domingo, 15 de setembro de 2024

Senhor, eu não sou digno, mas uma Palavra tua basta...

Senhor, eu não sou digno, mas uma Palavra tua basta para me libertar | 474 | 16.09.2024 | Lucas 7,1-10

Depois do “sermão da planície”, que apresentou aos discípulos e ao povo em geral, Jesus se dirige a Cafarnaum. O trecho anterior sublinhava a importância de ouvir, acolher e praticar a Palavra de Deus, e esse novo episódio mostra como um oficial do exército romano, mesmo sendo de origem pagã, constrói sua vida sobre o alicerce da confiança Palavra de Deus. A escuta atenta da Palavra é a condição para reconhecer e acolher a ação libertadora de Jesus.

A chegada de Jesus em Cafarnaum suscita esperança num oficial do exército romano. Ele certamente já ouvira falar da pregação e da prática de Jesus, e isso o encoraja a enviar um grupo de mensageiros implorando ajuda por seu empregado doente. Os anciãos judeus levam a sério o pedido, e, diante de Jesus, argumentam que o oficial merece atenção, pois, mesmo sendo pagão, temia a Deus e havia patrocinado a construção de uma sinagoga.

Mesmo com alguma reticência, Jesus se dirige à casa do oficial romano, acompanhado pelos discípulos e pelos anciãos hebreus. Mas, antes que pudesse chegar ao seu destino, o centurião envia outro grupo de mensageiros, pedindo que Jesus não se incomode e não corra o risco que o contato com um pagão significa. Diversamente daquilo que disseram os anciãos, o oficial não se vê digno de receber a visita de Jesus, que ele reconhece como Senhor.

O que teria mudado na cabeça daquele homem? Como explicar essas mensagens contraditórias? Na verdade, não há mudança, nem contradição. Com essa cena Lucas quer sublinhar a plena confiança do chefe romano na Palavra de Jesus. Ele crê que mesmo uma simples palavra é suficiente para salvar, e que ele pode até curar à distância, sem dizer e sem fazer nada.

Jesus fica muito admirado diante da fé confiante daquele homem, e não deixa de impressionar que a cura acontece sem uma palavra e sem uma ação direta e presencial de Jesus. Este episódio adquire feições de verificação da fé professada, e possibilita que Jesus apresente seu projeto também aos pagãos.

 

Meditação:

·    Releia o texto, contemplando atentamente a cena, os personagens, os pedidos, as respostas, os ensinamentos

·    Os anciãos insistiram com Jesus afirmando que o oficial, mesmo sendo pagão, “merecia” a cura do empregado, pois ajudava os judeus: você acha que Deus nos trata conforme merecemos?

·    Deus considera nossos méritos ou nossa abertura e confiança nele e na sua Palavra? Ele aprecia mais os sacrifícios que a misericórdia?

·    Somos capazes de reconhecer os sinais de amor na vida de pessoas que não acreditam em Jesus ou se confessam ateias?

sábado, 14 de setembro de 2024

Mostramos o que pensamos de Jesus s mais nas ações que nas palavras

Nossa visão de Jesus se mostra mais nas ações que nas palavras | 473 | 15.09.2024 | Marcos 8,27-35

Os discípulos atravessam com Jesus a região de Cesaréia de Filipe, lugar simbólico da submissão de Herodes ao imperador romano e da capitulação do judaísmo frente à cultura grega. Não esqueçamos que nome da região é uma homenagem ao imperador romano. Nesta travessia, Jesus os provoca a fazerem uma avaliação da sua pessoa. “Quem dizem os homens que eu sou?”

Segundo os discípulos, as respostas coincidem na visão de Jesus como profeta. Mas ele mesmo não se satisfaz com respostas ouvidas e relatadas, e pede o que os próprios discípulos pensam sobre ele, que lugar ocupa na vida deles. “E vós, quem dizeis que eu sou?” A pergunta provoca um calafrio geral. Pedro arrisca uma resposta, em nome de todos: “Tu és o Messias, o Cristo”. A resposta é formalmente correta, mas nela se esconde algo de errado e perigoso, pois Jesus “proibiu severamente” que os discípulos falassem isso adiante.

