quarta-feira, 27 de março de 2013

Homenagem ao Pe. Comblin


Uma memória do Padre José Comblin

No último domingo de Ramos, 24 de março, celebramos os 33 anos do martírio de Monsenhor Romero. O quanto padre José Comblin reverenciava Romero a quem considerou um dos Santos Padres da América Latina! Dizia que “Oscar Romero nunca teria sido profeta se não tivesse sido arcebispo de San Salvador na época da ditadura militar no seu país.” e mais adiante conclui: “A missão profética começa quando se descobre a realidade da opressão e da violência, ou seja, a verdadeira condição dos pobres”.
Certamente se regozijam juntos lá no céu e acompanham a jornada terrestre da Igreja à qual buscaram dar a feição de Jesus: uma igreja presente, compassiva, humilde e humana, acolhedora dos pequenos, defensora dos pobres.
Dois anos se passaram desde a Páscoa de padre José Comblin. E como sentimos a sua falta... Sobretudo por ocasião da renúncia do Papa: quantos desejaram ouvir suas palavras, suas análises, sua opinião. E mais ainda com a eleição de Francisco. O que ele nos diria a partir do seu aguçado sentido da história? Ele sempre enxergava mais longe. Dizia que o que está em jogo é a necessidade de mudança no modo de exercício do ministério de Pedro.
Dizia seguidamente que a Igreja precisa mudar. Na sua visão, o caminho seria o retorno à simplicidade das origens, simplicidade de vida, de relações, no exercício do governoe da autoridade. Retomar a simplicidade nocontexto atual sempre mais complexo edesafiante, que exige criatividade para atualizar as respostas. Voltar ao essencial, priorizar as relações humanas, a acolhida, a compaixão, o serviço, a solidariedade. Voltar-se aos pobres que continuam sendo bilhões e são os prediletos do Pai, e sempre serão. E ter a coragem de demolir tudo o que esconde a face de Jesus e o Evangelho. Hoje cada vez mais são os gestos que falam, são as atitudes que autenticam qualquer palavra. A humanidade carece de gestos fortes, contundentes, que apontem outro rumo, o rumo da fraternidade, da irmandade, da prioridade da pessoa humana, da verdade e da justiça, do cuidado especialmente com os pobres e com a natureza, a mãe terra e água.
E ele sempre dizia que é o Espírito que conduz e mostra os caminhos da missão, que leva ao encontro dos pobres. É preciso deixar-se conduzirpelo Espírito e ter como critério a lei maior que é o Amor. Assim ele mesmo pautou a sua vida quando afirmava: “A Missão não se pode planejar: temos que deixar o Espírito Santo conduzir. Podemos, sim, decidir aonde iremos; mas ao chegar, se tivermos abertura e sensibilidade ao que encontrarmos, não mais podemos planejar: cada situação exige uma resposta, uma ação, uma continuação...  Será o Espírito que dirá o que fazer, como prosseguir!”
Foi assim que ele seguiu o seu sacerdócio, tornou-se missionário, veio para o Brasil e para a América Latina, percorreu esse continente buscando ser presença nas Igrejas particulares onde ele percebia abertura ao novo, ao sopro do Espírito. A liberdade cristã é deixar-se conduzir pelo Espírito, sem itinerários pré-definidos, mas atentos aos apelos da realidade, às condições de vida dos pobres, descobrindo como intervir sem perder a hora. Certamente muito podemos aprender seguindo os percursos de sua vida.
Sem dúvida ele viveu os tempos privilegiados do despertar da Igreja Latino Americana. Ele chegou pouco antes do Concílio Vaticano II. Acompanhou e contribuiu com as conferencias episcopais que, sobretudo em Medellín, buscaram aplicar à realidade do continente as intuições conciliares. Foi incansável nas articulações, nas assessorias, nas análises elucidativas da realidade, das necessidades, da condição de vida do povo latino-americano, das necessárias respostas eclesiais. Secundou o nascimento da Teologia da Libertação, compartilhou os impasses, as incompreensões, alimentou as elaborações teológicas com perspicácia ímpar. Sempre destacava algo novo, muitas vezes incomodo, nem sempre compreendido, sua percepção fina da realidade muitas vezes era considerada pessimismo. Mas nós somos testemunhas da sua Fé, da sua Esperança, do seu Amor à Igreja e aos Pobres. Por ele fomos provocados e estimulados ao seguimento de Jesus. Ele nos ajudou a encontrar o Jesus dos Evangelhos que atraiu e segue atraindo discípulos, dois mil anos depois.
Há poucos dias celebramos antecipadamente os noventa anos do seu nascimento, através de uma Romaria ao Santuário Padre Ibiapina, na Paraíba, onde ele se encontra sepultado. Cerca de 450 pessoas, amigos, discípulos, alunos e ex-alunos das Escolas e Centros de Formação Missionária vieram de todos os estados do Nordeste, também do Amazonas, Maranhão, Mato Grosso e até do Sudeste! Proclamamos através das Celebrações, vigílias, depoimentos, testemunhos e apresentações que a esperança dos Pobres vive e viverá! Foram momentos ricos de memória e ação de graças, bebendo na fonte destes grandes mestres da Fé, da Esperança e da Caridade, os padres Ibiapina e José Comblin. Foi a 1ª Romaria Missionária, que desejamos repetir a cada cinco anos, retomando a memória e renovando nossa Fé, porta de entrada para a Esperança, como ele mesmo nos ensinava.
A Esperança renasceu no coração de muitos que experimentaram nesse imenso encontro-reencontro de irmãos e irmãs, o quanto a Igreja Povo de Deus, a Igreja dos Pobres está viva, presente e atuante na marcha da Libertação. Humilde e pobre, presente e anônima nas galiléias de nosso Brasil, seguimos firmes de olhos fixos em Jesus, nossa meta e nossa Esperança. Mas precisamos conhecer sempre mais o Jesus que se revela nos Evangelhos. E contar com a força do Espírito para atualizar a presença de Jesus em nosso mundo, em nossa sociedade, no chão onde vivemos e atuamos!
Querido padre José Comblin, obrigada pelo seu testemunho e pelos seus ensinamentos que nos alimentarão para sempre! Interceda por nós para que sejamos fiéis e perseverantes, que escutemos o clamor dos pobres e não nos calemos!

Monica Maria Muggler
24 de março de 2013
Martírio de Mons. Oscar Romero!

Nenhum comentário: