quarta-feira, 14 de agosto de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHHORA | 18.08.2019


Maria mulher, discípula, ministra e profeta é elevada aos céus!
A Assunção de Nossa Senhora é uma festa mariana que fez história e lançou profundas raízes na religiosidade popular. Mas aquilo que cremos sobre Maria se refere, de alguma forma, à comunidade eclesial e a todos os homens e mulheres. A glorificação de Nossa Senhora, sua acolhida e realização plena em Deus, é uma vocação e uma promessa de Deus a toda a humanidade. Em Maria, a pessoa humana em sua integridade – em corpo e alma! – é assumida e realizada plenamente em Deus. Eis uma belíssima realização da nossa esperança e uma proclamação clara e inequívoca da dignidade do corpo.
No cântico mariano do Magnificat, Maria emerge como uma pessoa humilde e humilhada. No seu evangelho, Lucas nos apresenta Maria de Nazaré como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus e está sempre pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história. Da boca de Isabel ficamos sabendo que ela é alguém que ousou acreditar na força da Palavra e na fidelidade do Deus misericordioso que a pronuncia. Por isso, no vulto cristão de Maria o que se destaca é a humildade, a escuta e a fé, marcas fundamentais da sua personalidade e da sua estatura teológica intrinsecamente relacionadas.
A Deus foi possível realizar grandes coisas em Maria e através de Maria porque encontrou nela a indispensável base humana já preparada. Para fazer-se humano, o Filho de Deus precisou de uma pessoa profundamente humana, e não de uma criatura angelical! Humildade, escuta da Palavra e fé na ação libertadora de Deus é também o que possibilita uma vida humana e feliz. O segredo da felicidade que todos buscamos não está na posse ou no consumo desmedido de bens, nem na fama, no sucesso ou no poder de atração que exercemos, mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus.
Depois do diálogo engajado e até questionador com Deus representado pelo anjo, Maria vai apressadamente à casa de Isabel. Busca um sinal que confirme a parceria de Deus com os humildes e sua aliança com os pobres. Ela havia dado sua palavra Àquele que é capaz de fazer grandes coisas em favor do seu povo, mas, para ela, nem tudo estava claro. Então, a discípula se faz serva, a serva se torna peregrina e a peregrina procura hospitalidade na casa de Isabel. Juntas, na intimidade aberta de uma casa da periferia, Isabel e Maria louvam a Deus e profetizam. E então, a discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza destemida.
Contemplando sua própria história e a epopeia do seu povo, Maria percebe e proclama corajosamente a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos, derruba os poderosos, exalta os humildes e oprimidos, socorre seu povo e estende sua misericórdia a todas as gerações. Então, esta mulher, assumida por Deus no céu, não é mais apenas uma humilde trabalhadora do lar, uma discreta pessoa que acredita, a ‘doce e recatada’ esposa de José. Deus assume em corpo e alma, e eleva à glória do céu aquela que rompe com a cultura que menospreza a mulher, aquela que diz uma palavra profética na arena pública.
Finalmente, Maria é discípula de Jesus, membro vivo e peregrino da Igreja, sinal e símbolo do povo de Deus, que não veste apenas rosa ou azul. Sua assunção por Deus é um sinal da ressurreição que todos esperamos. Como aquela mulher radiante do Apocalipse, a humanidade está em trabalho de parto e, mesmo ameaçada por todos os lados, vai dando à luz um Homem Novo e construindo um Mundo Novo. Maria simboliza a humanidade e a Igreja em seus traços femininos. Nela, a Igreja é chamada a construir-se como corpo que acolhe, aquece, alimenta, ensina, respeita e favorece o crescimento e o amadurecimento dos filhos e filhas.
Causa-me tristeza e preocupação o estreitamento da mente de alguns setores da Igreja católica que se perfilam em deploráveis cruzadas para salvar a ortodoxia de ideias pouco ortodoxas e de imagens não mais que engessadas de Maria. E enquanto se ocupam disso, desertam de compromissos verdadeiramente evangélicos com as vítimas e os pobres, gente pela qual bate intensamente o coração de Maria e em defesa de quem se levanta seu canto. Preferem estátuas mortas aos filhos e filhas de Deus, feridos de morte.
Ave Maria, cheia de graça! O senhor está contigo! És bendita entre todas as mulheres, e é bendito o fruto do teu ventre!  Maria santa, mãe de Deus e dos filhos e filhas de Deus, intercede por nós neste complexo tempo que o Brasil vive. Ajuda tua Igreja a ser uma comunidade de iguais. Ensina às pessoas consagradas anunciar com a vida e com a palavra que nada pode ser colocado acima do amor a Jesus e aos pobres nos quais ele vive. E conduz a vida consagrada aos desertos, às periferias e às fronteiras. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Apocalipse de São João 12,1-10 | Salmo 44 (45)
1ª Carta de Paulo aos Coríntios 15,20-17 | Evangelho de São Lucas 1,39-56

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