quinta-feira, 25 de julho de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | DÉCIMO-SÉTIMO DOMINGO | 28.07.2019


A oração alarga a visão e a ajuda a perseverar na caminhada.
A catequese de Jesus sobre a oração está inserida no contexto da sua caminhada para Jerusalém, onde se daria o confronto decisivo entre seu projeto de vida e os poderes oficiais do judaísmo e do império romano. Depois de relatar o ensino de Jesus sobre a necessidade de fazer-se próximo de quem está em situação de vulnerabilidade e nos apresentar sua lição na casa de Marta e de Maria, o evangelista Lucas começa dizendo que “um dia, Jesus estava orando num certo lugar”. O escritor sagrado prefere ser genérico, e não oferece maiores detalhes sobre o conteúdo e a forma dessa oração.
Entretanto, pelo contexto geral podemos deduzir que a oração de Jesus está claramente a serviço da fidelidade à sua decisão de construir o Reino de Deus mediante o serviço profético em favor dos últimos e do enfrentamento das forças que se lhe opõem. Pelo que deixam entender os evangelhos, nos momentos de oração Jesus vislumbra e recoloca diante de si o horizonte maior do Reino de Deus, e, assim, confirma seus passos nesta direção. Mas Jesus não parece preocupado em pedir que os discípulos rezem: ele simplesmente se retira em oração para confirmar sua identidade e renovar sua responsabilidade.
Observando a atitude de Jesus em oração, os próprios discípulos pedem que ele lhes ensine a rezar. Eles conhecem os ritos e fórmulas de oração ensinados por João Batista e por outros líderes religiosos, e parece que desejam que Jesus inicie eles nos ritos e práticas definidas e rígidas de oração. Estariam eles ansiando por práticas espirituais que os dispensem das exigências da conversão ao Reino, do despojamento e do dom de si mesmos? Longe de induzir à passividade e a uma visão mágica da vida, a oração ensinada por Jesus nos ajuda a potencializar os recursos de que dispomos para construir a vida e transformar a história.
A oração, especialmente a súplica, supõe, expressa e cultiva a consciência de que nos falta algo importante. Quem dispõe de todos os poderes e recursos não precisa pedir nada nem agradecer a ninguém. E quem está absolutamente satisfeito com o presente não espera nada para a futuro, a não ser um prolongamento repetitivo do presente.  Na oração que pede está embutido também o senso de urgência e de responsabilidade pessoal e comunitária diante dos dramas e necessidades do mundo. A oração que Jesus ensina supõe esta consciência diante da grandeza e da urgência da missão.
A primeira frase da oração ensinada por Jesus fala de santificar o nome de Deus, e isso significa esperar, reconhecer e promover ação libertadora de Deus na história. Na tradição profética, Deus é santificado quando liberta os oprimidos, perdoa os pecadores, sacia os famintos, repatria os exilados, garante um abrigo aos deserdados. “Teu nome é santificado quando a justiça é nossa medida”, cantamos hoje. Por outro lado, Jesus ensina que Deus é um pai bom, a quem podemos dirigir-nos com confiança, e até a insistir naquilo que necessitamos para fazer o bem. A atitude de Abraão e a parábola apresentada por Lucas o confirmam.
A oração funciona também como uma espécie de pedagogia que suscita e alimenta o ardente desejo do Reino de Deus. “Venha o teu Reino!” Isso significa que a oração cristã nos insere nos processos de transformação que estão em curso na história, mas que não se realizam por si mesmos. Esta súplica profunda e envolvente nos ajuda a evitar duas atitudes pouco cristãs: a conformidade resignada com o mundo do jeito que ele está; a preocupação escapista com uma indefinida vida depois da morte. Antes, a oração ensinada por Jesus estimula o ardente desejo do pão farto e gostoso em todas as mesas, todos os dias.
A oração cristã é uma ação essencialmente comunitária, e está enraizada no presente histórico e voltada ao futuro. E isso está patente na segunda parte da oração que Jesus nos ensinou: os pedidos estão na segunda pessoa do plural e são expressão da voz de uma comunidade. Mesmo quando oração é feita individualmente, sempre supõe uma comunhão real, profunda e visceral, não apenas com os cristãos da comunidade ou mesmo com a Igreja, mas com a humanidade e a criação inteira. É disso que fala o pedido do ‘pão nosso de cada dia’ e do perdão das nossas ofensas na medida do perdão que concedemos a quem nos ofendeu.
Jesus de Nazaré, irmão e amigo da humanidade e mestre na arte de rezar: ajuda-nos a pedir o que realmente necessitamos para continuar teu caminho. Tu sublinhas a importância de pedir com confiança e insistência. Mas qual é o pedido que o teu e nosso Pai não deixa sem resposta? Ajuda-nos a pedir mais que alimento e saúde, sucesso ou boa morte. Dá-nos o teu Espírito, sem o qual não há discipulado, profecia, liberdade e vida verdadeiras. Envia-nos teu Espírito, Senhor, e isso nos basta! Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf

Livro do Gênesis 18,20-32 | Salmo 137 (138)
Carta de Paulo aos Colossenses 2,12-14| Evangelho de São Lucas 11,1-13

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