quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 19.02.2023

CORDIALIDADE

Não é a manifestação sensível dos sentimentos o melhor critério para verificar o amor cristão, mas sim um comportamento solícito para com o bem do outro. Em geral, um humilde serviço ao necessitado encerra, quase sempre, mais amor do que muitas palavras comoventes.

Mas, por vezes, tem havido tanta ênfase no esforço da vontade que chegamos a privar a caridade do seu conteúdo afetivo. E, no entanto, o amor cristão que nasce do profundo da pessoa também inspira sentimentos, e traduz-se em afeto cordial.

Amar o próximo requer fazer-lhe bem, mas também significa aceitá-lo, respeitá-lo, valorizar o que há nele de amável, fazê-lo sentir a nossa acolhida e o nosso amor. A caridade cristã induz a pessoa a adotar uma atitude cordial de simpatia, solicitude e afeto, superando posições de antipatia, indiferença ou rejeição.

Naturalmente, a nossa forma pessoal de amar é condicionada pela sensibilidade, riqueza afetiva ou capacidade de comunicação de cada um. Mas o amor cristão promove a cordialidade, o afeto sincero e a amizade entre as pessoas. Esta cordialidade não é mera cortesia exterior exigida pela boa educação, nem simpatia espontânea que nasce ao contato com pessoas agradáveis, mas uma atitude sincera e purificada de quem se deixa vivificar pelo amor cristão.

Talvez hoje não sublinhemos o suficiente a importância de cultivar esta cordialidade no seio da família, no âmbito do trabalho e em todas as nossas relações. No entanto, a cordialidade ajuda as pessoas a sentirem-se melhor, suaviza as tensões e conflitos, aproxima posições, fortalece a amizade, faz crescer a fraternidade.

A cordialidade ajuda a libertar-nos de sentimentos de indiferença e rejeição, porque se opõe diretamente à nossa tendência de dominar, manipular ou fazer o próximo sofrer. Aqueles que sabem comunicar afeto de uma forma sã e generosa criam à sua volta um mundo mais humano e habitável.

Jesus insiste em mostrar esta cordialidade não só perante o amigo ou a pessoa agradável, mas também mesmo ante quem nos rejeita. Recordemos algumas palavras suas que revelam a sua forma de ser: «Se saúdas apenas os teus irmãos, o que fazes de extraordinário?»

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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