Ocorre que profissão de fé de Pedro está enredada nas malhas do triunfalismo, numa imagem de Deus ligada ao poder e à violência. Sua expectativa está longe de ser aquela de um messias pobre e servidor, como Jesus não cansa de demonstrar. Em todos os casos, está claro que esta resposta não dá conta da complexa identidade de Jesus, que é irmão, servo e profeta, cordeiro de Deus, filho do homem, etc. Chegando em Jerusalém, no momento em que Jesus é acusado e preso, Pedro revela quão limitada e distorcida é sua visão de Jesus.

Jesus censura as fantasias de sucesso e de poder e, ao mesmo tempo, fala abertamente que o Filho do Homem deve sofrer muito, e enfrentar a rejeição e a morte. Ele substitui o título de “Messias” (e ele não pensa no Jair!) por “Filho do Homem”, vinculando-se assim profundamente à humanidade e suas aspirações. A ideia messiânica de Pedro é nacionalista e exclusiva, enquanto que o caminho assumido por Jesus é universal e inclusivo.

Aceitar isso não é coisa fácil. Marcos diz que Jesus reagiu olhando para os discípulos e repreendendo Pedro, pois ele agia com mentalidade limitada e sectária. Quem pensa e age assim é porta-voz do Satanás, rejeita a Palavra de Deus e se apega às tradições humanas (cf. Mc 7,1-13). Por isso, Jesus diz: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar sua a sua vida vai perdê-la; mas quem perde sua vida por causa de mim, vai salvá-la”.

 

Meditação:

·        Retome cada palavra pergunta, cada resposta do povo e dos discípulos, no clima de idiotice, subserviência e bajulação que vivemos

·        Que tipo de messias você segue e prega, quem é seu ídolo ou “mito”, que ideal de vida você cultiva? Estão de acordo com o Evangelho de Jesus?

·        Você vê em Jesus a imagem do “messias” que nos governa, e naqueles que defendem a liberação das armas e a exclusão dos diferentes?

O Evangelho dominical (Pagola) - 15.09.2024

O QUE JESUS PODE NOS TRAZER?

«Quem dizeis que eu sou?» Não sei exatamente como responderão a esta pergunta de Jesus, os cristãos de hoje, mas talvez possamos intuir um pouco como pode ser para nós nestes momentos se conseguimos encontrar-nos com Ele com mais profundidade e verdade.

Jesus pode ajudar-nos, antes de mais nada, a nos conhecermos melhor. O seu evangelho faz-nos pensar e obriga-nos a colocar-nos as questões mais importantes e decisivas da vida. A sua maneira de sentir e de viver a existência, o seu modo de reagir ante o sofrimento humano, a sua confiança indestrutível num Deus amigo da vida é o melhor que a história humana deu.

Jesus pode-nos ensinar sobretudo um estilo novo de vida. Quem se aproxima dele não se sente tanto atraído por uma nova doutrina, mas convidado a viver de uma forma diferente, mais enraizada na verdade e com um horizonte mais digno e esperançoso.

Jesus pode-nos libertar também de formas pouco saudáveis de viver a religião: fanatismos cegos, desvios legalistas, medos egoístas. Pode, sobretudo, introduzir nas nossas vidas algo tão importante como a alegria de viver, o olhar compassivo para com as pessoas, a criatividade de quem vive amando.

Jesus pode-nos redimir das imagens doentias de Deus que vamos arrastando sem medir os efeitos nocivos que elas têm sobre nós. Pode-nos ensinar a experimentar Deus como presença próxima e amiga, fonte inesgotável de vida e de ternura. Deixar-nos guiar por Ele irá levar-nos a encontrar com um Deus diferente, maior e mais humano que todas as nossas teorias.

Isso sim. Para nos encontrarmos com Jesus num nível mais autêntico, devemos ousar sair da inércia e da imobilidade, recuperar a liberdade interior e estar dispostos a «nascer de novo», deixando para trás a observância rotineira e enfadonha de uma religião convencional.

