retorno a Nazaré e o crescimento normal e anônimo de Jesus. As três primeiras cenas se desenrolam no templo, centro espiritual e cultural do judaísmo. O último é uma espécie de contraponto teológico ao templo, e se desenrola em Nazaré, na região da Galileia. Mesmo encravada no tempo comum, esta celebração está espiritualmente ligada ao ciclo do Natal.
A primeira cena mostra a apresentação de Jesus ao templo. As leis judaicas obrigavam os pais a consagrar a Deus seu filho primogênito. Para recuperar o direito sobre os filhos devidos a Deus, precisavam resgatá-los mediante uma oferta. Lucas não menciona a oferta pelo resgate de Jesus, mas somente a oferta de purificação de uma mãe pobre. "Se ela não tem meios para comprar um cordeiro, pegue duas rolas ou dois pombinhos: um para o holocausto e outro para o sacrifício pelo pecado" (Lv 12,8).
A segunda cena apresenta o encontro de José e Maria com Simeão, homem piedoso e devoto que cultiva a esperança da vinda do Messias. Simeão não é sacerdote e nem vive no templo; é um homem justo, como José e, como os pastores, capaz de reconhecer o Messias na fragilidade do menino que acolhe nos braços. Simeão credita que no Messias todos os povos são acolhidos e salvos por Deus. Ele reconhece e apresenta o menino Jesus como luz para todas as nações e povos.
O pai e a mãe de Jesus ficam maravilhados com o que Simeão diz do menino. É a reação própria de quem acolhe com gratidão a ação libertadora de Deus na história mediante os pobres e humildes. E esse estupor tem dois motivos: o primeiro, é o fato de Simeão reconhecer Jesus como Messias, mesmo sem ter recebido nenhuma informação a respeito; o segundo, são as palavras de Simeão anunciando o caráter e a missão universal de Jesus. José e Maria são discípulos e aprendizes, e precisam descobrir o sentido de tudo isso.
Simeão invoca sobre José e Maria a bênção de Deus, e lhes fala das contradições que o filho provocaria, da sua missão de revelar aquilo que está escondido no silêncio malicioso dos homens. Fala também sobre o destino do filho, e prevê os sofrimentos de Maria, parábola dos sofrimentos do povo de Deus. Quem partilha o projeto e a vida de Jesus acaba partilhando também a contradição que ele provoca, sua rejeição e seu aparente fracasso como pregador. Estar com ele significa sofrer com ele.
Uma segunda pessoa que dá testemunho de Jesus no templo é Ana. Além de piedosa, seu nome significa “oferta” e ela é conhecida como intérprete dos desígnios de Deus. Ana se aproxima de Jesus e seus pais, como os pastores e Simeão haviam feito antes. Também ela acolhe e entende o sinal, e anuncia aos quatro ventos a salvação que em Jesus se manifesta. Ana louva a Deus pelo que lhe fora dado presenciar, e anuncia o Messias presente no menino a todos aqueles que o esperam teimosamente.
Os dois últimos versículos são uma espécie de contra­ponto ao entusiasmo despertado no pequeno círculo das pessoas reunidas no templo. A volta a Nazaré é uma descida da exaltação no templo ao anonimato em Nazaré. É nesta suspeita vila da Galileia que o menino cresce e fica forte, cheio de sabedoria. Uma sabedoria adquirida longe do templo, participando na vida cotidiana do povo. No templo Jesus é apresentado a Deus e brilha, mas em Nazaré é apresentado ao povo de Deus e com ele se identifica radicalmente.
A Carta aos Hebreus vai na mesma linha se sentido. Jesus assume a condição comum a todos os homens e mulheres, faz-se em tudo semelhante a nós, é uma espécie de encarnação de uma misericórdia que merece confiança e que nos liberta do medo escravizador. Por ter experimentado o sofrimento e a tentação, próprias da condição humana no mundo, Jesus é capaz de socorrer aqueles que sofrem e são tentados pelo desânimo. Apresentado a Deus no templo, Jesus é por ele devolvido à humanidade como irmão solidário e salvador.
Jesus de Nazaré, filho amado de Maria e de José, anjo da Aliança e em tudo semelhante a nós! Bendito sejas por tua divina raiz e pela tua proximidade redentora! Tua presença confirma nossos sonhos e descobre nossas ambiguidades! Que tua Presença e tua Palavra sejam força a nos reerguer e, através de nós e da comunidade que nasce do teu lado aberto, luz e liberdade para todos os povos! E que os homens e mulheres que a ti se consagram te louvem e anunciem com a vida! Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Malaquias | Salmo 23
Carta de Paulo aos Hebreus 2,14-18| Evangelho de São Lucas 2,22-40

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