terça-feira, 15 de janeiro de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | SEGUNDO DOMINGO| 20.01.2019


Jesus espera de nós mais que práticas piedosas e respeito às leis!
Depois do batismo, Jesus não saiu de férias. O batismo marcou o amadurecimento da sua consciência messiânica e o início da missão de libertar as pessoas e povos oprimidos. Então, Jesus deixou a Judéia e voltou para a sua região periférica e, em Caná, na Galileia, realizou aquele que, segundo o evangelista João, foi o primeiro sinal da chegada do Reino de Deus: a transformação da carência em abundância, da tristeza em festa, da água em vinho bom e abundante. Jesus mostra que Deus se importa com as necessidades do seu povo e faz com ele uma aliança definitiva, e o vinho expressa a alegria dos novos tempos que se iniciam.
É mais que tempo de perceber e de dizer com clareza e coragem que o modelo de vida propagandeado pelo capitalismo ocidental fracassou, que o vinho acabou no meio da festa, que as talhas de pedra estão frias, pesadas e vazias. Precisamos buscar novos caminhos, inventar novas regras, sonhar novos mundos. É necessário também superar a tentação de buscar a saída para trás, de ressuscitar tradicionalismos e autoritarismos mortos e embalsamados. Até o novo governo do Brasil parece definhar enquanto debuta. É tempo de abrir os ouvidos às vozes que há tempo vêm denunciando: ‘Eles não têm mais vinho...’
A saída não é fazer aquilo que o mercado está ditando ou aquilo que a cultura ocidental ensina há séculos. Não basta obedecer às vozes que mandam ‘faça alguma coisa!’ ou anunciam genericamente mudar “tudo isso daí”. Não basta manter a receita que produziu a tragédia. Por mais atraentes que sejam, as propostas que pedem armas e austeridade não trazem a marca do Reino! É preciso descobrir a orientação correta e fazer a coisa certa. E aqui entra de novo aquela lucidez que só o feminino resistente e ousado consegue preservar: ‘Façam o que Ele mandar!’ Eis a indicação: acolher a Palavra e seguir o caminho aberto por Jesus.
E Ele começa pedindo que mudemos o rumo e o conteúdo da nossa vida. As talhas velhas e pesadas não têm mais o que fazer com a purificação, até porque Deus não está interessado nestes ritos. Entre Deus e seus filhos e filhas não existe um muro alto e sólido, construído com blocos de leis e prescrições, ou com aço, como quer o ‘imperador do norte’. Deus ama, é essencialmente misericórdia, e nada pode aproximar-nos dele a não ser a prática do amor e da misericórdia. E para evitar sobrecargas inúteis, ele mesmo toma a iniciativa e nos assume como parceiros numa aliança indestrutível. E pede que façamos algo.
Como a Nicodemos, Jesus nos diz que precisamos nascer de novo, e isso supõe desaprender. Como à mulher samaritana, ele nos pede adoração em espírito e verdade, e isso significa derrubar os muros que separam povos e religiões. Como ao jovem André, ele pede que partilhemos os pães e peixes, para que as multidões tenham o alimento que necessitam e a dignidade inviolável. Aos canonistas e legalistas ele pede que acolham os pecadores e só atirem pedras quando e se eles mesmos não tiverem pecado. A todos ele ordena: ‘Amem-se uns aos outros como eu amei vocês.’ Nisso não há sequer sombra de meritocracia ou de “legítima defesa”.
Aderir a Jesus Cristo é entrar num caminho de permanente transformação. É verdade que existem pessoas – e até líderes religiosos – que, mesmo tendo provado a qualidade do vinho novo, não se dão conta da sua origem, e simplesmente continuam a cínica festa de uns poucos. Não percebem que a lei divide e exclui, que a aliança com os poderes é estéril e caduca, que a repetição de práticas de piedade não é suficiente, que mudar o rótulo e embelezar o pacote não muda o conteúdo da fé. Pobres mestres-salas, que estranham a transformação da água em vinho mas decidem que tudo deve continuar como antes.
Na Carta aos Coríntios, Paulo nos convida a celebrar a novidade e a diversidade desde sempre desejadas por Deus: diversidade de dons e serviços, de pessoas e funções, de Igrejas e culturas... Essa diversidade faz parte dos tempos da abundância, inaugurados por Jesus Cristo no casamento de Caná e expandidos pelo Espírito Santo. As capacidades são diferentes, mas o Espírito é o mesmo. Os serviços são diversos, mas o Senhor é o mesmo. As ações são múltiplas, mas o sujeito da atividade é sempre o mesmo Deus. O que ninguém pode esquecer é que todos somos chamados trabalhar para que a ninguém falte o vinho...
Jesus de Nazaré, conviva atento na festa de Caná, presença desejada em todas as festas da vida! Ajuda-nos a perceber a diferença entre as práticas de quem escuta tua Palavra e segue teus passos e a postura daqueles que continuam apostando nas leis e sistemas que discriminam. Dá-nos sabedoria para reconhecer os diferentes dons e iniciativas que procedem do mesmo espírito. E ajuda nossas comunidades a aprenderem de Maria a fazer tudo aquilo que Jesus pede, e não apenas o que as agrada ou convém. Assim seja! Amém!
                                                                                                    Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 62,1-5 | Salmo 95 (96)
1ª. Carta de paulo aos Coríntios 12,4-11| Evangelho de São João 2,1-11

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