quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

ANO A | TEMPO DE NATAL | SOLENIDADE DA EPIFANIA – 05.01.2020


Proclamemos com alegria a igualdade de todos diante de Deus!
Com os anônimos pagãos que vieram do oriente, aproximemo-nos da gruta-estábulo de Belém para acolher e reconhecer o rei-servo que nos emancipa e nos faz livres que nos leva para fora do estreito círculo dos interesses mesquinhos e dos medos nem sempre disfarçados e nos conduz ao melhor de nós mesmos. Contemplemos a glória de Deus que brilha nas suas criaturas e deixemos aos pés do Deus Menino nossos melhores dons: o desejo de uma humanidade tecida de infinitos gestos de aproximação e de solidariedade.
Homens de outros pagos e diferentes crenças, os magos chegam a Jerusalém guiados por um sinal que brilha no firmamento. Mateus nos diz que eles batem às portas dos líderes políticos e religiosos acomodados em Jerusalém e pedem ajuda para decifrar os sinais e descobrir o caminho. Os escribas mostram saber, mas são incapazes de se mover. Herodes fica sabendo das coisas e morre de medo de perder o poder. Os magos aprendem e ensinam que Aquele que merece honra e reverência não está nos palácios, nem nas capitais.
Belém está entre as cidades mais insignificantes de Judá. Somente a teimosia e a fé dos pobres podem esperar algo de um lugar tão obscuro. Mas é em direção a Belém que o trio de sábios orientais segue, e é lá que eles encontram a inocente alegria com feições de um Menino, deitado numa manjedoura, sob o olhar cuidadoso de uma mãe. Como estes estrangeiros suspeitos, somos chamados a redescobrir nossa fé original em lugares que se distanciam do terrível vírus do poder que limita a dignidade e a soberania do povo.
Aquilo que suscita alegria nos magos provoca medo em Herodes. Aquele que motiva a viagem dos sábios coloca em alerta a capital de um país dominado e sua classe dirigente. Mas nada desencoraja os peregrinos da fé: nem a indiferença dos líderes religiosos, nem o medo do rei submisso ao império, nem o paradoxo da estrebaria. Eles compreenderam que a estrebaria era a morada mais adequada para Aquele que viria para abater os poderosos e elevar os humildes, fazer com que os últimos sejam os primeiros.
Herodes aconselhara os magos que fossem a Belém e voltassem trazendo-lhe preciosas informações. Mas eles caminhavam levando presentes, e não mapas e medos. A estrela foi um sinal transitório, pois o sinal de que a humanidade tem um novo líder é o “Menino deitado na manjedoura”. Os magos reconhecem a realeza de Jesus Menino e lhe oferecem ouro. Proclamam sua divindade oferecendo-lhe incenso. Mas também prenunciam sua morte, que seria desde cedo tramada nos corredores dos palácios, oferecendo-lhe mirra.
Este é o núcleo da fé que professamos: um Deus que se sente bem assumindo a carne humana e que, por amor, não recusa a cruz. Como é possível que tenhamos nos afastado tão perigosamente disso? Como entender que as igrejas tenham transformado a estrebaria em palácios, os peregrinos estrangeiros em reis que barram migrantes, os pastores em imperadores? Como é possível que tenhamos esterilizado uma fé tão revolucionária, reduzindo-a a uma espécie de analgésico para as dores de uma má consciência?
Herodes parece querer ocupar o lugar de Deus ao enviar os magos a Belém. Encomenda informações precisas para montar sua estratégia e eliminar violentamente qualquer sombra de oposição ou concorrência. Deus jamais pede coisa semelhante aos que ele envia. O Deus dos cristãos liberta o indigente que suplica e o pobre que ninguém quer ajudar. Ele tem compaixão do miserável e do infeliz e salva a vida dos humildes (cf. Sl 71,12-13). É essa a lição de Belém, a Boa Nova que José, Maria, os pastores e os magos nos ensinam.
Paulo nos fala de um mistério finalmente a ele revelado: a notícia alvissareira de que todos os povos e religiões participam da mesma herança do Reino de Deus e são membros do corpo de Cristo em igual dignidade com os judeus. Com isso, Paulo anula invalida toda e qualquer pretensão superioridade religiosa, derruba todos os muros que separam e hierarquizam, e, assim, acaba atraindo também a raiva de muitos compatriotas. Na raiz da fé cristã está esta alegre descoberta da igualdade de todos diante de Deus.
É a ti que dirigimos nosso olhar, Deus dos humildes, Deus envolto em fraldas, destino e refúgio de todos os que peregrinam. Dá-nos palavras e sinais que guiem nossos passos inseguros. Não deixes que tua Igreja se detenha nos palácios, pois eles escondem prisões, e as “pessoas de bem” costuma viver fora deles. Ajuda-nos a reconhecer tua presença na Belém de todos os homens e mulheres, e a ver as diversas religiões como diferentes e legítimos caminhos que conduzem ao encontro contigo. Assim seja! Amém!
 Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 60,1-6 | Salmo 71 (72)
Carta de Paulo aos Efésios 3,2-6| Evangelho de São Mateus 2,1-12

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