quinta-feira, 7 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher: As cinco mulheres que derrubaram a ditadura boliviana


Quero celebrar o Dia Internacional da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade com uma espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e a grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas colunas sociais. São simples e breves flashes de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat:
“Um aroma suave / exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”

Cinco mulheres

“O inimigo principal, qual é? A ditadura militar? A burguesia bolivariana? O imperialismo? Não, companheiros. Eu quero dizer só isso: nosso inimigo principal é o medo. Temos medo por dentro..:”
Só isso disse Domitila na mina de estanho de Catavi e então veio para a capital com outras quatro mulheres e uma vintena de filhos.
No Natal começaram a greve de fome. Ninguém acreditou nelas. Vários acharam que esta era uma boa piada. “Quer dizer que cinco  mulheres vão derrubar a ditadura?...”
O sacerdote Luís Espinal é o primeiro a se somar. Num minuto já são mil e quinhentos os que passam fome na Bolívia inteira, de propósito. As cinco mulheres, acostumada à fome desde que nasceram, chamam a água de frango ou peru, de costeleta o sal, e o riso as alimenta...
Enquanto isso, multiplicam-se os grevistas de fome, três mil, dez mil, até que são incontáveis os bolivianos que deixam de comer e deixam de trabalhar. E vinte e três dias depois do começo da greve de fome o povo se rebela e invade as ruas e já não há como parar isso.
As cinco mulheres derrubam a ditadura militar (no início de 1978). (Eduardo Galeano, O século do vento. Memória do fogo, vol. 3, L&PM Pocket vol. 909, 2010, p. 352)

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