quarta-feira, 28 de agosto de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-SEGUNDO DOMINGO | 01.09.2019


Prioridade absoluta para os pequenos, pobres e vulneráveis!
Jesus não desperdiça nenhuma ocasião para ensinar aqueles que o seguem. Como sabemos, ele, Palavra viva e atuante de Deus, propõe uma inversão radical na escala dos valores da sociedade e da religião, e não se cala nem mesmo na casa de uma autoridade, em pleno jantar para o qual havia sido convidado. Ele desenvolve a corajosa lição do evangelho de hoje num solene dia de sábado, na casa de um dos chefes dos fariseus, logo depois de afirmar que as necessidades de qualquer pessoa estão acima das leis. No mês dedicado à Sagrada Escritura, fixemos os olhos em Jesus, a Palavra que ressoa como Boa Notícia.
Como modelo de evangelizador, Jesus evita ficar na periferia ou na superfície das questões essenciais. Seu ensino de hoje não é sobre as regras de boas maneiras numa refeição solene, mas sobre um princípio fundamental da vida cristã: quem é o maior ou o primeiro, o mais importante ou notável na vida cristã? Jesus começa pela crítica ao orgulho e aos privilégios e passa à questão dos beneficiários da nossa atenção. Ele conhece o costume quase universal de privilegiar, tanto nas festas quanto nas decisões e projetos políticos e econômicos, os familiares, parentes, amigos e vizinhos. Para Jesus, este é um círculo muito estreito.
Inicialmente, Jesus fala aos hóspedes que estão com ele à mesa, afirmando que “todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. Depois, dirige-se ao próprio anfitrião que o acolhe festivamente, questionando sua expectativa de retribuição. E deixa muito claro que orgulho e a busca de retribuição são posturas sem base no Evangelho. O cristão pode ceder a honras e vaidades, mas buscar decididamente o lugar reservado aos servidores. Da mesma forma a Igreja: ela precisa superar a velha prática de servir, apoiar e defender prioritariamente as pessoas e instituições que podem favorece-la.
Prosseguindo, Jesus propõe a inversão da lista de grupos e pessoas que costumam aparecer no topo das nossas listas de honoráveis, presenças infalíveis entre os convidados das nossas festas e solenidades: os pobres, aleijados, coxos e cegos devem ser os primeiros! É claro que aqui Jesus não quer estragar nossa festa, mas questionar a estreiteza das fronteiras que traçamos entre ‘nós’ e ‘eles’, entre os ‘nossos’ e os ‘outros’. Jesus coloca em questão a busca de compensações que rege nossas pequenas e grandes ações. A verdadeira felicidade consiste em dar generosamente, sem cobrar dividendos, na terra ou no céu.
O saudoso Dom Helder Câmara nos ensina que o maior perigo que ameaça os cristãos e a hierarquia religiosa é o desejo de sempre vencer e jamais fracassar, de sentir-se sempre querido e nunca sobrar. E chegou a advertir um colega no episcopado: “Mais grave do que ser apanhado pela engrenagem do dinheiro, é ser apanhado pela engrenagem do prestígio”. Na verdade, a busca de privilégios e compensações é tão desgastante quanto infantilizadora: o caminho que dá acesso a eles geralmente passa pela subserviência, e é acompanhado pelo medo do anonimato e pelo apego doentio aos bens e a toda sorte de títulos.
Para quem segue o caminho de Jesus, a recompensa é prometida para ressurreição dos justos. Em outras palavras: a felicidade que ninguém pode roubar é aquela que conquistamos entrando pela estreita porta da humildade, da generosidade e da solidariedade. É a alegria profunda que experimentamos quando ouvimos da boca dos porta-vozes da vida o convite: “Amigo, vem para um lugar melhor!” E, enquanto caminhamos nesta direção, não há honra e alegria maiores que servir, compartilhar sonhos e lutas com aqueles que normalmente são ejetados para os últimos lugares. Eis o que nos testemunha a Palavra!
A Carta aos Hebreus nos diz que, em Jesus e na comunidade que o segue torna-se visível a assembleia dos primogênitos, o verdadeiro povo de Deus, constituído de homens e mulheres que descobriram a grande honra de amar e servir. Esta é a verdadeira cidade de Deus, a manifestação e a morada de Deus no mundo. Fogo, tempestade, trevas, sons de trovões e trombetas são nada diante do sinal grandioso de homens e mulheres mansos e corajosos, humildes e generosos, ternos e fortes, humanos e compassivos.
Jesus de Nazaré, servidor humilde, queremos seguir teu caminho, acolher tua Boa Notícia e participar da tua ação libertadora. Que, neste mês dedicado à tua Palavra, ela ocupe um lugar importante em nossa vida, ilumine nossa percepção e guie nossas decisões. Hoje Tu nos pedes que reservemos os primeiros lugares aos que são vistos e tratados como últimos. Envia-nos teu Espírito, para que ele nos ajude a assimilar este mandamento dá-nos escutar teu convite: “Vem para um lugar melhor!” Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf

Livro do Eclesiástico 3,19-21.30-31 | Salmo 67 (68)
Carta de Paulo aos Hebreus 12,18-24 | Evangelho de São Lucas 14,7-14

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