quinta-feira, 26 de setembro de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-SEXTO DOMINGO | 29.09.2019


A Palavra de Deus nos mostra o caminho e pede conversão!
Caminhando decididamente para Jerusalém, arena do confronto definitivo com os poderes que discriminam, excluem e matam, inclusive em nome de Deus, Jesus continua alertando e formando seus discípulos em relação à tentação da aparência, do dinheiro e do poder. Ele polemiza com os fariseus, mas sua atenção está voltada aos discípulos. A fé na sua Palavra e a adesão aos seus ensinamentos deve qualificar a relação dos seus discípulos com os bens e com os pobres. Uma fé vivida unicamente como remédio para nossos males individuais ou como combustível para uma carreira de sucesso tem pouco a ver com ele.
Tanto no tempo do Jesus como hoje, há um abismo tão real quanto ignorado e encoberto que separa as pessoas que frequentam a mesma comunidade, os cidadãos de um mesmo pais, os habitantes do único planeta. É isso que aparece na parábola de hoje: há um rico que se veste elegantemente e dá esplêndidas festas todos os dias; e há um pobre coberto de feridas, devorado pela fome, rodeado de cães e sentado na calçada, em frente à porta da casa do rico, absolutamente invisível a irrelevante para ele. Profetas como Amós já levantavam sua voz e denunciavam o insulto dos banquetes dos ricos frente à miséria dos pobres.
No centro da vida cristã está a compaixão pelos pobres, e não há lugar para a indiferença e a busca do próprio bem-estar individual a qualquer custo. O caminho entre a porta e a mesa deve ser amplo e aberto! Jesus não aceita a indiferença dos ricos frente aos sofrimentos dos pobres. Sua Palavra é clara e contundente: “Ai de vós, os ricos, porque já tendes vossa consolação!” (Lc 6,24). Ele insiste que os pobres e os sofredores devem ocupar os primeiros lugares na lista de convidados para as festas e celebrações (cf. Lc 14,13). Mas, o Brasil naturaliza casas-grandes e senzalas e não permite que Lázaro vá além da porta dos ricos.
Por isso, é estranho, para não dizer cínico, o grito do rico, depois da morte, pedindo que Lazaro tenha compaixão dele. O rico sem nome continua achando que os pobres devem estar a seu serviço: bem que eles poderiam aliviar a sede ou avisar seus parentes e livrá-los a tempo dos males que os esperam. Não pode não ser cinismo este apelo para que os pobres tenham compaixão dos ricos que sempre se vestiram de indiferença e prepotência. O caminho para o céu é nossa vida na terra, e a indiferença corta a comunicação, destrói as pontes, cava abismos e fere de morte a solidariedade entre as pessoas.
Jesus se demora na descrição das tentativas infrutíferas do homem rico para reverter uma situação irreversível, sem tomar consciência do abismo que ele mesmo cavou, pedindo que lhe tragam água para amenizar a sede e enviem um morto ressuscitado para convencer seus parentes da necessidade de mudar de atitude. Mas, na verdade, não há sinal poderoso ou milagre esplendoroso capaz de tocar o coração e a mente de quem se fechou em si mesmo e faz da indiferença uma couraça protetora. Nada pode curar aqueles que se fecharam à Palavra e dos profetas, dos apóstolos e do próprio Jesus.
É lamentável que ainda hoje muitos pregadores apresentem esta parábola simplesmente como uma espécie fotografia da inversão que a morte provocaria na vida real. Jesus não está falando da felicidade que espera os sofredores no paraíso futuro, ou do sofrimento destinado aos ricos depois da morte! O que ele enfatiza é o caráter decisivo e irreversível das opções que fazemos e das práticas que desenvolvemos no tempo presente! O caminho da vida cristã é pavimentado pela escuta da Palavra de Deus e pela conversão. E nela não há lugar para privilégios, nem para milagres fáceis e encomendados, pagos e golpes de dízimo.
Na carta a Timóteo, Paulo pede: “Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual fostes chamado.” Ele nos pede para juntar a piedade à prática da justiça, unir a solidariedade à fé, casar a mansidão com a perseverança no seguimento de Jesus Cristo, único e soberano líder que pode nos guiar a um mundo justo, fraterno e liberto.
“Fala, Senhor! Fala da Vida! Só tu tens palavras eternas, e nós queremos ouvir. São tantos os apelos que vêm dos oprimidos. Tu és quem liberta, o Deus dos esquecidos.” Ajuda-nos a vencer a indiferença que cava abismos entre pessoas que nasceram para ser irmãos e irmãs. Ensina-nos a acolher, compreender aquilo que nos dizes através dos profetas e santos de ontem e de hoje. Sustenta a coragem daqueles que denunciam golpes midiáticos e sequestros de direitos. E que tua Palavra seja sempre a luz dos nossos passos. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Amós 6,4-7 | Salmo 145 (146)
Carta de Paulo A Timóteo 6,11-16 | Evangelho de São Lucas 16,19-31

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