terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Curso de missiologia (Passo Fundo - 2)

Vaticano II: um processo de conversão
Depois de nos apresentar a interessante reflexão sobre os paradigmas da missão, o professor Mémore Restori nos conduziu numa instigante reflexão sobre as mudanças e novidades que o Concilio Vaticano II introduziu na reflexão sobre a missão. São várias as passagens operadas: de uma Igreja que dizia ter missões a Igreja se entende intrinsecamente missionaria; de uma missão operada como conquista para uma missão centrada no diálogo; de uma missão focalizada na Igreja para uma missão ordenada ao Reino de Deus
Isso significa que, no horizonte do Vaticano II, a finalidade da missão é colaborar com o plano salvífico de Deus, e não implantar a Igreja onde ela ainda não se estabeleceu. A atitude fundamental do missionário é reconhecer que Deus está desde sempre dialogando com os povos. Todas as religiões contém sementes do Verbo de Deus e lampejos da Verdade que salva. É mais do que claro que isso representa uma virada copernicana na missiologia!
O Decreto Ad Gentes, sobre a ação missionaria da Igreja, foi aprovado no dia 7 de dezembro de 1965, dois dias antes da conclusão do Concilio, por 2.394 votos favoráveis e apenas 5 votos contrários. Foi um sinal inequívoco de uma acolhida maciça da novidade já anunciada nos documentos anteriores, mas o documento sobre a missão enfrentou intensos debates no processo de elaboração.
Ad Gentes é uma espécie de observatório e laboratório da missão.  O primeiro capítulo, o mais importante, trata da natureza da missão. O segundo capítulo descreve a obra missionária: elementos práticos e fases da missão (testemunho, pregação, formação da comunidade crista). No terceiro capítulo fala-se das Igrejas particulares e sua missionariedade (as que nascem nas fronteiras da missão, igrejas jovens), enquanto que o capítulo quarto fala dos agentes da missão e sua formação. O penúltimo e o último capítulos abordam, respectivamente, a organização da atividade missionaria e a cooperação missionaria.
Depois do Vaticano II, em 1975, Paulo VI escreveu a Evangelii nuntiandi, que é uma espécie de carta magna da evangelização, resultado do Sínodo de 1974, que teve como tema a evangelização do mundo contemporâneo, na intenção de dar uma resposta leal, humilde, corajosa para depois agir consequentemente. Era um momento de tensão e de crise, com o perigo de perder a esperança. Esta encíclica provoca um deslocamento teológico, colocando em destaque central o Reino de Deus e a ação de Jesus Cristo, substituindo o conceito de missão pelo conceito de evangelização.
Evangelii nuntiandi entende que o anúncio do Evangelho é um serviço à comunidade e ao mundo, uma tarefa urgente em tempos de incertezas e desorientação. A evangelização é uma realidade complexa, que tem como meta renovar a humanidade, alcançar todos os extratos da sociedade, inclusive a cultura. Isso se faz através do testemunho de vida, do anúncio explícito de Jesus Cristo e seu Reino, levando à adesão pessoal e profunda ao Evangelho e à entrada numa comunidade eclesial concreta, transformando o evangelizado em um evangelizador. Os destinatários são universais, o anuncio deve chegar a todos os interlocutores.
Em 1990, João Paulo II nos dá a Redemptoris Missio, partindo da constatação de que a missão especifica ad gentes parecia estar esmorecendo, de que o número de pessoas que não conhecem (ou rejeitam) Jesus Cristo e o Evangelho estavam crescendo. Nesse contexto, o Papa queria resgatar a força dinâmica da missão. O documento protagoniza um novo deslocamento teológico: enquanto que Ad Gentes sublinha a Trindade e Evangelii Nuntiandi atribui ao Espírito Santo o papel de protagonista da missão, Redemtoris Missio coloca toda a ênfase em Jesus Cristo.  
Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: