Jesus assume a condição
humana e se faz nosso irmão
A passagem do
Evangelho sugerida para a Festa da
Apresentação do Senhor (Lc 2,22-40)reúne uma série de episódios
interligados: apresentação de Jesus no templo (v. 22-25); encontro com Simeão e
sua profecia sobre o Menino (v. 2535); encontro com a profetiza Ana (v. 3638);
retorno a Nazaré e o crescimento normal e anônimo de Jesus (v. 3940). As três
primeiras cenas se desenrolam no templo, centro espiritual e cultural do
judaísmo. A última é uma espécie de contraponto teológico ao templo, e se
desenrola em Nazaré, na região da Galiléia.
A primeira
cena mostra a apresentação de Jesus ao templo. As leis judaicas obrigavam os
pais a consagrar a Deus o filho primogênito. Para recuperar o direito sobre os
filhos devidos a Deus, eles precisavam resgatá-los mediante uma oferta. Lucas
não menciona a oferta pelo resgate de Jesus (como se ele continuasse para
sempre consagrado a Deus!), mas somente a oferta prescrita para a purificação
de uma mãe pobre. "Se ela não tem meios para comprar um cordeiro, pegue
duas rolas ou dois pombinhos: um para o holocausto e outro para o sacrifício
pelo pecado" (Lv 12,8).
A segunda
cena apresenta o encontro de Josée Maria com Simeão, homem piedoso e devoto que
cultiva a esperança da vinda do Messias. Não é sacerdote e nem vive no templo;
é um homem justo, como José e, como os pastores, capaz de reconhecer o
MessiasServo na fragilidade do menino que acolhe nos braços. Simeão credita
que no Messias todos os povos são acolhidos e salvos por Deus. E reconhece e apresenta o menino Jesus como luz para todas as nações e povos.
O pai e a
mãe de Jesus ficam maravilhados com o que Simeão diz do menino. É a reação própria
de quem acolhe com gratidão a ação libertadora de Deus na história mediante os
pobres e humildes. E o esse estupor tem dois motivos: o primeiro é o fato de
Simeão reconhecer Jesus como Messias, mesmo sem ter recebido nenhuma informação
a respeito; o segundo são as palavras de Simeão anunciando o caráter e a missão
universal de Jesus. José e Maria, discípulos e aprendizes...
Simeão
invoca sobre José e Maria a bênção de Deus e lhes fala das contradições que o
filho provocaria, da sua missão de revelar aquilo que está escondido no
silêncio malicioso dos homens. Fala também sobre o destino do filho e prevê os
sofrimentos de Maria, parábola dos sofrimentos da Igreja. Quem partilha o
projeto e a vida de Jesus deve partilhar também da contradição que ele provoca,
da sua rejeição e do seu fracasso. Estar com ele significa sofrer com ele.
Uma segunda
pessoa que dá testemunho de Jesus no templo é Ana. Além de piedosa, Ana é
conhecida como intérprete dos desígnios de Deus. Ela se aproxima de Jesus e
seus pais, como os pastores e Simeão haviam feito antes. Também ela acolhe e
entende o sinal, e anuncia aos quatro ventos a salvação que em Jesus se
manifesta. Ana louva a Deus pelo que lhe fora dado presenciar e anuncia o
Messias presente no menino a todos aqueles que o esperam teimosamente.
Os dois
últimos versículos da perícope são uma espécie de contraponto ao entusiasmo despertado
no pequeno círculo das pessoas reunidas no templo. A volta a Nazaré é uma
descida da exaltação no templo para o anonimato em Nazaré. É nesta suspeita
vila da Gasliléia que o menino cresce e fica forte, cheio de sabedoria. Uma
sabedoria adquirida longe do templo, participando na vida cotidiana do povo.
Se, no templo, Jesus é apresentado a Deus e brilha, em Nazaré ele é apresentado
ao povo de Deus, respira suas legítimas tradições e nelas lança profundas raízes!
A Carta aos
Hebreus vai na mesma linha. Jesus assume a condição comum a todos os homens e
mulheres, faz-se em tudo semelhante a nós, é uma espécie de encarnação de uma
misericórdia que merece confiança e que nos liberta do medo escravizador. Por
ter experimentado o sofrimento e a tentação, Jesus é capaz de socorrer aqueles
que sofrem e são tentados pelo desânimo. Apresentado a Deus no templo, Jesus é por
ele devolvido à humanidade como irmão solidário e salvador.
Jesus de Nazaré, filho amado de
Maria e de José, anjo da Aliança e em tudo semelhante a nós! Bendito sejas por
tua divina raiz e pela tua proximidade redentora! Tua presença confirma nossos
sonhos e descobre nossas ambiguidades! Que tua Presença e tua Palavra sejam
força a nos reerguer e, através de nós e da comunidade que nasce do teu lado
aberto, luz e liberdade para todos os povos! E que os homens e mulheres que a
ti se consagram te louvem e anunciem com a vida! Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf