quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O Evangelho dominical - 01.09.2019


SEM EXCLUIR NINGUÉM!

Jesus participa num banquete convidado por um dos principais fariseus da região. É uma refeição especial de sábado, preparada desde a véspera com todo cuidado. Como de costume, os convidados são amigos do anfitrião, fariseus de grande prestígio, doutores da lei, modelos de vida religiosa para todo o povo.
Aparentemente, Jesus não se sente à vontade. Sente a falta dos seus amigos, os pobres, daquelas pessoas que encontra mendigando nas estradas, os que nunca são convidados por ninguém, os que não contam: excluídos da convivência, esquecidos pela religião, desprezados por quase todos.
Antes de se despedir, Jesus dirige-se ao que o convidou. Não para agradecer o banquete, mas para sacudir a sua consciência e convidá-lo a viver com um estilo de vida menos convencional e mais humano: «Não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos, porque eles corresponderão convidando-te. Convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; feliz tu porque não te podem pagar; pagarão quando ressuscitem os justos».
Mais uma vez, Jesus esforça-se para humanizar a vida, quebrando, se necessário, esquemas e critérios de atuação que nos podem parecer muito respeitáveis, mas, que no fundo, mostram a nossa resistência em construir esse mundo mais humano e fraterno, querido por Deus.
Normalmente, vivemos instalados num círculo de relações familiares, sociais, políticas ou religiosas com as quais ajudamo-nos mutuamente a cuidar dos nossos interesses, deixando de fora aqueles que não nos podem dar nada. Convidamos aqueles que, por sua vez, nos podem convidar.
Somos escravos de relações interesseiras, e não somos conscientes de que o nosso bem-estar só é sustentado pela exclusão daqueles que mais precisam da nossa solidariedade gratuita para poder viver. Temos de escutar os gritos evangélicos do papa Francisco na pequena ilha de Lampedusa: «A cultura do bem-estar torna-nos insensíveis aos gritos dos outros». «Caímos na globalização da indiferença». «Perdemos o sentido de responsabilidade».
Como seguidores de Jesus temos de recordar que abrir caminhos para o reino de Deus não consiste em construir uma sociedade mais religiosa ou promover um sistema político alternativo a outros, mas, acima de tudo, em desenvolver relações mais humanas que tornem possível condições de vida dignas para todos, começando pelos últimos.
José Antônio Pagola.
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez.

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