Sei que Jesus pode ser o curador e libertador de muitas pessoas que vivem presas pela indiferença, distraídas pela vida moderna, paralisadas por uma religião vazia ou seduzidas pelo bem-estar material, mas sem caminho, sem verdade e sem vida.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A cruz diz que Deus continua amando o mundo

A cruz diz que Deus continua amando o mundo e tudo o que nele existe | 472 | 14.09.2024 | João 3,13-17

O texto que é proposto à nossa meditação está relacionado com a festa litúrgica de hoje: a exaltação da Santa Cruz. Esta é uma celebração que vem desde o ano 335, quando foi celebrada a dedicação de duas basílicas, na colina do Gólgota, em Jerusalém: a basílica da Santa Cruz e basílica da Ressurreição.

Não deixa de ser estranho, ao menos do ponto de vista histórico e sociológico, exaltar a cruz, recorrente instrumento de tortura e morte usado pelo império romano contra seus “inimigos”. Seria como exaltar e expor no centro dos nossos templos, ou carregar no peito ou estampadas em nossas camisas, imagens do “pau de arara”, de um fuzil ou de um revólver. Alguns até gostariam, como nos revelam algumas imagens que marcaram as últimas campanhas eleitorais...

Mas, para os cristãos, mesmo que pareça paradoxal, a cruz não é memória da violência, do sofrimento ou da derrota, mas uma expressão simbólica clara e contundente do amor sem limites de Deus pela humanidade. Pregado na cruz, Jesus é a imagem de um Deus apaixonado pelas suas criaturas, o protótipo do ser humano maduro e livre como o quis Deus, criado à sua imagem e semelhança, dinamizado pelo seu Sopro Vital.

Na cruz é como que assinada a aliança de Deus com a humanidade: sua vontade é totalmente positiva (que todos tenham vida em abundância), universal (inclui todas as pessoas e todos os grupos humanos) e irreversível (ele não volta atrás em sua paixão pela humanidade). Um Deus crucificado exclui todo resquício ou ameaça de indiferença ou de punição, mesmo contra errantes e pecadores.

Na vida de Jesus, mesmo sendo uma imposição dos poderes constituídos, a cruz é a efusão da compaixão de Deus, e não um acontecimento inesperado ou passageiro. Ela toma o lugar da lei, torna-se ponto de partida e de convergência da vida cristã, e expressa a presença permanente e libertadora de Deus no mundo, e não apenas no coração das pessoas. “Nossa glória é a cruz”, exclama São Paulo.

A cruz traz a assinatura de Deus: ele continua amando o mundo e o que nele existe, e exclui de seu horizonte punições e castigos. Aderir a um Deus crucificado por amor significa afirmar o amor, e não o poder, o sucesso ou as armas, como princípio, como meta e como caminho, custe o que custar. Fora disso, nossa fé seria vazia, e nossos símbolos seriam falsos, ou então armas letais disfarçadas de piedade.

 

Meditação:

·    Retome cada palavra e expressão, em forma negativa ou em forma positiva, e deixe que ressoem em você

·    Você ainda só consegue ver na cruz dor, abandono e sofrimento, ou consegue fixar nela seu olhar e contemplar o amor de Deus?

·    O que significa a expressão “Deus amou tano o mundo” (organização humana, humanidade), em vez de “Deus amou tanto os indivíduos”?

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Quem segue Jesus perdoa a ofensa recebida

Quem segue Jesus perdoa a ofensa recebida, e não senta na cadeira do juiz | 471 | 13.09.2024 | Lucas 6,39-42

Um pouco antes desta cena, Jesus deixara claro que a misericórdia do Pai, expressa concretamente na vida e ação de Jesus, é a referência e o dinamismo que orienta e move a ação dos cristãos. Nossa condição no mundo é a de aprendizes e discípulos, e não de juízes. Estamos na estrada, e não sentados no tribunal. Somos irmãos e irmãs, e não magistrados. Não pode haver crítica legítima sem autocrítica. É nosso amor aos mais vulneráveis que nos julgará no entardecer da vida.

