Pe. Ceolin: um auto-retrato
provisório (III)
Depois de
termos apresentado traços da auto-biografia e da “profissão de fé” do Pe.
Ceolin, vamos vislumbrar hoje alguns traços do “auto-retrato” que capta como
ele se sentia e se via no início do ano 2000. Falando um pouco a contra-gosto
de si mesmo, ele escrevia no seu Projeto
de Vida: “Considero-me uma pessoa dotada de boa inteligência, embora já não
possua mais uma boa memória. Sou bastante perspicaz, com um bom grau de
criatividade e espírito inovador. Adapto-me com facilidade face ao novo. Sou
compreensivo e bondoso, e tolerante com as faltas alheias.” Em 1999, registrava ainda: “Um tanto alegre e chistoso,
dotado de bastante bondade e compreensão”. Como ler isso
escrito pelas suas próprias mãos, sem risco de inflação do ego, mesmo depois
que ele nos deixou...

À pergunta
sobre as maiores dificuldades e carências que sentia naquela fase da vida, ele
respondia com impressionante e sincera auto-crítica: “Debilidade da minha
vontade; uma cerca carência afetiva; inconstância na vida de oração e no
cultivo pessoal; uma certa tensão interior, junto com a impaciência e insegurança
levam-me a ser taciturno; mania de censurar os outros em público; excesso de
moralismo e nagativismo. Vivo bastante insatisfeito comigo mesmo, em razão de
alguns defeitos que não consigo corrigir.” A estas dificuldades pessoais ele
acrescentava, em 1999, “a dependência do fumo”, “a mania de ser um sabe-tudo” e
“atitudes irônicas com as pessoas”. Por fim, registrava: “Venho exercendo o
ministério da formação meio a contra-gosto, por considerá-lo desgastante,
devido à minha idade e mentalidade”.
Da fato, no
ano 2000, já com setenta anos de idade e uma saúde que não era das melhores, o
Pe. Rodolpho era responsável pela caminhada formativa dos junioristas e vivia
com eles no Bairro Castelarin, em Santo Ângelo, que ele mesmo descrevia como “bairro
pobre e de periferia, social e religiosamente muito carente, com grande número
de pessoas desempregadas”. E acrescentava: “Em nosso meio, ainda restam sinais
e vestígios de violência e marginalidade, outrora assustadoras”. Sobre sua
vivência com os junioristas e seus compromissos pastorais, escrevia: “Convivo
com doze junioristas, estudantes de teologia. Nossa residência está cercada de
famílias pobres e humildes. Envolvo-me bastante pastoralmente com o povo da
Igreja matriz, das comunidades dos bairros e do interior da paróquia da Sagrada
Família.”
Nesta
situação pessoal e social muito concreta, nosso saudoso coirmão apontava aquilo
que, na sua própria percepção, deveria “encarar com mais seriedade e método”: “O
cultivo pessoal programado e perseverante; o revigoramento da vontade,
através de exercícios simples que conheço; intensificar e melhorar a qualidade
da oração;
manter o cuidado com a saúde e a higiene pessoal; estabelecer ações diárias e
concretas de gratuidade.”
Não é
bonito e instigante se defrontar com uma pessoa que, nesta idade e depois de
ter desempenhado tantas responsabilidades de coordenação, reconhece tão
serenamente os próprios limites e carências e se propõe tão humildemente caminhos
e práticas concretas que sustentem seu desejado processo de crescimento humano
e espiritual?
Itacir Brassiani msf
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