Nenhuma lei
ou costume pode colocar em risco a sobrevivência humana | 520 | 01.11.2024 | Lucas 14,1-6
Fiel à herança profética, Jesus não
muda sua prática, seu anúncio e o rumo da sua caminhada, mesmo diante da ameaça
de Herodes. Segue intrépido, corajoso e generoso, sem fazer nada para se
proteger. Ele se situa na linha dos profetas, e é o Pai, e não Herodes ou seus
asseclas, quem vai dizer quando e como deve dar sua missão por terminada. Por
enquanto, ele é quem decide, e, como sempre, não toma decisões pensando em sua
própria segurança.
Dito e feito! Em pleno sábado Jesus desrespeita –
de novo! – a lei e, numa refeição na casa de um dos chefes dos fariseus, cura
um homem doente sem que ele tenha sequer pedido. Ignorando o olhar vigilante
dos piedosos e ardilosos judeus, Jesus os provoca a tomar uma posição. Essa é a
questão que atravessa a cena de hoje, cena que inaugura a seção das refeições
simbólicas de Jesus que nos apresenta o evangelista Lucas (cf. Lc 14,1-24).
A pergunta de Jesus é direta: “A lei permite curar
em dia de sábado, ou não?” E os fariseus guardam silêncio. Para Jesus, o reino
de Deus e a defesa da vida se impõem, e não estão condicionados ao tempo e lugar.
A lei inspirada por Deus visa garantir o repouso e assegurar a liberdade e a
dignidade dos seus filhos e filhas de Deus. Se os piedosos judeus descumprem a
lei para salvar um animal, não há razão aceitável para se opor à cura de uma
pessoa necessitada num dia proibido pela lei.
Na verdade, Jesus não nega a legitimidade das leis
e dos ordenamentos religiosos ou civis, mas os coloca em uma nova perspectiva.
Segundo Jesus, o que fazemos sem problemas quando estão em jogo nossos
interesses (evitar o prejuízo com a morte de um animal) devemos fazê-lo, mais
ainda, em benefício dos seres humanos que estão em dificuldades. Nada de
fossilizar ou reduzir a vontade de Deus a princípios e esquemas abstratos,
afastando-os da vida concreta!
Não nos defendamos da interpelação de
Jesus relegando-a ao passado. É permitido ou não aprovar as uniões homoafetivas?
É lícito ou não ocupar latifúndios improdutivos? É possível compartilhar a
eucaristia com cristãos de outras Igrejas? É aceitável defender a admissão de
mulheres ao ministério? É possível “furar” o teto de gastos ou o “arcabouço
fiscal” para atender a população desempregada, doente e sem escola, ou para
amenizar os prejuízos das enchentes ou das queimadas? E as perguntas podem
continuar ainda por muitas linhas...
Meditação:
§ Acompanhe
Jesus à casa do chefe dos fariseus, acompanhe seu olhar voltado ao homem doente
§ Perceba
também o olhar vigilante e reprovador dos fariseus reunidos em torno da mesa e
a indignação de Jesus
§ Será
que, de algum modo, não caímos na tentação de “fossilizar” a vontade de Deus ou
reduzi-la a abstratos esquemas e princípios fios e impessoais?
Nenhum comentário:
Postar um comentário