No trecho de hoje, Jesus não se dirige aos fariseus ou doutores da lei, mas à comunidade de discípulos. Para preveni-los do risco da crítica infundada e de assumirem a postura de superiores e juízes, Jesus recorre a dois provérbios ou sentenças: a do cego que se oferece nesciamente como guia; a do cisco no olho que impede de ver claramente a sujeira externa. Não há lugar para a soberba e para tribunais penais no interior da comunidade cristã.

A advertência de Jesus é clara: todos nós podemos ser cegos e levar os outros a tropeçar e a cair; ninguém está em condições de julgar ninguém; não podemos criticar ninguém se não exercitarmos a autocrítica diante de Jesus e do seu Evangelho; em relação aos outros, somos irmãos, e não juízes. Quando esquecemos isso, acabamos por manifestar nossa petulância e hipocrisia, e mostrando que somos iguais aos criticáveis fariseus e doutores da lei.

E a regra também é meridianamente clara: nossas relações devem pautar-se pelas relações de Jesus, único mestre e guia capaz de conduzir à vida e à verdade. Como discípulos do profeta de Nazaré, não somos maiores nem podemos ser diferentes do mestre. “Todo discípulo bem formado será como o mestre”. E Jesus não pautou sua vida pelo julgamento e pela condenação, mas pelo amor que liberta e edifica. É claro que isso não elimina a profecia, que nasce da paixão pela verdade.

Somente as pessoas que têm o olhar limpo e o coração puro (consciência dos próprios limites) estão em condições de ajudar e criticar os outros, e sempre como irmãos e irmãs. A misericórdia do Pai, que é bondoso tanto para com os bons como para os ingratos e maus, será sempre a nossa medida. Quem somos nós para colocarmo-nos acima dele? Quem teria competência e legitimidade para corrigir o próprio filho de Deus, ele que não foi enviado para julgar e condenar, mas para salvar?

 

Meditação:

·    Retome cada palavra e cada comparação ou figura usada por Jesus e tente perceber o que significam para você

·    Você percebe, em você mesmo e na sua comunidade, sinais da tentação de ser como um cego que quer guiar cegos, corrigir os outros sem fazer autocrítica?

·    Como podemos conjugar a renúncia a julgar e condenar os outros com o dever de agir e falar com coragem profética diante das injustiças e mentiras que ferem nossos irmãos e irmãs?

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Amar apenas aqueles que nos amam é pouco!

Amar apenas aqueles que nos amam tem pouco a ver com o ensino de Jesus  | 470 | 12.09.2024 | Lucas 6,27-38

O Reino de Deus pede de nós, discípulos e discípulas de Jesus, grandeza de coração. Precisamos espelhar-nos na misericórdia do Pai, cujo rosto é o próprio Jesus, que ama incondicionalmente a todos, inclusive as pessoas “ingratas” ou “más”. O amor que se nos pede é mais que estratégia, oportunismo, boa educação ou boas maneiras. As exigências de Jesus são altas, não é possível ser mesquinho.

Jesus é direto: “A vós que me escutais, eu digo...” Ele fala conosco, que dedicamos um mês especial à Palavra de Deus. Ele fala de modo manso, mas sublinha com ênfase, que as relações de amor recíproco são insuficientes. O amor aos iguais, às pessoas bondosas e agradecidas, é pouco, e não consegue se libertar das correntes do egoísmo de grupo e do paganismo. Deus não nos trata assim! Ele age de acordo com o que precisamos, e não o que merecemos!

No evangelho de hoje, Jesus fala de amor aos inimigos, de compreensão com aqueles que nos odeiam, excluem, insultam e amaldiçoam. Não são apenas aqueles que odiamos ou que nos odeiam, mas aqueles que nos fizeram ou nos fazem mal, aqueles que a sociedade torna invisíveis e de quem não queremos nos aproximar e que, quando os ignoramos, nos sentimos bem.

Jesus faz questão de exemplificar e deixar bem claro o que significa amar os inimigos: fazer o bem a quem nos odeia; abençoar os que nos amaldiçoam; rezar por aqueles que nos caluniam; oferecer a outra face a quem nos bate; dar também a túnica a quem nos penhora o manto; emprestar a quem pede; dar sem cobrar retribuição. Não é de hoje que surgem pessoas que pensam que Jesus foi longe demais.

