MENSAGEM PARA O 50º DIA MUNDIAL DE ORAÇÕES PELAS VOCAÇÕES
21 DE ABRIL DE 2013 - IV
DOMINGO DE PÁSCOA
As vocações são sinal da
esperança fundada na fé
Amados irmãos e irmãs!
Nestas cinco décadas, as várias comunidades eclesiais dispersas pelo
mundo inteiro têm-se espiritualmente unido todos os anos, no IV Domingo de
Páscoa, para implorar de Deus o dom de santas vocações e propor de novo à
reflexão de todos a urgência da resposta à chamada divina. Na realidade, este
significativo encontro anual tem favorecido fortemente o empenho por se
consolidar sempre mais, no centro da espiritualidade, da acção pastoral e da
oração dos fiéis, a importância das vocações para o sacerdócio e a vida
consagrada.
A esperança é expectativa de algo de positivo para o futuro, mas que
deve ao mesmo tempo sustentar o nosso presente, marcado frequentemente por
dissabores e insucessos. Onde está fundada a nossa esperança? Olhando a
história do povo de Israel narrada no Antigo Testamento, vemos aparecer
constantemente, mesmo nos momentos de maior dificuldade como o exílio, um
elemento que os profetas de modo particular não cessam de recordar: a memória
das promessas feitas por Deus aos Patriarcas; memória essa que requer a
imitação do comportamento exemplar de Abraão, o qual– como sublinha o Apóstolo
Paulo– «foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele
acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido
dito: Assim será a tua descendência» (Rm 4,18). Então, uma verdade consoladora
e instrutiva que emerge de toda a história da salvação é a fidelidade de Deus à
aliança, com a qual Se comprometeu e que renovou sempre que o homem a rompeu
pela infidelidade, pelo pecado, desde o tempo do dilúvio (cf. Gn 8,21-22) até ao êxodo e ao caminho
no deserto (cf. Dt 9,7); fidelidade de Deus que foi até
ao ponto de selar anova e eterna aliança com o homem por meio do sangue de seu
Filho, morto e ressuscitado para a nossa salvação.
Em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis, é sempre a fidelidade
do Senhor– verdadeira força motriz da história da salvação–que faz vibrar os
corações dos homens e mulheres e os confirma na esperança de chegar um dia à
«Terra Prometida». O fundamento seguro de toda a esperança está aqui: Deus
nunca nos deixa sozinhos e permanece fiel à palavra dada. Por este motivo, em
toda a situação, seja ela feliz ou desfavorável, podemos manter uma esperança
firme, rezando como salmista: «Só em Deus descansa a minha alma, d’Ele vem a
minha esperança»(Sl62/61,6). Portanto ter esperança equivale a confiar
no Deus fiel, que mantém as promessas da aliança. Por isso, a fé e a esperança
estão intimamente unidas. A esperança «é, de facto, uma palavra central da fé
bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos
“fé” e “esperança”. Assim, a Carta
aos Hebreus liga
estreitamente a “plenitude da fé” (10,22) com a “imutável profissão da
esperança” (10,23). De igual modo, quando a Primeira
Carta de Pedroexorta os cristãos a estarem sempre prontos a responder a
propósito do logos – o sentido e a razão – da sua
esperança (3,15), “esperança” equivale a “fé”» (Enc. Spe salvi, 2).
Amados irmãos e irmãs, em que consiste a fidelidade de Deus à qual
podemos confiar-nos com firme esperança? Consiste no seu amor. Ele, que é Pai,
derrama o seu amor no mais íntimo de nós mesmos, através do Espírito
Santo(cf.Rm 5,5).E é precisamente este amor, manifestado plenamente em Jesus
Cristo, que interpela a nossa existência, pedindo a cada qual uma resposta a
propósito do que quer fazer da sua vida e quanto está disposto a apostar para a
realizar plenamente. Por vezes o amor de Deus segue percursos surpreendentes,
mas sempre alcança a quantos se deixam encontrar. Assim a esperança nutre-se
desta certeza: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1
Jo 4,16). E este amor
exigente e profundo, que vai além da superficialidade, infunde-nos coragem,
dá-nos esperança no caminho da vida e no futuro, faz-nos ter confiança em nós
mesmos, na história e nos outros. Apraz-me repetir, de modo particular a vós
jovens, estas palavras: «Que seria da vossa vida, sem este amor? Deus cuida do
homem desde a criação até ao fim dos tempos, quando completar o seu desígnio de
salvação. No Senhor ressuscitado, temos a certeza da nossa esperança» (Discurso aos jovens da
diocese de São Marino-Montefeltro, 19 de Junho de 2011).
