"Minha própria vinha eu
não posso cuidar…"
“Sou morena, mas sou formosa, mulheres de Jerusalém!... Não me olheis com desdém por eu ser morena...
Meus irmãos irritaram-se comigo e me puseram de guardiã das vinhas, mas minha
própria vinha eu não pude guardar...” (Ct 1,5-6).
Estas frases do poema bíblico conhecido como Cântico dos Cânticos foi o fio de inspiração para o encontro de
oração organizado mensalmente pelos Promotores
de Justiça, Paz e Integridade da Criação (PJPIC), na Igreja São Marcelo, em Roma, na última sexta-feira (26.04.2013).
A realidade concreta proposta como
matéria de oração foi a vida do povo da República Centro-africana.
A República Centro-africana tem uma população de quase quatro milhões e
meio de habitantes e está localizada no centro geográfico do continente
africano. É um país rico em recursos naturais (especialmente ouro, urânio e
diamante), mas é um dos mais pobres do continente. A maioria da população é
cristã de várias confissões (80%) e no norte predomina a presença muçulmana.
A República Centro-africana conquistou sua independência política da
França em 1960. Mas, como aconteceu com a maioria das ex-colônias, a influência
francesa permaneceu muito forte nas décadas seguintes. Em 2003 chegou ao poder o
presidente François Bozizé. Em 2007 as forças rebeldes que combatiam o governo
central de Bangui, antes dispersas, se aliaram e se concentraram na região
norte do país. Isso representou um ato de rebelião contra o presidente Bozizé, acusado
de não respeitar o acordo de paz assinado com as forças rebeldes.
No mês de dezembro de 2012 as milícias rebeldes começaram a avançar em
direção à capital e conquistaram algumas cidades estratégicas para o comércio
do ouro e do diamante. Em março de 2013 as forças rebeldes entraram na capital
e depuseram o presidente Bozizé, que fugiu do país. O roubo e a criminalidade
em geral tomou conta do país e provocou caos por todo lado. Mais de trinta e
sete mil cidadãos tiveram que se refugiar nos países vizinhos.
A
tristeza e a dor da África negra
John Baur comenta: “A mulher negra do Cântico dos Cânticos grita de alegria. Mas também grita de angústia
quando perde o esposo. Nos últimos anos, parece que o rosto alegre do povo
africano foi se transformando no rosto triste da mulher negra que chora tantos
filhos/as vítimas da injustiça, da exploração e da opressão, filhos/as mortos
pela fome ou pelas guerras fratricidas. Mas o Cântico termina com a fé
invencível da esposa: ‘O amor é mais forte que a morte!’”

A
indiferença mata!
Rezar pelo povo da República Centro-africana pode parecer pouco. Mas calar
e fazer de conta que não está acontecendo nada é pior ainda. Num mundo no qual circulam diariamente milhões
de informações, o silêncio e a inércia diante daquilo que acontece com os povos
africanos é um pecado mais que mortal. Que nossas comunidades cristãs e nossas
celebrações sejam caixas de ressonância do clamor dos povos negros e
laboratórios onde se desenvolvam iniciativas solidárias e libertadoras.
Itacir Brassiani msf
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