Mas Jesus não ensina a passividade, a submissão ou a ingenuidade. O que ele pede é que sejamos como ele e como o Pai dele e nosso, que “é bondoso também para com os ingratos e maus”. Ele espera que não sejamos apenas reagentes, mas capazes de inovar, de tomar a iniciativa, de fazer aos outros o que desejamos que nos façam.

A misericórdia é a profundidade e a generosidade de Deus, e também a balança na qual nossa fé, nossa esperança e nossa caridade serão medidas. A medida de Jesus e do Pai deve ser a nossa medida. É assim que brilhará em nosso rosto e em tudo o que fazemos e somos o rosto do Pai e assim demonstraremos que somos filhos do Pai.

 

Meditação:

·        Retome cada afirmação ou prescrição de Jesus, identificando quem são os seus “inimigos” ou “adversários”

·        Você acha isso tudo praticável, exequível, ou impossível de levar em conta em nossas relações?

·        Por onde você poderia começar, hoje, evitando querer fazer tudo de uma vez e acabando por desanimar?

·        O que podemos fazer para ajudar nossas comunidades a levar a sério a proposta de Jesus em tempos de intolerância?

terça-feira, 10 de setembro de 2024

A felicidade que todos buscamos

A felicidade que todos buscamos não se encontra de qualquer jeito| 469 | 11.09.2024 | Lucas 6,20-26

No “sermão” de hoje, Jesus fala aos discípulos que chamou ou que o buscaram espontaneamente. Na sinagoga de Nazaré, ele já havia deixado claro que, com ele e com o advento do Reino de Deus, inaugurava-se um tempo de gratuidade e felicidade no qual os pobres e oprimidos ocupam o primeiro lugar.

No seu anúncio de hoje, Jesus distingue claramente dois grupos de pessoas: um grupo que ele declara feliz, e um grupo que ele caracteriza como maldito. As pessoas felizes são os discípulos verdadeiros, coerentes, solidários, colaboradores de Deus no mundo. As pessoas malditas são as que não permitem que Deus interfira nas suas escolhas e, assim, impedem que ele reine na sociedade.

Os pobres (literalmente, as pessoas carentes e dependentes) são felizes porque são os destinatários do Reino de Deus. E os ricos (que em Lucas são representados pelo homem indiferente e avarento da parábola do rico e de Lázaro) devem se lamentar porque não descobriram o tesouro da partilha e da solidariedade, e se detêm em satisfações egoístas e fugazes.

Aos famintos (toda caracterização é dispensável!) Jesus opõe os satisfeitos (orgulhosos com o que têm). Felizes são também as pessoas que choram (aquelas que lamentam a morte de uma pessoa querida ou um erro cometido), enquanto que grupo dos que riem (pessoas seguras de si mesmas, que se sentem melhores e superioras) é declarado maldito.

Felizes são também os discípulos que sofrem ódio, exclusão e insultos por causa de Jesus e do Reino de Deus, enquanto que as pessoas despreocupadas, badaladas e estimadas como os falsos profetas merecem a reprovação de Jesus e não chegam a experimentar a verdadeira felicidade.

Não se trata de um desejo vazio de Jesus, nem de uma promessa para depois da morte, mas de uma declaração que tem a força de quem a pronuncia. Nessas palavras, Jesus desmascara as ilusões dos ricos e satisfeitos e assegura a reviravolta, já iniciada pela instauração do Reino de Deus.

 

Meditação:

§  Retome cada proclamação e cada lamentação correspondente e as deixe repercutir em você, mantendo os pés no chão

§  Não disfarce e deixe aflorar o incômodo e a estranheza que esta Palavra de Jesus causa em você

§  Para você é difícil concordar com o que Jesus diz e faz? Você tem vontade de amenizar sua fala, de adocicar suas palavras?

§  Experimente inverter o que Jesus diz: ai dos pobres, ai dos que choram, ai dos que têm fome... Isso é humano e aceitável?

§  Você continua disposto a seguir este caminho especial de felicidade proposto por Jesus, e está consciente das exigências que comporta?

