O que nos afasta de Deus é a falta de misericórdia
840 | 18 de setembro de 2025 | Lucas 7,36-50
No
final da parábola que antecede o texto de hoje Jesus sentenciava: “A sabedoria
foi justificada por todos os seus filhos”. Os filhos e filhas da sabedoria são
as pessoas que entendem e seguem Jesus, os pobres e pecadores, e não os mestres
da lei ou os fariseus. Isso é reforçado no episódio de hoje.
Estamos diante de uma
obra-prima da arte narrativa que usa de forma exuberante tons de simpatia e
delicadeza. O fariseu Simão recebe Jesus em sua própria casa, e está cercado de
gente do seu círculo de amizade, num clima de cumplicidade e confraternização.
Mas eis que aparece do nada uma visita embaraçante, que se dirige a Jesus com um
gesto profundamente desconcertante.
Uma mulher conhecida
como pecadora (não quer dizer que o seja de fato!) entra na sala, se coloca
atrás de Jesus chorando, lava os pés dele com suas lágrimas, enxuga-os com seus
próprios cabelos, beija-os e unge-os com perfume. Jesus aparentemente não faz
caso disso, e até aprova o gesto da mulher. Ele entende o sentido do gesto, mas
Simão abre a boca contra Jesus, mesmo sem pronunciar palavras. Ele se pergunta
que tipo de profeta é Jesus se aceita coisas desse tipo.
O mais surpreendente e
eloquente da cena é que Jesus não se preocupa com a situação da mulher, mas com
a atitude preconceituosa e excludente de Simão e seus colegas. Enquanto os
fariseus e doutores da lei consideram o gesto da mulher inoportuno e ambíguo,
para não dizer condenável, Jesus o vê positivamente, como reconhecimento da
misericórdia que Deus vem manifestando nas suas ações. Este da mulher é um
gesto de amor agradecido. Ela diz tudo sem palavras.
O pensamento crítico de
Simão é próprio de quem esquece ou esconde que é pecador, e revela que seu
conceito de profecia não é correto. Para Jesus, o gesto da mulher não tem nada
de ambíguo, e, mediante a parábola dos dois devedores perdoados, afirma que
quem está em pecado e não foi perdoado é o próprio fariseu e aqueles que pensam
e agem como ele: são mais preconceituosos que religiosos.
Simão não reconhece sua condição de pecador e, com isso, se fecha
ao perdão e à gratidão. E a mulher, porque perdoada, expressa sua confiança e
gratidão a Jesus. O modelo a ser imitado não é o fariseu, mas a mulher
pecadora. É ela que vive uma fé que tem força libertadora e regeneradora. E
nós, com quem nos parecemos?
Sugestões para a
meditação
§ Retome, em
todos os delicados detalhes e nuances, a cena que se desenvolve na casa do
fariseu Simão
§ Visualize as
reações dos diferentes sujeitos, entre na parábola de Jesus, e deixe-se ensinar
por seu gesto e sua palavra
§ Você se reconhece
serenamente como pecador perdoado, como profundamente amado por Deus, se
relaciona com as pessoas sem preconceitos, e é capaz de mostrar gratidão?
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