quinta-feira, 2 de agosto de 2018

O Evangelho dominical - 05.08.2018


PÃO DE VIDA ETERNA

Porquê continuarmos a interessar-nos por Jesus depois de vinte séculos? Que podemos esperar Dele? Que ele pode contribuir aos homens e mulheres do nosso tempo? Irá, acaso, resolver os problemas do mundo atual? O evangelho de João fala de um diálogo de grande interesse que Jesus mantem com uma multidão na margem do lago da Galileia.
O dia anterior haviam partilharado com Jesus uma refeição surpreendente e gratuita. Comeram pão até saciarem-se. Como o vão deixar partir? O que procuram é que Jesus repita o Seu gesto e os volte a alimentar grátis. Não pensam em outra coisa.
Jesus desconcerta-os com uma abordagem inesperada: «Esforçai-vos não para conseguir o alimento transitório, mas o permanente, o que dá a vida eterna». Mas como não nos preocuparmos pelo pão de cada dia? O pão é indispensável para viver. Necessitamos e devemos trabalhar para que nunca falte a ninguém.
Jesus sabe-O. O pão é o primeiro. Sem comer não podemos subsistir. Por isso se preocupa tanto dos famintos e mendigos, que não recebem dos ricos nem as migalhas que caem da sua mesa. Por isso amaldiçoa os latifundiários insensatos que armazenam o grão sem pensar nos pobres. Por isso ensina os Seus seguidores a pedir cada dia ao Pai pão para todos os seus filhos.
Mas Jesus quer despertar neles uma fome diferente. Fala-lhes de um pão que não sacia só a fome de um dia, mas a fome e a sede de vida que há no ser humano. Não podemos esquecer. Em nós há uma fome de justiça para todos, uma fome de liberdade, de paz, de verdade. Jesus apresenta-se como esse Pão que nos vem do Pai não para nos enchermos de comida, mas «para dar vida ao mundo».
Este Pão vem de Deus «dá a vida eterna». Os alimentos que comemos cada dia nos mantem vivos durante anos, mas chega um momento em que não podem defender-nos da morte. É inútil que sigamos comendo. Não nos podem dar vida para lá da morte.
Jesus apresenta-se como «Pão de vida eterna». Cada um há de decidir como quer viver e como quer morrer. Mas os que nos chamamos seguidores Seus temos de saber que acreditar em Cristo é alimentar em nós uma força imperecível, começar a viver algo que não acabará com a nossa morte. Simplesmente, seguir Jesus é entrar no mistério da morte, sustentados pela Sua força ressuscitadora.
Ao escutar as Suas palavras, aquelas pessoas de Cafarnaum gritavam-lhe desde o fundo do Seu coração: «Senhor, dai-nos sempre desse pão». Desde a nossa fé vacilante, por vezes não nos atrevemos a pedir algo semelhante. Talvez só nos preocupa a comida de cada dia. E às vezes só a nossa.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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