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Eis-me aqui, Senhor, para fazer tua vontade

Eis-me aqui, Senhor, para fazer tua vontade e viver do teu amor | 468 | 10.09.2024 | Lucas 6,12-19

Estamos lendo e meditando o capítulo 6 do evangelho segundo Lucas. E o fazemos no dia 12 de setembro, recordando a primeira tragédia que atingiu o povo do Rio Grande do Sul, e que aprendemos a chamar de “eventos climáticos extremos”. Ao mesmo tempo, o clima o clima é de acirrada disputa política e de exacerbação regionalista patrocinada pela “Semana Farroupilha”, que exalta uma guerra civil perdida, veicula uma figura idealizada das disputas internas e promove uma cultura que não consegue esconder seu machismo, seu racismo e seu classismo.

Mesmo que alguns dos 12 discípulos escolhidos e enviados sejam pouco conhecidos, Jesus os “escolheu a dedo” e os chamou pelo nome. Antes de escolher, passou uma noite em oração, para que não se enganasse na escolha, e para que eles fossem símbolo do novo povo de Deus, não obstante seus inúmeros e conhecidos limites. Ser Apóstolo significa ser enviado, ser porta-voz de Jesus e seu Evangelho, que, decididamente, não significa proclamar que “o Sul é meu país”, e que aqui simplesmente “tudo o que se planta cresce e o que mais floresce é o amor”.

Os Doze apóstolos escolhidos e enviados participam da missão do próprio Jesus Cristo, fazem o que ele fez, desfrutam da sua dignidade, assumem sua meta e trilham seu caminho. Eles recebem a missão de manter a Palavra de Jesus sempre viva, atual, compreensiva e relevante. São chamados “pelo alto”, mas enviados ao mundo. São convocados pela Palavra e consagrados a serviço dela. O fruto dessa missão é o despertar do desejo de encontrar Jesus e de acolher seu Evangelho como a boa terra acolhe a semente e cria as condições para que germine.

A vocação e a missão dos Doze emergem da oração de Jesus sobre a montanha. A Igreja nasce da comunhão de Jesus com o Pai, daquela obediência e daquele amor de quem não recua diante da morte, simbolizada na noite. A vocação dos Doze é também um chamado à comunhão, que é o objetivo de todo apostolado.  

Nossas comunidades e cada um de nós somos convocados a renovar nosso ardor missionário, a potencializar nosso testemunho, a dar nossa resposta concreta e engajada ao Senhor que nos chama através dos clamores e esperanças do nosso povo. Estamos respondendo com a vida “Eis-me aqui, envia-me”?

 

Meditação:

·    Acompanhe passo a passo o retiro orante, a escolha nominal e o envio dos Doze Apóstolos, embaixadores do Reino de Deus

·    Deixe que ressoe também em você e hoje o chamado e a escolha de Jesus: “Eu te amo, te chamo, te formo e te envio!”

·    Desça da montanha com Jesus, e perceba a multidão que vem ao encontro dele, abandonada e ferida pelos falsos “messias”

·    Como a multidão, procure tocar Jesus, e deixar-se tocar pela Palavra e pela liberdade solidária e destemida que ele nos ensina

domingo, 8 de setembro de 2024

Fazer o bem e cuidar da vida não pode depender de vaga na agenda

Fazer o bem e cuidar da vida não pode depender de vaga na agenda | 467 | 09.09.2024 | Lucas 6,6-11

Passada a semana da pátria, e enquanto ficamos perplexos e sem reação diante do calor seco e sufocante e das intermináveis e perigosas queimadas, a cena do evangelho de hoje apresenta-nos Jesus desafiando as leis e instituições e colocando a pessoa e suas necessidades acima de tudo. Acima das prioridades desse ou daquele governo, acima do teto ou do arcabouço fiscal, acima dos sacramentos e das diversas normas e orientações da Igreja está a pessoa humana concreta.

Jesus está na sinagoga, em dia de sábado: lugar sagrado, dia sagrado, império absoluto da lei e das tradições. Mas nada disso consegue reabilitar um anônimo homem que sofre com a mão seca. Com essa enfermidade, ele está impedido de agir, de fazer algo bom. A sinagoga, os fariseus e as tradições o ignoram, não podem ou não querem tomar conhecimento da sua marginalização, nem reabilitá-lo. O legalismo, o formalismo e o patriotismo são estéreis!

