quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Nenhuma lei ou costume pode colocar em risco a sobrevivência humana

Nenhuma lei ou costume pode colocar em risco a sobrevivência humana | 520 | 01.11.2024 | Lucas 14,1-6

Fiel à herança profética, Jesus não muda sua prática, seu anúncio e o rumo da sua caminhada, mesmo diante da ameaça de Herodes. Segue intrépido, corajoso e generoso, sem fazer nada para se proteger. Ele se situa na linha dos profetas, e é o Pai, e não Herodes ou seus asseclas, quem vai dizer quando e como deve dar sua missão por terminada. Por enquanto, ele é quem decide, e, como sempre, não toma decisões pensando em sua própria segurança.

Dito e feito! Em pleno sábado Jesus desrespeita – de novo! – a lei e, numa refeição na casa de um dos chefes dos fariseus, cura um homem doente sem que ele tenha sequer pedido. Ignorando o olhar vigilante dos piedosos e ardilosos judeus, Jesus os provoca a tomar uma posição. Essa é a questão que atravessa a cena de hoje, cena que inaugura a seção das refeições simbólicas de Jesus que nos apresenta o evangelista Lucas (cf. Lc 14,1-24).

A pergunta de Jesus é direta: “A lei permite curar em dia de sábado, ou não?” E os fariseus guardam silêncio. Para Jesus, o reino de Deus e a defesa da vida se impõem, e não estão condicionados ao tempo e lugar. A lei inspirada por Deus visa garantir o repouso e assegurar a liberdade e a dignidade dos seus filhos e filhas de Deus. Se os piedosos judeus descumprem a lei para salvar um animal, não há razão aceitável para se opor à cura de uma pessoa necessitada num dia proibido pela lei.

Na verdade, Jesus não nega a legitimidade das leis e dos ordenamentos religiosos ou civis, mas os coloca em uma nova perspectiva. Segundo Jesus, o que fazemos sem problemas quando estão em jogo nossos interesses (evitar o prejuízo com a morte de um animal) devemos fazê-lo, mais ainda, em benefício dos seres humanos que estão em dificuldades. Nada de fossilizar ou reduzir a vontade de Deus a princípios e esquemas abstratos, afastando-os da vida concreta!

Não nos defendamos da interpelação de Jesus relegando-a ao passado. É permitido ou não aprovar as uniões homoafetivas? É lícito ou não ocupar latifúndios improdutivos? É possível compartilhar a eucaristia com cristãos de outras Igrejas? É aceitável defender a admissão de mulheres ao ministério? É possível “furar” o teto de gastos ou o “arcabouço fiscal” para atender a população desempregada, doente e sem escola, ou para amenizar os prejuízos das enchentes ou das queimadas? E as perguntas podem continuar ainda por muitas linhas...

 

Meditação:

§  Acompanhe Jesus à casa do chefe dos fariseus, acompanhe seu olhar voltado ao homem doente

§  Perceba também o olhar vigilante e reprovador dos fariseus reunidos em torno da mesa e a indignação de Jesus

§  Será que, de algum modo, não caímos na tentação de “fossilizar” a vontade de Deus ou reduzi-la a abstratos esquemas e princípios fios e impessoais?

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