quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 12.01.2020


EXPERIÊNCIA PESSOAL

Para Jesus, o encontro com João Batista foi uma experiência que mudou a sua vida. Após o batismo no Jordão, Jesus já não retorna ao trabalho em Nazaré; nem adere ao movimento do Baptista. A Sua vida centra-se agora num único objetivo: gritar a todos a Boa Nova de um Deus que deseja salvar o ser humano.
Mas o que transforma a trajetória de Jesus não são as palavras que escuta dos lábios do Baptista, nem o rito purificador do batismo. Jesus vive algo mais profundo. Sente-se inundado pelo Espírito do Pai. Reconhece-se a Si mesmo, como Filho de Deus. Doravante, Sua vida consistirá em irradiar e contagiar o amor insondável de um Deus Pai.
Esta experiência de Jesus tem um significado também para nós. A fé é um itinerário pessoal que cada um de nós deve percorrer. É muito importante, sem dúvida, o que ouvimos desde crianças aos nossos pais e educadores. É importante o que ouvimos de padres e pregadores. Mas, no final, devemos sempre fazer uma pergunta: Em quem acredito eu? Acredito em Deus ou acredito naqueles que me falam sobre ele?
Não podemos esquecer que a fé é sempre uma experiência pessoal que não pode ser substituída pela obediência cega ao que os outros nos dizem. Do lado de fora, podem orientar-nos para a fé, mas somos nós mesmos que devemos abrir-nos a Deus com confiança.
Por isso, a fé não consiste também em aceitar, sem mais, um determinado conjunto de fórmulas. Ser crente não depende primariamente do conteúdo doutrinário que se recolhe num catecismo. Tudo isso é muito importante, sem dúvida, para configurar a nossa visão cristã da existência. Mas antes disso e dando sentido a tudo isso, está esse dinamismo interior que, a partir de dentro, nos leva a amar, confiar e esperar sempre no Deus revelado em Jesus Cristo.
A fé também não é um capital que recebemos no batismo e do qual podemos então dispor tranquilamente. Não é algo adquirido em propriedade para sempre. Ser crente é viver permanentemente escutando o Deus encarnado em Jesus, aprendendo a viver dia a dia de forma mais plena e libertada.
Esta fé não está feita apenas de certezas. Ao longo da vida, o crente vive muitas vezes na escuridão. Como o grande teólogo Romano Guardini: “A fé consiste em ter luz suficiente para suportar as trevas”. A fé é feita, acima de tudo, de fidelidade. O verdadeiro crente sabe como acreditar durante as trevas, no que viu nos momentos de luz. Sempre continua a procurar esse Deus que está além de todas as nossas fórmulas claras ou escuras. Para Henri de Lubac, «as ideias que fazemos de Deus são como as ondas do mar, sobre as quais o nadador se apoia para as superar». O decisivo é a fidelidade a Deus que se manifesta a nós no Seu Filho Jesus Cristo.
José Antonio Pagola.
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez.

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