Também hoje, como aconteceu durante a sua vida terrena, Jesus, o
Ressuscitado, passa pelas estradas da nossa vida e vê-nos imersos nas nossas
actividades, com os nossos desejos e necessidades. É precisamente no nosso
dia-a-dia que Ele continua a dirigir-nos a sua palavra; chama-nos a realizar a
nossa vida com Ele, o único capaz de saciar a nossa sede de esperança. Vivente
na comunidade de discípulos que é a Igreja, Ele chama também hoje a segui-Lo. E
este apelo pode chegar em qualquer momento. Jesus repete também hoje: «Vem e
segue-Me!» (Mc10,21). Para
acolher este convite, é preciso deixar de escolher por si mesmo o próprio
caminho. Segui-Lo significa entranhar a própria vontade na vontade de Jesus,
dar-Lhe verdadeiramente a precedência, antepô-Lo a tudo o que faz parte da
nossa vida :família, trabalho, interesses pessoais, nós mesmos. Significa
entregar-Lhe a própria vida, viver com Ele em profunda intimidade, por Ele
entrar em comunhão com o Pai no Espírito Santo e, consequentemente, com os
irmãos e irmãs. Esta comunhão de vida com Jesus é o «lugar» privilegiado onde
se pode experimentara esperança e onde a vida será livre e plena.
As vocações sacerdotais e religiosas nascem da experiência do encontro
pessoal com Cristo, do diálogo sincero e familiar com Ele, para entrar na sua
vontade. Por isso, é necessário crescer na experiência de fé, entendida como
profunda relação com Jesus, como escuta interior da sua voz que ressoa dentro
de nós. Este itinerário, que torna uma pessoa capaz de acolher a chamada de Deus,
é possível no âmbito de comunidades cristãs que vivem uma intensa atmosfera de
fé, um generoso testemunho de adesão ao Evangelho, uma paixão missionária que
induza a pessoa à doação total de si mesma pelo Reino de Deus, alimentada pela
recepção dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, e por uma fervorosa vida
de oração. Esta «deve, por um lado, ser muito pessoal, um confronto do meu eu
com Deus, com o Deus vivo; mas, por outro, deve ser incessantemente guiada e
iluminada pelas grandes orações da Igreja e dos santos, pela oração litúrgica,
na qual o Senhor nos ensina continuamente a rezar de modo justo» (Enc. Spe salvi, 34).
A oração constante e profunda faz crescera fé da comunidade cristã, na
certeza sempre renovada de que Deus nunca abandona o seu povoe que o sustenta
suscitando vocações especiais, para o sacerdócio e para a vida consagrada, que
sejam sinais de esperança para o mundo. Na realidade, os presbíteros e os
religiosos são chamados a entregar-se de forma incondicional ao Povo de Deus,
num serviço de amor ao Evangelho e à Igreja, num serviço àquela esperança firme
que só a abertura ao horizonte de Deus pode gerar.
Assim eles, com o testemunho da sua fé e com o seu fervor apostólico,
podem transmitir, em particular às novas gerações, o ardente desejo de
responder generosa e prontamente a Cristo, que chama a segui-Lo mais de perto.
Quando um discípulo de Jesus acolhe a chamada divina para se dedicar ao
ministério sacerdotal ou à vida consagrada, manifesta-se um dos frutos mais
maduros da comunidade cristã, que ajuda a olhar com particular confiança e
esperança para o futuro da Igreja e o seu empenho de evangelização. Na verdade,
sempre terá necessidade de novos trabalhadores para a pregação do Evangelho, a
celebração da Eucaristia, o sacramento da Reconciliação.
Do mesmo modo, desejo que os jovens, no meio de tantas propostas superficiais
e efémeras, saibam cultivar a atracção pelos valores, as metas altas, as opções
radicais por um serviço aos outros seguindo os passos de Jesus. Amados jovens,
não tenhais medo de O seguir e de percorrer os caminhos exigentes e corajosos
da caridade e do compromisso generoso. Sereis felizes por servir, sereis
testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis chamas vivas de um
amor infinito e eterno, aprendereis a «dar a razão da vossa esperança» (1
Ped 3,15).
Vaticano,
6 de Outubro 2012.
PAPA BENTO XVI
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