sábado, 13 de setembro de 2025

O pai e seus dois filhos

O OUTRO FILHO

Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do bom pai, erradamente chamada parábola do filho pródigo. É precisamente este filho mais novo que quase sempre atraiu a atenção de comentadores e pregadores. O seu regresso ao lar e a incrível recepção de seu pai comoveram todas as gerações cristãs.

No entanto, a parábola também fala do filho mais velho, um homem que permanece com o pai sem imitar a vida desordenada do seu irmão fora de casa. Quando o informam da festa organizada pelo seu pai para acolher o filho perdido, fica surpreendido. O regresso do irmão não lhe traz alegria, como ao seu pai, mas raiva: Indigna-se e recusa-se a entrar na festa. Nunca saiu de casa, mas agora sente-se um estranho entre os seus.

O pai sai para convidá-lo com o mesmo carinho com que acolheu o irmão. Não lhe grita nem lhe dá ordens. Com humilde amor, tenta persuadi-lo a entrar na festa de boas-vindas. É então que o filho explode, expondo todo o seu ressentimento. Passou toda a vida a seguir as ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele ama. Só sabe exigir os seus direitos e denegrir o seu irmão.

Esta é a tragédia do filho mais velho. Nunca saiu de casa, mas o seu coração sempre esteve longe. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entende o amor de seu pai por aquele filho perdido. Ele não acolhe nem perdoa, não quer saber nada do seu irmão. Jesus conclui a sua parábola sem satisfazer a nossa curiosidade: entrou na festa ou ficou de fora?

Envoltos na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e não crentes, praticantes e afastados, casamentos abençoados pela Igreja e casais em situação irregular... Enquanto continuamos a classificar os seus filhos e filhas, Deus continua a esperar por todos nós, pois não é propriedade só dos bons nem apenas dos praticantes. É Pai de todos.

O filho mais velho interpela aqueles de nós que acreditam viver com ele. O que estão fazendo aqueles de nós que não deixaram a Igreja? Assegurar a nossa sobrevivência religiosa, observando o melhor possível o que está prescrito ou ser testemunhas do grande amor de Deus por todos os seus filhos e filhas?

Estamos construindo comunidades abertas que saibam compreender, acolher e acompanhar aqueles que procuram Deus em meio a dúvidas e interrogações? Erguemos barreiras ou construímos pontes? Oferecemos-lhes amizade ou olhamos para eles com receio?

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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