quarta-feira, 4 de setembro de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-TERCEIRO DOMINGO | 08.09.2019


A Palavra de Deus nos ajuda a viver com mais liberdade e lucidez!
Acabamos de celebrar a ‘Semana da Pátria’, e sobraram apelos vazios ao amor patriota e afirmações cínicas de defesa da soberania nacional, enquanto avança um criminoso programa de desmonte do país e cassação dos direitos sociais. A figura de um presidente tosco disfarça um programa de lesa-pátria. E Jesus Cristo, Palavra viva de Deus, chama a nossa atenção para as consequências da palavra dada e para os custos da realização das nossas decisões. Temos mesmo disposição de ir a fundo no seguimento de Jesus?
Nosso momento cultural não valoriza a prudência e o planejamento. A caderneta de poupança, com seu apelo a economizar, é coisa do passado. Hoje, reina absoluto o cartão de crédito, com seu permanente e sedutor convite a gastar sem planejamento, a seguir apenas os insaciáveis desejos de consumo. O que predomina e se impõe como regra é curtir e saborear a fundo o momento presente, sem preocupação com princípios e hábitos formulados por outros no passado, nem com aquilo que acontecerá no futuro.
Nesse ambiente, o seguimento responsável e maduro de Jesus Cristo sofre ameaças. Precisamos nos perguntar se nossa decisão de seguir Jesus Cristo tem fundamento. É claro que, para a maioria dos fiéis, o início da caminhada na fé cristã não está ligada a uma decisão pessoal, consciente e madura. Recebemos a fé cristã e católica misturada ao leite da mãe, ligada aos hábitos da nossa vizinhança, conjugada com a cultura transmitida pela escola. Seguimos esta estrada porque nos parecia a única, e o fizemos como ovelhas indiferenciadas de um rebanho. Era difícil e custoso trilhar outras sendas.
Mas, graças a Deus, nós crescemos, e os tempos mudaram. O pluralismo das opções que batem à nossa porta ou se oferecem aos nossos olhos todos os dias nos interpelam à aventura noutras estradas, ou a dar razões para permanecer naquela que sempre trilhamos. E hoje sabemos que o Evangelho nos pede prudência e avaliação crítica diante de atitudes e projetos que se travestem de sabedoria e se apresentam falsamente como religiosos e promotores de libertação. Jesus Cristo, com seu projeto de vida para todos, pede uma ruptura radical com a busca de vantagens individuais ou restritas a pequenos grupos.
Estar com Jesus e seguir seus passos supõe a decisão por uma específica escala de valores: a honra pessoal, a aceitação pública, a segurança dos bens e os próprios vínculos familiares são secundários em relação à prioridade absoluta da solidariedade com as vítimas, da abertura ao outro. A Palavra viva de Deus, feita carne em Jesus, nos mostra por onde andar. Tomar a cruz e caminhar com Jesus significa estar disposto a enfrentar a rejeição dos grandes e poderosos, libertar-se da busca infantil de cargos e honras e contar com a possibilidade do fracasso dos empreendimentos pessoais e institucionais.
Preferir Jesus Cristo ao pai, à mãe, à mulher ou marido e aos filhos e filhas significa viver as relações familiares fora dos moldes patriarcais, no horizonte da geração de um mundo de irmãos (como testemunha Paulo em relação a Onésimo e Filemon). É o próprio Jesus quem adverte: “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” Está claro que o problema não é possuir alguns bens, cultivar vínculos de amizade ou consumir de modo maduro e consciente, mas deixar-se dominar totalmente pelos bens e pelo consumo, como se o sentido da nossa vida dependesse disso.
O seguimento de Jesus comporta renúncias e rupturas. A renúncia aos bens limitados ou aparentes é um meio para percorrer com mais autenticidade um caminho que conduz à vida abundante, tanto para si mesmo como para os outros. Renunciar a tudo significa limpar a casa, abrir espaço, ordenar as prioridades e orientar-se pela compaixão misericordiosa proposta de Jesus, colocar Deus e o Outro acima de tudo. Jesus é a Palavra de Deus que nos desinstala e chama à conversão. Sua proposta está longe de ser um anestésico barato. O caminho para a humanidade nova tem seus custos, e nós precisamos avalia-los e contabiliza-los!
Jesus de Nazaré, irmão maior nos caminhos para uma humanidade irmanada e reconciliada, ensina-nos a avaliar bem as possibilidades e exigências do nosso tempo. Alimenta-nos e ilumina-nos com a tua Palavra, para que nossa consciência não permaneça anêmica ou anestesiada diante dos imensos desafios que a situação do Brasil nos apresenta. Ajuda-nos a compreender as exigências do seguimento dos teus passos e a renunciar a tudo o que possa nos afastar de ti. E que teu apóstolo e nosso irmão Paulo nos estimule a lançar as sementes da igualdade nas terras de um mundo ainda tragicamente desigual. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Livro da Sabedoria 9,13-18 | Salmo 89 (90)
Carta de Paulo a Filemon 9-17 | Evangelho de São Lucas 14,15-33

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