O homem, embora necessitado de ajuda, não pede nada. É Jesus que toma a iniciativa, chama aquele homem vulnerável para o centro da roda e interpela os líderes religiosos que o espreitam: “O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca?” Eles sabiam que a lei permitia agir em caso de necessidade, mas preferiam calar e permanecer indiferentes. Para Jesus, ser omisso e indiferente já significa fazer o mal!

A ação de Jesus, assim como sua pergunta, é claramente provocatória. Ele não espera qualquer resposta, mas um exame de consciência daqueles que o criticam e condenam. Curando o homem em dia de sábado, Jesus desmonta a sustentação ideológica dos escribas e fariseus, acusa-os de fazer o mal no dia sagrado e mostra a esterilidade das instituições e causas que eles defendem. O que está acima de tudo é o cuidado, a defesa e a promoção da vida, e não as tradições, o cuidado de si, a pátria ou as veneráveis “tradições gaúchas”.

“A vida em primeiro lugar!”, e não a economia, o teto fiscal, o equilíbrio das contas, a louca vontade de um misterioso mercado, que é o nome que damos para encobrir os especuladores. Ser discípulo de Jesus, significa agir como ele, fazer a sua vontade, ser responsável pelo seu Reino, fazer o bem sempre, o máximo bem possível.

 

Meditação:

§  Retome a cena, inserindo-se nela, e observe atentamente o que dizem e o que fazem Jesus, os fariseus e o homem doente

§  Você é capaz de perceber como algumas instituições defendem mais as leis e seus interesses que a dignidade das pessoas?

§  Você percebe que, colocando a pessoa no centro, Jesus desvela a esterilidade do tradicionalismo, do legalismo e do patriotismo?

§  Em que medida você ainda defende, ao menos na prática, a prioridade das leis e costumes sobre as necessidades das pessoas?

sábado, 7 de setembro de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 08.09.2024

SAIR DO ISOLAMENTO

A solidão tornou-se uma das doenças mais graves da nossa sociedade. Os homens constroem pontes e autoestradas para se comunicarem com mais rapidez. Lançam satélites para transmitir todo tipo de ondas entre os continentes. Desenvolvem a telefonia móvel e a comunicação pela Internet. Mas muitas pessoas estão cada vez mais sozinhas.

O contato humano arrefeceu em muitos âmbitos da nossa sociedade. As pessoas já não se sentem responsáveis pelos outros. Cada um vive encerrado no seu mundo. Não é fácil viver a experiência e o dom da verdadeira amizade

Há quem tenha perdido a capacidade de viver um encontro caloroso, cordial e sincero. Não são já capazes de acolher e amar sinceridade ninguém, e não se sentem compreendidos nem amados por ninguém. Relacionam-se todos os dias com muitas pessoas, mas, na realidade, não se encontram com ninguém. Vivem com o coração bloqueado, fechados a Deus e fechados aos outros.

Segundo o relato evangélico, para libertar o surdo da sua doença, Jesus pede a sua colaboração: «Abre-te». Não é este o convite que devemos escutar também hoje para resgatar o nosso coração do isolamento?

Sem dúvida, as causas desta falta de comunicação são muito diversas, mas, com frequência, têm a sua raiz no nosso pecado. Quando agimos de forma egoísta afastamo-nos dos outros, separamo-nos da vida e encerramo-nos em nós mesmos. Querendo defender a nossa própria liberdade e independência, corremos o risco de viver cada vez mais sozinhos.

Sem dúvida é bom aprender novas técnicas de comunicação, mas devemos aprender, antes de mais nada, a nos abrirmos à amizade e ao amor verdadeiro. O egoísmo, a desconfiança e a falta de solidariedade são também hoje o que mais nos separa e isola uns dos outros. Por isso, a conversão ao amor é um caminho indispensável para escapar à solidão. A pessoa que se abre ao amor ao Pai e aos irmãos não está sozinha, pois vive de forma solidária.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez