quarta-feira, 21 de agosto de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-PRIMEIRO DOMINGO | 25.08.2019


Os leigos são perfume de cristo, o fermento do Reino e a glória do Evangelho!
O evangelho deste domingo conta que, durante o ensino de Jesus caminho para Jerusalém, uma pessoa anônima o questiona sobre o número das pessoas que se salvam. Parece que não está interessada no caminho que leva à salvação, mas no número dos que seriam beneficiados por ela. Jesus desloca a questão do número dos que se salvam para o caminho da salvação. Na sua resposta, sublinha que a salvação, que coincide com a plena realização da pessoa humana, não dispensa o esforço pessoal contínuo. O caminho da salvação passa pela exigente conversão de uma postura estreita e exclusiva a uma visão aberta e inclusiva.
Além de enfatizar a necessidade de empenho pessoal no processo de amadurecimento e libertação, Jesus sublinha que este engajamento é tarefa para o tempo presente, e não pode ser adiado indefinidamente. Comparando o processo de salvação com uma porta estreita, ressalta que chegará o tempo em que o dono da casa fechará a porta e não será mais possível entrar. Portanto, é preciso desfrutar responsavelmente das possibilidades de crescimento que cada momento nos oferece. O tempo propício da salvação é agora, e aqui é o lugar onde precisamos semear Reino de Deus e ajuda-lo a florescer.
Há gente que pensa que somente a religião nos salva, que as pessoas maduras, realizadas, plenamente humanas ou santas seriam aquelas que rezam bastante, que observam as prescrições religiosas, que regem a vida por uma moralidade estrita, que vivem neste mundo suspirando pelo outro. Mas a religião não pode se divorciar da ética, inclusive da ética social, nem do mundo, inclusive das coisas materiais. A religião propõe uma forma específica de viver no mundo e se relacionar com as pessoas e coisas. Àqueles que reduzem a religião a um conjunto de prescrições a serviço da indiferença, Jesus adverte: “Não sei de onde sois...”
Respondendo à pergunta sobre o número dos que se salvam, Jesus diz que “virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa do Reino de Deus”. Em outras palavras: alguns daqueles que as religiões e instituições descartam ou colocam em último lugar, aos olhos de Deus são os mais importantes e ocupam os primeiros lugares. Todos os homens e mulheres são chamados à salvação e, de um modo que só o Espírito de Deus sabe, participam do mistério pascal de Jesus Cristo. E, mais ainda: “Há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”!
A Igreja é a congregação de todos os homens e mulheres apaixonados pelo sonho de uma humanidade radicalmente libertada. Os membros do povo de Deus – esta imensa caravana de homens e mulheres salvos e humanamente maduros – não trazem necessariamente este título estampado no rosto ou nos documentos. No caminho da salvação não funcionam as recomendações, os privilégios acumulados, os estados de vida. A salvação de Deus não conhece fronteiras políticas, religiosas ou culturais. Gente não religiosa e de outros povos, do oriente e do ocidente tomam parte na mesa do Reino, são gente nova, irmãs e irmãos nossos!
Escutando algumas pregações ou lendo certos escritos teológicos e espirituais, às vezes tenho a impressão de que algumas pessoas ainda pensam que os leigos e leigas são gente sem vocação alguma, uma maioria que é paradoxalmente um resto que não foi chamado para nada e, por isso, deve apenas escutar e obedecer. Para tais pessoas, os leigos e leigas viveriam nos mares deste mundo, e não lhes caberia buscar outros mares. Deveriam esperar uma salvação que só lhes pode vir da oração das pessoas consagradas e dos ministros ordenados. Nada contariam na missão de salvar e de libertar. Como se diz: “São leigos no assunto...”
Será que os leigos e leigas não são os mais importantes do ponto de vista do Reino de Deus? Será que, imersos no mundo sem renunciar ao fermento do Evangelho, eles não revelam uma liberdade mais consequente e uma maturidade humana mais que surpreendente? Eles recordam, mais com a vida que com discursos, que a encarnação no mundo e a sua transformação é uma dimensão irrenunciável da vida cristã. Como dizem os bispos do Brasil, os leigos e leigas são o perfume de cristo, o fermento do Reino e a glória do Evangelho (cf. CNBB, Doc. 105, nº 35).
Jesus de Nazaré, porta aberta pela qual passamos da escravidão à liberdade, do estreito mundo do nosso eu ao fraterno e solidário mundo dos outros: ajuda-nos a reconhecer que a vocação dos leigos e leigas é essencial à Igreja. Eles que abrem a complexa realidade social à solidariedade e à justiça, e testemunham com a vida um outro mundo possível. Que eles possam passar por ti, porta do discipulado missionário, deixem na praia o barco da comodidade e dos privilégios e se lancem heroicamente noutros mares. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 66,18-21 | Salmo 116 (117)
Carta de Paulo aos Hebreus 12,5-13 | Evangelho de São Lucas 13,22-30

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