sábado, 14 de janeiro de 2012

A paz não é possível sem o respeito à dignidade das pessoas e dos povos.

A 45ª. Jornada Universal pela Paz passou (me pergunto se, em muitos espaços eclesiais, não passou em branco). Mas o desafio de educar os jovens nos caminhos da justiça e da paz continua. Este é o núcleo da mensagem que Bento XVI dirigiu às comunidades cristãs e a todas as pessoas de boa vontade por ocasião da celebração da referida Jornada.

Neste mesmo blog já tive oportunidade de apresentar um resumo desta mensagem, como você pode conferir (“Educar os jovens para a justiça e a paz”). Hoje volto à questão, estimulado por uma reflexão que fizemos no grupo de Promotores de Justiça, Paz e Integridade da Criação (PJPIC), na última quinta-feira, e pela convicção de que este desafio não pode ficar circunscrito apenas a uma jornada.
Se é verdade que o Evangelho é transmitido de geração em geração, especialmente mediante a ação e o testemunho dos pais, o mesmo podemos afirmar da desigualdade e da intolerância: elas são transmitidas de pai para filho. Por isso, necessário afirmar sempre de novo, como elemento essencial da fé em Jesus Cristo, a necessidade de uma ordem social mais justa e solidária.

Mas a educação dos jovens para a justiça e a paz supõe algumas condições, entre as quais: escutá-los e valorizá-los; atuar mais com eles que para eles; possuir vontade e inteligência para superar um projeto educacional medíocre, que se resume à informação e à formação técnica; guiá-los na aquisição de uma competência profissional, cultural e ética; criar uma aliança pedagógica capaz de articular as diversas instituições que atuam na formação da juventude; alargar nossa consciência do âmbito privado e local para as questões internacionais; manter o olhar sempre fixo nos grupos humanos excluídos e oprimidos.

A educação das novas gerações para a justiça e a paz só é viável se for desenvolvida concomitantemente na justiça e na paz, ou seja: num ambiente familiar, escolar e eclesial no qual a justiça e a paz sejam traduzidas em relações cotidianas. Como é possível educar os jovens nos valores da equidade e da justiça quando, no próprio ventre da Igreja, as mulheres são excluídas dos processos de decisão, de governo e de ação ministerial, e quando os/as leigos/as são tutelados/as e tratados/as como simples receptores/as de ordens e doutrinas?

Sabemos que uma autêntica educação não pode fazer menos da verdade sobre a pessoa humana , sobre a Igreja, sobre o mistério de Deus e sobre o mundo. Mas degenera em manipulação e falsidade um processo pedagógico que omite as contradições da vida eclesial, que reduz a identidade sexual da pessoa ao seu aspecto biológico, que trata as diversas religiões como idolátricas ou concorrentes, que ignora que o Espírito de Deus se antecipa à Igreja e fecunda os movimentos sociais que propugnam pelo bom viver.

O ano 2011 mostrou ao mundo, e também às religiões que boa parte da juventude está à frente das instituições e das outras gerações no que se refere à luta por um outro mundo. Em grande parte foi graças aos jovens que assistimos jubilosos à queda de vários regimes ditatoriais no norte do continente africano. Mas os7as jovens são também os protagonistas e as primeiras vítimas de uma luta ampla e continuada na Síria, cujo governo genocida continua sendo cinicamente apoiado pelo ocidente,  e contra a ditadura implacável do sistema financeiro, em várias partes do mundo. Isso significa que todos/as estamos sendo educados/as pelos próprios jovens nos caminhos da justiça, interpelados/as por eles/as a abrir os olhos às questões urgentes e planetárias.

Permanece o desafio de continuar refletindo sobre os processos formativos que desenvolvemos em nossas casas de formação, comunidades eclesiais, escolas e universidades. Como podemos efetivamente educar os/as jovens para e na justiça, paz e respeito à diversidade? Certamente, não será fechando os olhos à rapina que o sistema financeiro vem praticando sobre os povos e nações, nem ignorando o grito – mesmo que desarticulado e sem rumo definido – dos/as jovens indignados/as. E o que dizer da tentação de optar comodamente pelos/as jovens bem comportados/as e piedosos/as dos movimentos espiritualistas?
Itacir msf

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